Aconteceu na Penha em 1616…

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Paz e Bem!

Na última semana, conhecemos a história do translado dos restos mortais do nosso fundador, Frei Pedro Palácios em 1609, para o Convento São Francisco. O frade espanhol iniciou em 1558, na Montanha Sagrada, a devoção à Nossa Senhora das Alegrias, a Virgem da Penha. Hoje, em mais uma reportagem reportagem especial sobre a nossa história, vamos conhecer como se deu o processo informativo para a beatificação de Frei Pedro.

Sempre às sextas-feiras conhecemos um pouco mais sobre a tradição, a história e a expressão de fé do povo capixaba que há mais de 450 anos celebra sua padroeira com muito amor. Estamos destacando os aspectos históricos da religiosidade local, em pequenas reportagens os destaques que aconteceram na Penha.

Aconteceu na Penha… No dia 27 de julho de 1616, o custódio Frei Vicente do Salvador instaurou, em Vitória, o processo informativo para beatificação de Frei Pedro Palácios, como Venerável Servo de Deus. Incluiu também a origem da Penha nas suas obras “Crônica da Custódia do Brasil” (1618) inédita e perdida em Portugal, e a “História do Brasil 1500 – 1627”. Reproduzimos abaixo todo o capítulo IV do 2º livro da História do Brasil para mostrar a fama do Santuário, desde os seus princípios.

“Não teve menos trabalhos com a sua capitania Vasco Fernandes Coutinho, a quem el-rei (aquele), pelos muitos serviços que lhe havia feito na Índia, lhe fez mercê de cinquenta léguas de terra por costa, o qual a foi conquistar e povoar com uma grande frota à sua custa, levando consigo a D. Jorge de Menezes, o de Maluco, e D. Simão de Castelo Branco e outros fidalgos, com os quais, avistando primeira a serra de Mestre Álvaro, que é grande, alta e redonda, foi entrar no Rio do Espírito Santo, o qual está em vinte graus; onde logo à entrada do rio, da banda do sul, começou a edificar a vila de Vitória, que agora se chama a Vila Velha em respeito da outra vila do Espírito Santo que depois se edificou uma légua mais dentro do rio, em a ilha de Duarte de Lemos, por temos do gentio. […] (Adaptado)

[…] Dá também muitas árvores de bálsamo de que as mulheres, misturando-o com a casca das mesmas árvores pisadas, fazem muita contaria que se manda para o reino e para os outras partes. Mas o que fez mal a estes senhores, depois das guerras, foi não seguirem o descobrimento das minas de ouro e prata, como determinavam. E parece que herdaram deles este descuido dos seus sucessores, pois, descobrindo-se depois na mesma capitania uma serra de cristal e esmeraldas, de que tenho feito menção em o capítulo quinto do primeiro livro, nem disso se trata, nem de fortificar-se a terra para defender-se dos corsários, sendo que, por ser o rio estreito, se poderá fortalecer com facilidade. Antes levando-o pelo espiritual, me disse Francisco de Aguiar Coutinho, senhor dela, que disse a Sua Majestade que tinha uma fortaleza na barra da sua capitania que lhe defendia, e não havia mister mais, e que esta era a ermida de Nossa Senhora da Penha que ali está, aonde do mosteiro do nosso padre São Francisco, que temos na vila do Espírito Santo, vão dois frades todos os sábados a dizer missa, e a temos a nossa conta (Os dizeres de Aguiar Coutinho provam quão alto conceito ele formava da Penha – Adaptado).

E na verdade a dita ermida se pode contar por uma das maravilhas do mundo, considerando-se o sítio, porque está sobre um monte alto um penedo que é o outro monte, a cujo cume se sobe por cinquenta e cinco degraus lavrados no mesmo penedo, e em cima tem um plano em que está a igreja e capela, que é de abóbada, e ainda fica ao redor por onde anda a procissão, cercado de peitoril de parede, donde se não pode olhar para baixo sem que fuja o lume dos olhos.

