O bandolim de Nossa Senhora da Penha

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Moacir Beggo

Todos os dias, chova ou faça sol, o sr.Theodoro já está não montanha da Penha para participar da primeira Missa, às 6 horas, como Ministro da Eucaristia ou como músico nas ocasiões solenes. Esse ritual se repete há mais de uma década e, agora também na Festa da Penha, ele ajuda embelezar o Oitavário com o som do bandolim na orquestra e Coral do Convento.

Bem próximo de completar 85 anos, Theodoro Effgen esquece que suas pernas o incomodam, esquece as dores na coluna e que superou o câncer em duas cirurgias, tudo para estar próximo de Nossa Senhora da Penha. “Eu me coloquei nas mãos de Nossa Senhora e ela está me mantendo até hoje”, confessa esse simpático músico, querido por todos da equipe, especialmente por Frei Floriano Mariano Toledo, o frade animador do Oitavário.

 Natural de Guarapari, Theodoro é de família alemã e se casou com a italianinha Belinha, ou Josefina Maria Maiolly, com quem vive há 62 anos e teve o filho, João Bosco. “Mas eu adotei Vila Velha como a minha cidade. Adoro este lugar, onde estou há mais de 50 anos. Quer maior privilégio do que se levantar e poder olhar para o alto e admirar a morada de Nossa Senhora!”, confessa Theodoro. Quando era jovem, seus colegas brincavam com ele chamando-o de “Hóstia divina”, por causa da música “Eu te adoro hóstia divina….”.

Para estar no convento todo dia cedo, Sr. Theodoro levanta às 3 horas da manhã: “Já me acostumei. Se dormir mais não me sinto bem”, diz. O problema é quando participa dos ensaios e círculos bíblicos que passam das 10 horas da noite. “Mentalmente, sinto-me como se tivesse 18 anos. E isso é que faz com não entregue os pontos. Fiz uma porção de exames que acusaram tanta “coisa com o nome de ose”, mas não me deixo abater. Desde que fiz uma cirurgia, perdi a sensibilidade nas pernas devido à anestesia. O resto a gente vai levando”, conta Theodoro, que participa dos círculos bíblicos às segundas, quartas e sextas-feiras e uma vez por semana toca na Missa do meio-dia na Catedral.

De onde vem essa motivação? Theodoro não pensa duas vezes: de Nossa Senhora da Penha. “A fé é que me mantém de pé. A pessoa que não tem fé é vazia”, ensina. Para ele, sacrifício é uma coisa comum para todo mundo. “O ser humano tem que ter sacrifício. Agora, ele é bem aceito quando não é doença. Eu, às vezes, até agradeço pela dor, porque ela faz a gente se aproximar mais de Deus, de Jesus principalmente, que sofreu muito mais do que todos nós”, acrescenta.

A música sempre acompanhou sr. Theodoro desde os 12 anos de idade, quando aprendeu a tocar bandolim “de ouvido”. “Mas depois eu estudei música, porque o músico só de ouvido tem limitações”, explica Theodoro, que também toca instrumentos de corda como o cavaquinho, banjo, e um pouco de violão. Segundo Frei Florival, ele interage bem com todos os instrumentos do grupo musical.

Hoje, Theodoro não tem dúvida de que prefere tocar música religiosa. “Ela não precisa de barulho para que as pessoas apreciem e ouçam. Basta ser harmônica, agradável e falar ao coração”, disse. “Tem que ter equilíbrio”, emenda Frei Florival. Mas como bom músico, na juventude, fez muitas serenatas. “Hoje, se pudesse voltar no tempo, não passaria mais noitadas tocando, muitas vezes, só por causa da cerveja”, diz. “O corpo cobra a fatura depois… Um dia desses, passando por um bar, convidaram-me: ‘Oh, rapaz, vem cá, senta aqui! A cerveja está garantida’. Eu disse: ‘Olha, já toquei muito tempo por cerveja, mas hoje não toco mais por cerveja, não!’.”

Apesar da idade, Theodoro não se assusta com o computador e a internet é hoje um dos meios de comunicação mais usados por ele. “Quem não deve estar gostando disso é governo… Em 2013, vou completar 30 anos de aposentadoria”, diz, rindo muito.

 Além dessa força de vontade, fé e dedicação, ele é paciente e brincalhão. “Eu tinha um desejo que meu filho me seguisse, mas ele é avesso a tudo o que faço. Nem sabe pegar no bandolim. Capaz de deixar cair”, conta. Ele ri também quando lembra que um dia voltou do Convento da Penha com metade do seu bandolim, embora na época não gostou nenhum um pouco de ficar sem seu fiel instrumento. “Coloquei na cadeira atrás de mim, e o Sr. José, que é músico também, sentou em cima destruindo-o completamente”.

Quando encontrar o sr. Theodoro, pergunte a ele: “O sr.  vai bem?” E vai ouvir: “Não tão bem como desejaria. Melhor do que mereço!”

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