O Papa Francisco recebeu em audiência, nesta segunda-feira (25/02), na Sala Clementina, no Vaticano, os participantes da assembleia plenária da Pontifícia Academia para a Vida que celebra seus vinte e cinco anos de fundação.
O Pontífice frisou que por ocasião do aniversário, enviou ao presidente do organismo vaticano, dom Vincenzo Paglia, no mês passado, a Carta Humana communitas que recorda explicitamente o tema das “tecnologias emergentes e convergentes”.
“O que me motivou a escrever essa mensagem foi o desejo de agradecer todos os presidentes que assumiram a liderança da Academia e todos os membros pelo serviço competente e pelo compromisso generoso de tutelar e promover a vida humana nesses vinte e cinco anos de atividades.”
Intensificação de conflitos e um aumento das desigualdades
“Conhecemos as dificuldades em que o nosso mundo se debate. O tecido das relações familiares e sociais parece se desgastar cada vez mais e se difunde a tendência do fechar-se em si mesmo e nos próprios interesses individuais, com graves consequências sobre a «grande e decisiva questão da unidade da família humana e seu futuro»”, disse Francisco, citando um trecho da Carta Humana communitas.
O Papa chamou a atenção para um paradoxo dramático: “Justamente quando a humanidade possui capacidades científicas e técnicas para alcançar um bem-estar equitativamente difundido, observamos uma intensificação de conflitos e um aumento das desigualdades.”
“O desenvolvimento tecnológico nos permitiu resolver problemas até poucos anos insuperáveis. O “poder fazer” pode obscurecer quem faz e para quem se faz. O sistema tecnocrático baseado no critério da eficiência não responde às questões mais profundas que o homem se faz. Se de um lado não é possível dispensar seus recursos, de outro ele impõe a sua lógica a quem o utiliza.”
A técnica é característica do ser humano
“No entanto, a técnica é característica do ser humano”, ressaltou o Papa, e “não deve ser entendida como uma força que lhe é estranha e hostil, mas como um produto de seu talento, que garante as exigências do viver para si e para os outros. É uma modalidade especificamente humana de habitar o mundo.”
“No entanto, a evolução atual da capacidade técnica produz um encanto perigoso: em vez de entregar à vida humana os instrumentos que melhoram a sua cura, corre-se o risco de entregar a vida à lógica de mecanismos que decidem seu valor. Essa inversão está destinada a produzir resultados nefastos: a máquina não se limita a dirigir-se sozinha, mas acaba guiando o homem. A razão humana é assim reduzida a uma racionalidade alienada dos efeitos, que não pode ser considerada digna do homem.”
Técnica a serviço da humanidade
O Papa enfatizou “os sérios danos causados ao planeta, nossa casa comum, pelo uso indiscriminado de meios técnicos”, destacando que “a bioética global é uma frente importante na qual trabalhar”.
“Ela expressa a consciência da profunda incidência dos fatores ambientais e sociais sobre a saúde e a vida. Tal abordagem está em sintonia com a ecologia integral, descrita e promovida na Encíclica Laudato si’”, sublinhou.
“A inteligência artificial, robótica e outras inovações tecnológicas devem ser usadas a fim de contribuir para o serviço da humanidade e para a proteção de nossa Casa comum, e não para o exato oposto, como infelizmente, preveem algumas estimativas. A dignidade inerente de todo ser humano deve estar firmemente colocada no centro de nossa reflexão e ação.”
Aliança ética em favor da vida humana
Francisco sublinhou que “é real o risco de o homem ser tecnologizado, em vez de a técnica ser humanizada”. “São atribuídas às “máquinas inteligentes” capacidades que são propriamente humanas”, ressaltou.
Segundo o Papa, o “nosso compromisso, intelectual e especialista, será um ponto de honra para nossa participação na aliança ética em favor da vida humana”.
“Um projeto que agora, num contexto em que mecanismos tecnológicos cada vez mais sofisticados envolvem diretamente as qualidades humanas do corpo e da psique, torna-se urgente partilhar com todos os homens e mulheres comprometidos com a pesquisa científica e com o trabalho de cura. É uma tarefa difícil, certamente, dado o ritmo acelerado da inovação.”
Francisco concluiu, incentivando a todos a “prosseguir no estudo e na pesquisa a fim de que a obra de promoção e defesa da vida seja cada vez mais eficaz e fecunda”.