Nesta ermida esteve antigamente por ermitão um frade leigo da nossa ordem, asturiano, chamado Frei Pedro, de mui santa vida, como se confirmou em sua morte, a qual conheceu alguns dias antes, e se andou despedindo das pessoas devotas, dizendo que, feita a Festa de Nossa Senhora, havia de morrer. E assim sucedeu, e o acharam morto de joelhos e com as mãos levantadas como quando orava, e na trasladação de seus ossos  desta igreja para o nosso convento fez muitos milagres, e poucos enfermos os tocam com devoção que não sarem logo, principalmente de febres, como tudo consta do instrumento de testemunhas que está no arquivo do mesmo convento (transcrito aqui, clique para ler).

Foto: Wilton Prata / Estúdio Gazeta

A respeito desse processo, informa Frei Basílio Rower, OFM, em suas Páginas de história franciscana no Brasil, p. 203: “Os autos deste processo, que devia ser o início do de canonização (a que nunca se chegou e dizem que por falta de recursos para as custas), estiveram guardados no cartório (arquivo) do Convento de Vitória e Frei Jaboatão afirma que deles teve a certidão jurada (Novo Orbe Seráfico Brasílico, volume II, parte i, p.33); mas hoje nem o original nem a certidão aparecem, ou porque se perderam, ou porque descansam em lugar desconhecido, empoeirados e comido pela traça.”

Tal processo era baseado sobre os tópicos seguintes, sobre Frei Pedro Palácios:

  • Que era tido por varão santo e de muito exemplar vida, andando pelas aldeias a catequizar os índios.
  • Que residiu constantemente na ermida da Penha edificada por ele com muita devoção e perseverança.
  • Que fora encontrado morto, de joelhos de mãos postas encostado ao altar da ermida e com sinais de homem vivo.
  • Que na transladação dos seus restos para o Convento São Francisco em Vitória, em 18 de Fevereiro de 1609, sararam todos quantos enfermos puderam toca-los, como Frei João dos Anjos, e Duarte de Albuquerque e uma menina de Loureiro Afonso.
  • Que andava pelas ruas a ensinar a doutrina católica aos meninos e índios, vestido de hábito franciscano e cruz na mão.
  • Que levava pedra às costas para edificar a ermida.
  • Que se confessava em todos os domingos e comungava, jejuando muitas vezes.
  • Que quando saía às esmolas, o que sempre fazia a pé, deixava no chão tantos montinhos de farinha quantos eram os dias que devia passar fora, os quais eram destinados para um cão e gato que deixava em casa, devendo cada um desses animais comer um montinho cada dia; e se acontecia retirar-se o frade antes do dia, encontrava intactas as rações que eram orçadas para os dias que deviam preencher o tempo da ausência calculada. Disto se inferia que o frade tinha um poder sobrenatural sobre os próprios irracionais.
Foto: IHGVV – 1926

Frei Pedro vivia em uma gruta, aos pés da mata do Convento. Desde 1864, na Gruta do Frei é assinalada por uma lápide comemorativa em latim, que mandou colocar o então guardião Frei Teotônio de Santa Humiliana: “Ecce Petri Palacios arcta habitatio prima/ Qui Diminam a Rupe vexit ad ista loca,/ Mirum Coenobium construxit vertice rupis,/ Quo tandem Dminae transtulit effigiem/ Quam magnis meritis vita decessit onustus,/ Jam promissa bonis praemia coelitum habet”.

Traduzindo:

“Eis de Pedro Palácios a primeira e estreita habitação,
O qual trouxe para estes lugares a Senhora da Penha.
Construiu no cume do monte um admirável  Convento,
Para onde transferiu, finalmente, a Imagem
Onerado de grandes merecimentos passou desta vida,
E já possui os prêmios celestes prometidos aos bons.
Morreu em 1570. Jaz no Convento de S. Francisco de Victória”.

Frei Teotônio de S. Humiliana, ano de 1864.

Alguns trechos foram extraídos do Livro dos Romeiros de 1847 e “Antologia do Convento da Penha”, ano 1974 (site morrodomoreno.com.br)

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