Paz e Bem!
A cidade de Petrópolis, que celebrou no ano passado 125 anos de presença franciscana, vai ver um dos seus filhos se tornar presbítero no próximo dia 4 de junho, Frei Alan Leal de Mattos será ordenado pelas mãos do bispo diocesano de Petrópolis, Dom Gregório Paixão, OSB, na Catedral São Pedro de Alcântara, às 10 horas. Frei Alan vai celebrar a Primeira Missa no dia seguinte, às 11 horas, na Paróquia São Judas Tadeu, na Mosela, em Petrópolis.
Natural de Petrópolis (RJ), onde nasceu no dia 19 de novembro de 1986, Frei Alan ingressou no Aspirantado São Francisco de Assis de Ituporanga (SC) em 2010 e vestiu o hábito franciscano no dia 12 de janeiro de 2012, em Rodeio (SC), onde fez a primeira Profissão no dia 3 de janeiro de 2013. Concluiu o curso de Filosofia em 2015. Fez o Ano Missionário no Convento da Penha, em Vila Velha (ES) e na Paróquia Santa Clara em Colatina (ES), em 2016. Concluiu o curso de Teologia em 2020. Em 19 de dezembro do mesmo ano foi ordenado diácono na Igreja do Sagrado Coração de Jesus em Petrópolis (RJ). Em 2021 foi transferido para Pato Branco (PR) a serviço da evangelização junto à Paróquia São Pedro Apóstolo e às rádios e TV pertencentes a Fundação Cultural Celinauta. Desde 2022 reside em Curitibanos (SC), onde é guardião da Fraternidade e auxilia na Paróquia Imaculada Conceição e nas rádios pertencentes à Fundação Frei Rogerio.
Site Franciscanos – Frei Alan, conte um pouco de sua história de vida?
Frei Alan – Falar de si é sempre um desafio, mas vamos lá. Eu nasci em Petrópolis, no Rio de Janeiro. Fui criado na casa de meus avós, Minervina e Pedro, junto com uma prima chamada Aline. Morávamos, nós e mais minha tia Tânia, mãe de minha prima e, de certo modo, minha mãe também. Minha mãe Sônia morava também em Petrópolis e não muito longe da casa de meus avós.
O ambiente em casa era muito religioso. Até minha primeira Eucaristia me recordo de todos irmos à Missa dominical. Mas quando cheguei na adolescência, me afastei da fé. Algumas vezes participava no grupo de jovens por que era requisito para poder jogar bola na quadra da comunidade. Coisas de adolescente.
O ambiente familiar passou a ser menos coeso com diversos parentes passando a frequentar outras denominações cristãs. Mas o respeito e a convivência sempre se mantiveram. Uma das tradições que guardo com alegria no coração era a de toda a família se reunir no Natal para a ceia da véspera. Apesar das diferenças, nos reuníamos para celebrar e rezar como família o nascimento de Cristo, nosso Senhor.
Eu era muito aplicado nos estudos e também gostava de jogar vídeogame com os amigos. Durante a juventude fiz alguns amigos que mantenho até hoje. Alguns eram bem participativos nas suas comunidades. Isso chamava minha atenção e contribuiu para o meu retorno à Igreja.
Com a vida aparentemente encaminhada, afinal estava quase me formando na faculdade, trabalhando no setor de tecnologia da informação de uma faculdade, tudo parecia estar no seu curso normal. Mas, eu comecei a sentir que faltava algo e comecei a me perguntar o que seria. Após conversas com um amigo meu, chamado Felipe, que era ministro da Eucaristia, eu percebi que era da vivência na comunidade de fé e resolvi retornar a participar das missas na Paróquia do Sagrado e também na minha comunidade de São Judas Tadeu.
Um pouco depois, fiz o curso de catecumenato para receber o Sacramento da Confirmação. Foi durante esse curso que se iniciou meu discernimento vocacional.
Site Franciscanos – Fale mais sobre esse discernimento vocacional?
Frei Alan – Eu nunca havia antes na minha vida pensado na Vida Religiosa Franciscana. Parecia algo distante das minhas capacidades. Mas, durante o curso do catecumenato um dos frades estudantes que acompanhavam o curso me perguntou se eu não gostaria de ser frade. Minha resposta imediata foi: ”Deus me livre! Essa vida não é para mim”. Mas, confesso que a pergunta permaneceu ali como uma possibilidade.
Depois de um tempo, após ter recebido o Sacramento da Confirmação, numa Missa dominical, um frade estudante deu um testemunho de sua história vocacional. Era meu conterrâneo, Frei Gustavo Medella. E, ao ouvir a sua história, decidi dar um passo adiante e conhecer melhor a vida de frade.
Site Franciscanos – Ali você sentiu que queria ser frade franciscano?
