Paz e Bem.
“Celebrar o jubileu de 70 anos de vida religiosa, consagrada ‘é momento de graça, um momento especial na caminhada da gente’. A celebração de hoje recorda sete décadas de doação e têm relação com a vida e a missão de Jesus. Nos faz lembrar do desafio de sermos ‘discípulos e missionários’, portanto, hoje é dia de gratidão, dia de agradecer… Frei Pedro Engel, estamos aqui porque respeitamos sua história e queremos celebrá-la”.
Com essas palavras, Frei Robson de Castro exortou a comunidade de fé na Missa Solene pelos 70 anos de vida religiosa do confrade, Frei Pedro Engel, na tarde deste sábado (1º) no Campinho do Convento da Penha, em Vila Velha-ES.
A celebração contou com a presença do Guardião do Convento, Frei Gabriel Dellandrea; dos freis Jorge Lázaro e Claudino Dal’Mago; além dos irmãos e irmãs da Ordem Franciscana Secular e dos fiéis, devotos de Nossa Senhora da Penha.
Ao iniciar a Eucaristia, Frei Gabriel acolheu a todos e ressaltou a importância de renovar a esperança. “Para renovar a esperança, não precisa ser tudo novo, também renova esperança um outro dom, não só a novidade, mas a perseverança. Mais do que nos animarmos com a novidade, devemos nos animar com a perseverança no ‘sim’ e é por isso que nos reunimos para celebrar o dom dos 70 anos de vida religiosa do nosso Frei Pedro. É costume que ele faça esse comentário, mas eu disse para ele ‘hoje o senhor é o noivo, fica lá, é bom estar do outro lado'”.
Na homilia, ao refletir o Evangelho de Lucas 4,14-21, Frei Robson destacou a missão franciscana pautada no caminho de Cristo. “O Evangelho que ouvimos é também conhecido como discurso da missão. Jesus faz a leitura de um texto do profeta Isaías. Nesse texto está inserida a missão de Jesus, seu projeto. Jesus inicia sua missão na cidade de Nazaré onde foi concebido, educado, se tornou adulto. A ação de Jesus se dá sob a força do Espírito Santo. Para fazer parte do projeto de Jesus, precisamos estar abertos ao Espírito do Deus da Vida, do Deus Criador e Libertador. Somos povo do Espírito e não recebemos um espírito de medo, mas um espírito de força, de amor e de sabedoria”, refletiu.
“Eucaristia é ação de graças. O Salmista assim se expressa: ‘Como poderei retribuir a Javé por todo o bem que ele me fez? Erguerei o cálice da salvação, invocando o nome do Senhor. Cumprirei meus votos a Javé, na presença de todo o seu povo’. Para nós celebrar um jubileu de um confrade é uma motivação a mais em nossa caminhada, é olhar e dizer: preciso continuar firme, aprofundando minha vocação, eu também chego lá”, disse Frei Robson.
Na sequência, Frei Robson falou diretamente ao confrade jubilando. “Frei Pedro, às vezes somos alvo de críticas amargas e nada construtivas, que acabam colocando um véu sobre tantas coisas bonitas e positivas que fazemos. ‘Jesus não julga e salva, nós não salvamos e muitas vezes julgamos’. Um outro confrade nosso que conviveu com você, certa vez disse: ‘se eu tenho que pedir alguma coisa emprestado, eu vou pedir para o Frei Pedro, pois além de emprestar, vai ficar feliz por ter feito isso. Tem um grande espírito de despojamento'”, afirmou.
Por fim ainda durante a homilia, Frei Robson fez um convite para Frei Pedro e para os fiéis. “Júbilo, verdadeiro júbilo, requer alegria e esperança, – e estamos no ano jubilar da esperança. Requer a justiça e a paz, requer a esperança que gera a certeza de que Deus tem a palavra final diante de todos os acontecimentos da história humana. Celebrar o jubileu de Frei Pedro Engel é assumir o desafio de proclamarmos que Jesus é o caminho a verdade e a vida, é o Senhor da História”, concluiu.
Após a homilia houve a renovação dos votos da vida religiosa franciscana, onde Frei Pedro rezou: “Com a força do espírito santo, renovo hoje a Vós, com todo ardor do meu coração, o voto de viver em obediência, sem nada de próprio e em castidade, ao mesmo tempo, confirmo a promessa de professar a vida e a regra dos Frades Menores, confirmada pelo Papa Honório, segundo as constituições da nossa Ordem”.
Antes da bênção final, Frei Pedro Engel agradeceu a presença dos fiéis e falou o ‘segredo’ para uma longevidade. “Para chegar aos 70, é preciso caminhar muito, mas não há preocupação. Você vai vivendo dia a dia, vai vivendo e vai tocando, quando percebe… Chegou o dia! Para conseguir ser feliz e até chegar ao termo, à meta, é preciso manter equilíbrio. Eu sempre falo que andar em cima de uma prancha remando, se não tiver equilíbrio cai na água. Na vida também é assim, se não tivermos equilíbrio, caímos. Faça todas as coisas com equilíbrio, até a oração. Faça pouco, mas faça bem. Esse é nosso lema. Obrigado pela presença de todos!”.
