Reunidos em Brasília para a XVIII Assembleia Geral Ordinária Eletiva, os membros da Conferência da Família Franciscana do Brasil (CFFB) divulgaram uma carta manifestando preocupação com a situação da Amazônia. “Sensíveis a este clamor e, comprometidos/as com nosso carisma francisclariano, que nos convoca a uma conversão ecológica, unimos nossas vozes em defesa da Amazônia e do seu povo, no cuidado da Criação”, afirma o documento. Ao final do encontro, os participantes também divulgaram uma carta compromisso, onde ressaltam: “Como herdeiros espirituais do grande construtor da paz, comprometemo-nos com a reconstrução da Fraternidade, sobretudo onde ela é ferida, difundindo os valores franciscanos da paz, em comunhão com todos os homens e mulheres que se empenham na defesa e preservação da casa comum que clama por cuidado e respeito.”
Leia as duas cartas abaixo na íntegra:
Aos irmãos e irmãs da Família Franciscana do Brasil, e a todos os irmãos e irmãs de boa vontade!
“A criação inteira sofre como em dores de parto” (Rm 8,22)
Brasília, 25 de agosto de 2019
Reunidos/as em nossa XVIII Assembleia Geral Ordinária Eletiva, da Conferência da Família Franciscana do Brasil, de 22 a 25 de agosto de 2019, em Brasília/ DF, centro das grandes decisões políticas de nosso país, acompanhamos com dor e compaixão, o sofrimento e o gemido da Criação, neste cenário de devastação das queimadas, que estão
atingindo o nosso maior patrimônio, a Floresta Amazônica.
Como afirma o Papa Francisco em entrevista ao Jornal La Stampa-Vatican Insider, em 09/08/19, a Amazônia “é um lugar representativo e decisivo, contribui de modo determinante para a sobrevivência do planeta. Grande parte do oxigênio que respiramos é proveniente dali. Eis o motivo porque o desmatamento significa matar a humanidade”.
Na recordação especial e dolorosa pela morte de indígenas, somos solidários/as aos nossos irmãos e irmãs franciscanos/as presentes nesta região que, recentemente, sediou o Fórum Franciscano para o Sínodo Pan-Amazônico, o qual nos fez ouvir o grito dos povos originários e de todos os amazônidas, que denunciaram a devastação da Floresta Amazônica, a poluição das águas, a desvalorização da vida e o preconceito com relação às culturas nativas, numa terra sagrada e abundante de graça e beleza. Sensíveis a este clamor e, comprometidos/as
com nosso carisma francisclariano, que nos convoca a uma conversão ecológica, unimos nossas vozes em defesa da Amazônia e do seu povo, no cuidado da Criação.
Com profunda indignação, cobramos atitudes dos governantes que detêm as ferramentas públicas para tal fim. Dados científicos oficiais do próprio Governo Federal comprovam a corresponsabilidade dos poderes constituídos com relação ao aumento significativo da devastação da floresta, seja pelas queimadas, seja pelo avanço do agronegócio ou pela flexibilização das leis para a exploração de minérios e madeiras, sobretudo, em terras
indígenas e reservas florestais. Neste sentido, queremos ainda reiterar a posição precisa e corajosa da Igreja: “Em sintonia amorosa e profética com a convocação do Papa Francisco, no cumprimento da tarefa missionária e da evangelização, o Sínodo é sinal de esperança e fonte de indicações importantes no dever de preservar a vida, a partir do respeito do meio ambiente” (Nota da CNBB – Levante a voz pela Amazônia, agosto de 2019).
Do lugar onde estamos, Casa de Retiros Assunção, reforçamos o nosso compromisso com a Mãe Terra e com a Criação e rogamos a Nossa Senhora que assunte essa realidade de dores e nos ajude na construção de uma sociedade justa e fraterna. Reafirmando nossa comunhão e nosso apoio incondicional ao Papa Francisco, acolhemos com alegria a realização do Sínodo dos Bispos para a Amazônia e rezamos para que este seja um novo Pentecostes para a Igreja na compreensão da realidade da Amazônia.
Conferência da Família Franciscana do Brasil
Carta Compromisso de Brasília
Brasília, 25 de agosto de 2019.
A todas as mulheres e homens de boa vontade,
O Senhor lhes dê a paz!
A Conferência da Família Franciscana do Brasil, entidade que congrega as Três Ordens fundadas por São Francisco de Assis, esteve reunida na celebração da XVIII Assembleia Geral Ordinária Eletiva, nos dias 22 a 25 deste, em Brasília, DF. Iluminados pela reflexão feita a partir das perguntas: Que Mundo? Que Igreja? Que Franciscanos? e interpelados pela realidade sócio-política e econômica do nosso pais, que em nossos dias se revela ameaçadora à população brasileira, especialmente os seguimentos que se encontram em situação de vulnerabilidade e indignados pelos últimos acontecimentos devastadores que se abateram sobre a Amazônia, sua gente e seu ecossistema, reafirmamos nossa incondicional comunhão com o legitimo sucessor de Pedro, o Papa Francisco e seu magistério.
Ao Papa Francisco somos agradecidos por trazer Francisco de Assis para nossos dias, sobretudo, através de seu devotado amor pelos últimos da sociedade e por sua capacidade de diálogo inter-religioso; pela publicação da Encíclica Laudato Sì; pela convocação do Sínodo Pan-Amazônico, que será realizado em Roma, em outubro de 2019, cujo objetivo é identificar novos caminhos para a evangelização daquela porção do Povo de Deus, frequentemente esquecido e sem perspectivas por causa da crise da Floresta Amazônica e do encontro Economia de Francisco, a realizar-se em Assis, Itália, de 26 a 28 de março de 2020 e que tem por objetivo despertar para a urgência de uma economia de inclusão, que promova a dignidade da humanidade, diante de uma economia neoliberal que exclui, concentra riqueza e devasta a Casa Comum. Outrossim, em sua Exortação Apostólica Evangelii Guadium, o Papa nos convoca a vivermos a grande profecia franciscana, que é o retorno ao Evangelho.
O Crucificado de São Damião que disse a Francisco: “vai e reconstrói a minha casa”, continua a convocar-nos para reconstruirmos sua casa nas mais diferentes realidades onde a vida clama por justiça e paz.
Como herdeiros espirituais do grande construtor da paz, comprometemo-nos com a reconstrução da Fraternidade, sobretudo onde ela é ferida, difundindo os valores franciscanos da paz, em comunhão com todos os homens e mulheres que se empenham na defesa e preservação da casa comum que clama por cuidado e respeito. Voltemos nosso olhar ao Santuário de Nossa Senhora Aparecida e supliquemos: “Óh Mãe preta, óh Mariama, Claro que dirão, Mariama, que é política, que é subversão, que é comunismo. É Evangelho de Cristo, Mariama!”, ainda assim, invocamos suas bênçãos sobre toda a nossa família e sobre um Brasil sedento de “Paz – fruto da justiça, do bem e da Misericórdia de Deus”.
Conferência da Família Franciscana do Brasil