Frei Alan – Ser franciscano me encantou, em primeiro lugar, pela pessoa da São Francisco. Difícil achar alguém que não se encante com a história desse grande homem. Tudo que ele viveu e como ele viveu foram de uma intensidade tão grande que parece que nos arrasta para dentro desse mistério de Deus que ele queria conhecer e amar. Mas um outro aspecto me fez escolher a forma de vida franciscana: a vida fraterna. Recordo vivamente que durante o tempo de vocacionado participei das celebrações do Transitus de São Francisco na Paróquia do Sagrado e naqueles dias, nós, vocacionados, também participamos das celebrações internas dos frades. E eu fiquei encantado com a diversidade de frades, cada uma na sua singularidade, mas reunidos em torno de um mesmo propósito: viver a vida evangélica vivida por São Francisco. Isso para mim foi decisivo e muito marcante. E para essa vida é como o tesouro escondido do Evangelho. Deixamos tudo, vendemos tudo o que temos para possuir esse dom inestimável.
Site Franciscanos – Depois de tantos anos de estudos, você está prestes a ser ordenado presbítero. Fale-nos como está essa expectativa.
Frei Alan – Pra ser sincero, está uma mistura de sentimentos. Serenidade, calma, agitação, alegria, apreensão, etc.
Acho que isso se dá devido à grandeza do que me é confiado pela Igreja. Como diz São João Crisóstomo, os sacerdotes são os oficiantes dos maiores dons de Deus e isso constitui uma grande responsabilidade diante de Deus e da Igreja. Mas, ao mesmo tempo, sei que isso não depende da minha capacidade. Antes de tudo, Deus nos auxilia com a sua graça e, o que me deixa mais tranquilo, tenho a Fraternidade Provincial que me acompanha com as suas orações e conselhos para exercer esse ministério com a dignidade que ele exige.
Site Franciscanos – O que é ser frade presbítero para você?
Frei Alan – Quando penso no presbítero franciscano, a primeira coisa que me vem à mente é a Carta a toda Ordem de São Francisco que diz aos irmãos sacerdotes que todo o querer deles deve ser ordenado para Deus. Buscar antes a vontade de Deus que a minha, dentro do ministério que me é confiado. E isso é difícil, porque é muito fácil confundirmos nossas necessidades, desejos e aspirações como “vontade de Deus”.
São Francisco percebe isso e, mais à frente na carta, diz que nada se deve reter para si mesmo, mas deve-se fazer uma doação total de si mesmo a Deus para poder receber aquele que é doação sem limites. Creio que ser presbitério franciscano é permear sua vida com o esvaziamento, a exemplo de Cristo, para que o nosso amor, reverência e adoração estejam de acordo com o mistério que celebramos.
Site Franciscanos – Há espaço para o carisma franciscano no mundo de hoje?
Frei Alan – Creio que mais do que espaço, haja uma necessidade do nosso carisma hoje. As váris relações : família, trabalho, amizades etc. se tornaram frágeis por conta das diversas situações sociais e também devido aos anos de pandemia que vivemos.
Dar espaço para conhecer as razões do outro, perdoar o outro, não fazer das distinções muros intransponíveis, mas aprender a lidar com elas de modo sereno, construindo pontes é simplesmente viver a fraternidade como São Francisco a viveu. A contribuição do nosso carisma está nessa necessidade de nosso mundo de nos percebermos novamente como irmãos, de enxergamos o outro a partir do mistério de que somos irmanados em Cristo Jesus e reaprendermos a amar como nosso Senhor nos ama.
Site Franciscanos – Vale a pena ser religioso franciscano? Deixe uma mensagem para os jovens que querem conhecer o carisma franciscano.
Frei Alan – Uma coisa que eu sempre digo para mim e quando tenho a oportunidade para os demais é que ser frade não vale somente a pena, mas vale a vida toda. É uma vida pela qual eu sinto felicidade em “gastar” minha vida. Ser frade, viver a vida que o bem-aventurado Francisco viveu pode parecer difícil. Mas uma coisa eu tenho certeza é que os jovens não desejam uma vida fácil, cômoda, mas desejam o desafio. A vida Franciscana é o maior desafio que já tive na vida. Viver o Evangelho é uma aventura pela qual vale a pena se doar inteiramente.
E mesmo que todo desafio tenha a sua dificuldade, suas lutas, eu posso dizer: se você, jovem, acha que é possível que Deus tenha te chamado a viver o carisma de Francisco, não tenha medo. Dúvidas, questionamentos, desânimo, todas essas coisas nós todos, frades, vivemos em algum momento. Isso é humano, faz parte de quem nós somos. Mas a graça do Deus Altíssimo nunca nos abandona. Em meio às nossas fragilidades resplandece a força do Altíssimo que brilhou e continua a brilhar em Francisco, Clara, Antônio e tantos outros e que nós também, hoje, desejamos levar essa luz ao nossos irmãos e irmãs. Venha viver essa vida Franciscana também conosco!
Entrevista a Moacir Beggo | Fonte: portal franciscanos.org.br