Paz e Bem!
Sempre às sextas-feiras conhecemos um pouco mais sobre a tradição, a história e a expressão de fé do povo capixaba. Estamos destacando os aspectos históricos da religiosidade local, em pequenas reportagens os destaques que aconteceram na Penha, é uma série de reportagens especiais.
Há mais de quatro séculos e meio, o povo do Estado do Espírito Santo celebra sua padroeira com muito amor e notoriedade, além da fortíssima manifestação devocional à Mãe de Jesus, sob o título de Senhora das Alegrias da Penha. Já conhecemos, por exemplo, como se deu a construção do Santuário desde a chegada do fundador da devoção à Nossa Senhora da Penha em solo capixaba, já vimos um pouco da história do Frei Pedro Palácios, inclusive que morreu com fama de santidade. Também há registros no nosso site sobre as primeiras romarias ao Convento.
Sabemos que ao longo do tempo, desde a chegada de Pedro Palácios até o século passado, o Convento da Penha passou por muitas transformações, inclusive a própria estrutura de “convento” atual, que antes se tratava apenas de um Santuário edificado no cume de um penhasco. Claro que as evoluções correspondiam às necessidades e condições da época, isso quer dizer que toda e qualquer modificação na área onde foi construído o monumento, passou pelas mais diferentes aprovações, não apenas religiosas.
Diante da necessárias intervenções na ampliação do Convento, hoje vamos voltar ao ano de 1750. Aconteceu na Penha… Em 1750, o Provincial Frei Agostinho de São José manda aumentar o prédio do Convento da Penha. Foi neste ano que houve a última grande intervenção. O formato atual do Santuário não sofreu alteração considerável desde o ano citado. Em 1639, Frei Paulo de Santo Antônio iniciou a ampliação do Santuário.
O, na época, “Conventinho”, teve sua construção antes finalizada em 1660, no entanto, pode-se dizer que desde esse período, o Santuário e o Convento estiveram continuamente necessitando de reparos. A posição no alto do monte, batido incessantemente pelos ventos, e o ar salitrado deviam exercer a sua ação deletéria sobre o material desagregando-o e apodrecendo-o. Foi finalizada a construção de mais um corredor com celas, em plano inferior, maior que o de cima, e com quinze janelas para o mar.
O ano de 1750 representa um marco importantíssimo para nossa história. Frei Apolinário da Conceição, o cronista da antiga Província, descreve o primitivo Convento. Leia abaixo
“Do coro faz um antecoro e nele há duas celas, a do sacristão e outra fronteira que serve de coristado. Junto desta vai a escada que vai ter no dormitório, onde assistem os mais Religiosos e que corresponde à portaria e varanda que firmam esta contra ventos fortes das demonstrações de abalo. Do meio do dormitório que segue por outra escada menor que a do ante-coro e cai no dormitório. No fim dele encontramos a casa (sala) De profundis, -refeitório, cozinha e capitulo, ficando por baixo do dormitório as oficinas, nas quais vi, estando neste Convento de romagem, e também na casa De profundis, a água estar correndo por entre as paredes. Isto se vê toda vez que chove, como então fazia o céu. Da porta do capítulo e que serve de clausura dela, debaixo da cozinha, fica a casa da lenha, e no fim uma abreviada (pequena) horta e a Ermida onde faleceu o servo de Deus, da qual, voltando para o Convento, fica uma casa de água, que se recolhe da chuva por meio de umas telhas, postas pela penha. Estas, como todas as mais obras, metem confusão, como se podiam fazer pelo empinado da rocha, onde este Santuário está fundado, por sua altura e eminência, que pela parte mais favorável por onde a ela se chega tem a distância da Via-Sacra, que principiando-se esta na cruz da entrada do monte, vai finalizar na última face da igreja…”

Atualmente o Convento de Nossa Senhora da Penha é tombado como patrimônio histórico cultural pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) desde 1943. Representando assim um marco da engenharia e da arquitetura do período colonial brasileiro, haja vista a construção do principal monumento religioso e turístico capixaba (e um dos principais do Brasil), edificado no alto de um penhasco, teve sua construção que perdura há mais de quatro séculos.
Este santuário testemunha, desde os primórdios do povoamento da terra capixaba, a trajetória histórica evangelizadora dos religiosos da Ordem dos Frades Menores da Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil e, também, a devoção a Nossa Senhora da Penha, padroeira do Estado do Espírito Santo, que ultrapassa as barreiras do Estado, pois milhares de romeiros e devotos chegam ao Santuário para visita-lo, render graças e apresentar suas homenagens e pedidos.

É importante ressaltar que também em 1750, na Capitania do Espírito Santo que havia sido recomprada pela Coroa portuguesa em 1708, foi criado o distrito da Vila do Espírito Santo, atual Vila Velha. E ainda no ano de 1750, depois de descobertas relíquias de santos em solo espírito-santense, por meio um documento antigo do Vaticano que comprovou a existência de restos mortais de dois santos na Igreja do Rosário, foi criada a Paróquia.
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Alguns trechos foram extraídos do Livro dos Romeiros de 1847; “História Popular do Convento da Penha”, 3ª edição 2008 (Guilherme Santos Neves); Livro “O Convento da Penha”, de Norbertino Bahiense (1951).