Frei Gabriel Dellandrea destacou a perseverança na vida religiosa. “Há um grupo de ‘profetas da desesperança’ que vem dizendo por aí que ‘a coisa tá perdida’, que tá tudo errado, tudo perdido. Não! Se o Frei Pedro celebra 70 anos de vida religiosa, nos demonstrando que perseverar ainda é verbo que se conjuga, com certeza não está tudo perdido. Tem muita coisa boa acontecendo e talvez precisamos apurar o nosso olhar para ver aquilo que há de bom ao nosso redor. Essa celebração de hoje pode ser para nós jovens, o momento de revigorar. Não basta só dizer o ‘sim’. Isso é uma parte, a outra grande parte é perseverar, é continuar no ‘sim’ e Frei Pedro é uma demonstração de que dizer ‘sim’ é uma forma também de render louvor a Deus. Deus que é perseverante no seu amor é a nossa inspiração. E Frei Pedro se inspira nisso para continuar dizendo o seu ‘sim’ todos os dias. Que bom podermos celebrar este dia de júbilo, de ação de graças. Que ele se repita por mais vezes e que nós possamos viver também esse Jubileu de outros frades e se Deus quiser até o meu. Juntos possamos rezar pelas vocações, para que mais frades franciscanos alcancem a graça do ‘sim’ e a graça da perseverança”.
Entrevista com Frei Pedro Engel
- Frei Pedro, como surgiu a sua vocação religiosa?
A minha vocação surgiu aos 3 anos de idade. O meu tio foi ordenado presbítero e quando chegou em casa me perguntou se eu também queria ser padre, queria ser francisanos igual a ele. Eu olhei ele de alto a baixo e respondi ‘quero sim!’ e daí para frente brotou a minha vocação, que aos poucos ela foi se aperfeiçoando e fui seguindo essa vocação. Muitas coisas me marcaram na vida. Passamos muitas dificuldades, desafios, mas também por muita coisa boa. Os trabalhos que levamos, o início quando entramos na Ordem, as surpresas que passamos… É difícil? Sim, é difícil, não era um começo fácil, principalmente para viver a penitência, mas depois a gente ‘pega no tranco’ e a vida vai ficando mais fácil.
- O senhor gosta de praticar esportes. Por que o senhor se encantou com o stand up paddle?
Pratico esportes aqui desde que cheguei no Convento. O meu esporte predileto, mesmo que não tenho muito condições, é justamente o stand up paddle. Um dia eu vi alguém andando na prancha, remando tranquilamente, boiando na água. Eu achei o máximo e pensei: vou pedir o rapaz para ele me emprestar um pouquinho para eu tentar praticar. Eu tentei e consegui, aí pronto! Me apaixonei por esse esporte e incentivei também as pessoas a praticarem esse esporte. O stand up traz equilíbrio na vida. Porque na vida e para todas as coisas que a gente faz, tem que ter equilíbrio. Por isso eu aprendi a ter equilíbrio na prancha em cima da água, para ter equilíbrio na vida.
- Há quanto tempo o senhor está no Convento? O que o senhor mais viu nesse tempo?
Eu já estou no Conventos da Penha há 16 anos, segundo a contagem (risos). Mas eu prefiro continuar ainda aqui. Já me perguntaram se eu gostaria de ir para outro lugar, mas eu falei que enquanto eu puder subir escadas e etc, eu quero ficar aqui, porque lugar mais bonito do que esse não tem. E estando aqui e a gente acompanha o público, vê os devotos que chegam aqui… Muita gente já veio me procurar e dizer ‘olha, consegui uma graça’, outras conseguiram a cura também do câncer, de outros males e sucesso na cirurgia… Muitas vezes os devotos vem pedir antes de uma cirurgia, vem pedir uma benção, uma oração para dar tudo certo. Eu dou palavras de otimismo e confiança em Deus que tudo vai dar certo. Depois voltam para agradecer.
- O senhor é conhecido como o “frei da água benta”. Frei Gabriel te chama de “guardião da água benta”. O que isso representa para o senhor?
Ser o guardião da água benta… Isso começou aos poucos. Participando das Missas, especialmente as Missas com público maior, sempre gostei de ter esse contato com o público, como um ‘canal de bênção’ e então as pessoas já ficam aguardando essa hora de receber a aspersão com a água abençoada e é bonito ver que elas recebem com muita fé e muito carinho. Isso me dá um otimismo também, para que eu possa jogar, aspergir as pessoas, sabendo e poder levar uma benção para as pessoas, sinto o carinho, amor e a gratidão.
- E para o futuro, o que o senhor espera?
Espero viver com equilíbrio. Na Festa da Penha, eu tô preparado para o que puder ajudar, estou de prontidão. Quando fico muito cansado, descanso um pouco e espero, dou uma aguardada, depois recomeço o trabalho. Já estou preparando para a receber os ‘navegantes’, os romeiros que vão participar da remaria e da festa como um todo.