Com efeito, há “propostas de internacionalização da Amazônia que só servem aos interesses econômicos das organizações internacionais”. É louvável a tarefa de organismos internacionais e organizações da sociedade civil que sensibilizam as populações e colaboram de forma crítica, inclusive utilizando legítimos mecanismos de pressão, para que cada governo cumpra o dever próprio e não delegável de preservar o meio ambiente e os recursos naturais de seu país, sem se vender a espúrios interesses locais ou internacionais.
(PAPA FRANCISCO, Carta Encíclica Laudato Si’, 38).
São Paulo, 29 de julho de 2019.
Paz e Bem!
Na qualidade de filhos de São Francisco de Assis, inspirador principal do Santo Padre na elaboração da Carta Encíclica Laudato Si’,sobre o cuidado da Casa Comum, nós, Franciscanos da Província da Imaculada Conceição do Brasil, da Ordem dos Frades Menores, sentimo-nos na obrigação de manifestar nosso pesar e nossa máxima preocupação no que diz respeito aos rumos quem têm sido dados à política ambiental em nosso país e seus nefastos resultados, presentes e vindouros.
Em primeiro lugar, somos solidários e fazemos coro a nossos irmãos cientistas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) quando, pautados na exatidão de dados da ciência, advertem a sociedade e o governo sobre o avanço de 88% no desmatamento da Amazônia em relação ao ano passado. Às vésperas do Sínodo Pan-Amazônico, quando a Igreja Católica do mundo todo lança seu olhar sobre este território fundamental para a manutenção do equilíbrio do planeta, desejamos nos unir num grande alerta em favor da preservação deste bioma.
Também manifestamos irrestrita solidariedade aos povos indígenas, habitantes originários de nossas terras. Cada declaração infeliz que os desautorize ou menospreze sua luta por direitos legítimos e inalienáveis, cada gesto de violência e ódio contra eles desferido é um golpe fatal no coração da humanidade e na essência da proposta Evangélica de Jesus Cristo, de “vida, e vida plena, para todos” (Jo 10,10). Não podemos aceitar passivamente episódios como o assassinato do líder indígena Wajãpi, morto de forma violenta na última semana, no Amapá, e de muitos outros que vêm tombando de forma violenta pelo fato de lutarem por justiça.
Cada vez mais percebemos com clareza o discurso excludente, violento e dominador que dá origem às mais variadas formas de destruição, tanto da natureza em geral quanto da dignidade humana. Em total sintonia com os apelos do Papa Francisco, tanto na Encíclica Laudato Si’, quanto em seus muitos pronunciamentos, queremos conclamar à esperança ativa nossos confrades, os demais coparticipantes de nossa Missão Evangelizadora, a Família Franciscana e todos os irmãos e irmãs que acreditam na resistência pacífica como forma legítima e eficaz de transformação da realidade.
Com estima fraterna e na certeza de que não estamos a sós e contamos com a força de Deus,
Frei César Külkamp, OFM
Ministro Provincial
Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil