Paz e Bem!
Como é bom chegar na sexta-feira, né verdade?! A gente sempre espera confiantemente, porque está próximo o Dia do Senhor e também porque o fim de semana é ocasião para estar ainda mais em família, partilhando conhecimento e conhecendo mais as histórias. Todas as sextas-feiras temos um compromisso com as histórias que fazem parte da memória do Convento da Penha.
Há mais de 450 anos, o povo do Estado do Espírito Santo celebra sua padroeira com muito amor e carinho, além da relevante expressão devocional à Nossa Senhora das Alegrias da Penha, nossa gente é fiel aos ensinamentos de Jesus Cristo, a modo de São Francisco de Assis. Por tamanha devoção, estamos destacando os aspectos históricos da religiosidade local, em reportagens, resgates cronológicos de fatos ocorridos no Convento.
Hoje vamos voltar ao ano de 1761. Aconteceu na Penha… Em Lisboa, Portugal, sai a impressão da obra de Frei Antônio de Santa Maria Jaboatão, “Novo Orbe Seráfico Brasílico”, que longamente trata de Frei Pedro Palácios e da Penha. Essa talvez tenha sido a obra literária mais assertiva em relação à vida e missão do fundador da Penha Sagrada.
Frei Jaboatão era na verdade, pernambucano. Em meados do século XVIII, depois de refutar os que negavam a fundação do Santuário da Penha por Frei Palácios, apresenta o Eremita como missionário dos Aimorés e primeiro catequista em terras capixabas.
[…] “Ele foi o primeiro pregador e anunciador do Santo Evangelho que tiveram os gentios desta capitania, na qual ele só por muitos anos foi o maior instrumento da conversão de muitos, não só para a Igreja, também para a mais fixa e verdadeira amizade com os portugueses. Porque suposto que já quando no ano de 1558, chegou ao Espírito Santo, Frei Pedro, tinham nesta vila uma residência os padres Jesuítas, desde o ano de 1551, e nela religiosos de assistência havendo alguns sete anos, ainda não haviam até este tempo dado princípio à conversão do gentio. Não é discurso este da nossa vontade, é expressão de duas testemunhas que assim o expõem com esta explicação no instrumento jurídico, que já dissemos se tirou na mesma vila. É a primeira Amador de Freitas, Capitão da aldeia de Reritiba e morador em Vila Velha, de idade de 69 anos […]”, conta Frei Jaboatão.
“Disse que conhecera Frei Pedro Palácios, Religioso leigo da Ordem de S. Francisco, há cinquenta anos, nesta capitania o qual era tido de todos por Varão Santo e de muito exemplar vida, andando pelas aldeias desta capitania, aonde ainda então não residiam frades franciscanos, e batizava e doutrinava aos índios, ensinando outrossim a doutrina cristã pelas ruas, era mui zeloso da salvação das almas”, dizia Nuno Rodrigues, um morador na vila do Espírito Santo na época.
Este é o dito destas testemunhas, acaso expressado por elas e muito a propósito para justificar que se Frei Pedro não foi o primeiro Religioso que chegou a capitania do Espírito Santo, porque antes dele chegaram outros, foi o primeiro Pregador e Anunciador do Santo Evangelho que deu conhecimento da fé e luz da verdade católica ao gentio da terra, porque não perdessem os filhos de Francisco esta primazia nas conquistas do Brasil, ainda quando não são os primeiros que a elas chegaram.
Embora tenha sido publicado e reproduzido em Portugal, o livro também teve cópias trazidas para o Brasil e, inclusive, muitas partes do volume foram utilizadas no processo de tentativa de beatificação do Frei Pedro Palácios, como já conhecemos noutra ocasião (clique aqui para ler). A respeito desse processo, informa Frei Basílio Rower, OFM, em suas Páginas de história franciscana no Brasil, p. 203: “Os autos deste processo, que devia ser o início do de canonização (a que nunca se chegou e dizem que por falta de recursos para as custas), estiveram guardados no cartório (arquivo) do Convento de Vitória e Frei Jaboatão afirma que deles teve a certidão jurada (Novo Orbe Seráfico Brasílico, volume II, parte i, p.33); mas hoje nem o original nem a certidão aparecem, ou porque se perderam, ou porque descansam em lugar desconhecido, empoeirados e comido pela traça.”
Como dito no início, o livro de Frei Jaboatão relatou, além da vida de Frei Pedro Palácios, o início da devoção à Nossa Senhora da Penha e a construção do Santuário. Sobre a construção, transcrevemos parte de um texto abaixo. (Reprodução fiel ao original)
“Concluída com brevidade a Capelinha do Serafico Patriarcha, tanto pela pequenez da sua fabrica, como pela concurrencia dos devotos do Servo de Deos, entrou na diligencia de fabricar outra para a Senhora da Pena, no cume da serra, e sobre aquella altíssima Rocha, ou Penedo, que serve de coroa áquelle Monte. Tudo conseguido com a ajuda dos devotos, e especialmente de Melchior de Azevedo, homem rico, e muito particular affeto de Fr. Pedro. Nem podia deixar de ter nesta obra muitos coadjutores; porque o Servo de Deos era o primeiro, que, pegando nas pedras, às suas costas as conduzia por aquelle áspero, e alto monte, em quanto durou a obra, que completa, collocou nella a Imagem da Senhora, com singular jubilo da sua alma, e grande consolação de todo o povo. Assim o depõem todas as testemunhas do seu processo, humas, que o virão, outras que o ajudarão. Hum destes foy André Gomes, que sendo moço acompanhava o Servo do Senhor, quando fazia pelas ruas da Villa a sua doutrina, e depõem que seus dous Irmãos, Amador Gomes e Braz Pires, ajudarão a fr. Pedro a fazer a obra da Capellinha da Senhora da Pena; e assim attestão as mais, que nos ditos autos jurarão, e concordão todos sem discrepar, que o Servo de Deos fr. Pedro de Palácios fora o fundador das duas Capellas primeiras daquelle monte, a de S. Francisco no collo da ladeira, e a de N. Senhora da Pena sobre a Penha alta, que nelle descança. E assim fica tirado também o engano de alguns, que cuidarão, e ainda escreverão, que quando alli chegou Fr. Pedro, já havia aquella Capellinha, da qual pelo zelo do Servo de Deos lhe fizera a entrega della o seu fundador, ou os que por este a administravão.”
Alguns trechos foram extraídos do Livro dos Romeiros de 1847; Antologia do Convento da Penha, ano 1974, autor: Frei Venâncio Willeke, OFM; “História Popular do Convento da Penha”, 3ª edição 2008 (Guilherme Santos Neves); Livro “O Convento da Penha”, de Norbertino Bahiense (1951).