Paz e Bem!
Em mais uma reportagem reportagem especial sobre a nossa história, vamos conhecer mais sobre a história do Convento da Penha. Sempre às sextas-feiras conhecemos um pouco mais sobre a tradição, a história e a expressão de fé do povo capixaba que há mais de 450 anos celebra sua padroeira com muito amor. Estamos destacando os aspectos históricos da religiosidade local, em pequenas reportagens os destaques que aconteceram na Penha.
Aconteceu na Penha… Em 1609, os restos mortais do Frei Pedro Palácios, que haviam sido sepultados dentro do Santuário, são transladados para o Convento São Francisco, Cidade Alta, Vitória-ES, por ordem de Frei Lourenço de Jesus. Em seu trajeto, “doentes que tocaram os preciosos despojos recuperaram a saúde, entre os quais o corista Frei João dos Anjos, Duarte de Albuquerque e uma filha de Lourenço Afonso” (escrito de Gomes Neto)
Frei Pedro Palácios, irmão leigo da Ordem dos Frades Menores, foi o fundador do Convento de Nossa Senhora da Penha. Natural de Medina do Rio Seco, Salamanca, Espanha. Pelo sobrenome, presume-se que ele pertencia à nobre geração dos Palácios, como se pode constatarem fragmentos de manuscritos de sua vidam, copiado em 1789, que afirma que ele era “parente mui chegado” de Dr. Paulo de Palácios, esmoler da então Rainha D. Catarina. No entanto, atendendo ao chamado do Senhor, para a vida religiosa, ele largou tudo para seguir o Evangelho e pregar a Boa-Nova de Jesus, através dos passos de São Francisco de Assis.
A Escritura de Doação definitiva do Convento da Penha aos franciscanos, em 1591, diz que Frei Palácios “fundado um religioso da sua Ordem, chamado Fr. Pedro, que ali veio com licença de seus Prelados muitos anos, com muito exemplo de vida, e edificação do Povo, e ali acabou virtuosa e santamente, e foi sepultado em uma Ermida e Capela”. Os restos mortais de Palácios foram, inclusive, posteriormente transladados para o Convento Franciscano de Vitória.
Certamente já ouvimos um dito popular que expressa: “fulano já é santo no coração do povo”. Talvez essa situação se encaixa no exemplo de Frei Pedro Palácios. “Avançado em idade, debilitado pelas penosas viagens missionárias, curtido pelas severas penitências, cansado pelos trabalhos na construção de capelas, Frei Pedro pressentia a proximidade da morte. Pedia, no entanto, a Deus a graça de celebrar mais uma vez a festa de Nossa Senhora dos Prazeres; pois, conseguira na Europa uma imagem da Padroeira e desejava entronizá-la e entregá-la ao culto público. Antes da festa desceu à Vila Velha para se despedir dos seus amigos. À pergunta sobre o destino de sua viagem, respondia, sem rodeios que viajaria para a eternidade. Realmente, pouco depois da festa foi encontrado morto em sua ermida, diante do altar de São Francisco. Os doze anos de vida exemplar foram suficientes para levar o povo a considerá-lo santo e sepultá-lo na capela” (Frei Venâncio Willeke, OFM, adaptado)
A fama da santidade de Frei Pedro levou os Franciscanos da Custódia de Santo Antônio (até então atuante em solo espírito-santense e residentes em Vitória desde 1592), a transladar os seus restos mortais para o seu Convento São Francisco, em 1609. O povo de Vila Velha opôs-se a tal pretensão, mas, o Guardião Frei Antônio da Estrela convenceu-o da obrigação de respeitar a tradição dos frades de sepultar os confrades em conventos. Assim, a transladação resultou em uma homenagem triunfal, durante a qual vários doentes ficaram curados. Por isso, Frei Pedro já era tido como “santo no coração do povo”. (Jaboatão I, 2 p. 47s. Entre os curados se achava Frei João dos Anjos, OFM, adaptado)
A literatura existente, de acordo com uma publicação bem recente, do ano de 2003, conta que há indícios que alguns milagres ocorreram durante e após a morte de Frei Pedro Palácios. “Quisera Deus, Nosso Senhor, alertar o povo para a real santidade de seu servo, deixando visível a prova quando foi aberta a sua sepultura (18 de fevereiro de 1609), que foram retiradas veneráveis relíquias: os ossos limpos; a calvaria com seus miolos inteiros e secos, sem corrupção alguma, um pedaço do cordão e outro do hábito franciscano. Rapidamente a notícia se espalhou e várias pessoas que estavam acometidas de graves enfermidades, recorriam à intercessão de Frei Pedro, assim sendo, ao tocarem em seus ossos, recebiam a graça da cura”.
Não se compreende porque os restos mortais de Frei Pedro não foram devolvidos à igreja de Nossa Senhora da Penha, quando em 1650 foi fundado a seu lado um convento franciscano (residência dos frades). Em 1926, depois de fechados os dois conventos, fazia trinta anos, um sacerdote diocesano, encarregado da igreja conventual de Vitória, resolveu exumar todos os ossos das sepulturas antigas e reuni-los num ossário comum. Assim desapareceram os vestígios da sepultura e dos restos mortais do primeiro eremita do Brasil, mas, o Santuário da Penha continua a manter viva a sua gloriosa memória entre os romeiros, o povo e os estudiosos.
Prosseguiram, ardorosos, os franciscanos, em suas construções, na Vitória, quando, em 1616, a Ordem recebeu a notícia de que havia o Custódio Frei Vicente do Salvador instado junto ao Administrador da Prelazia do Rio de Janeiro, Rmo. Dr. Mateus da Costa Aborim, para que se inquirisse da vida e dos costumes de Frei Pedro Palácios, a fim de promover-se, em Roma, sua canonização. Instaurado o processo, a 27 de Julho de 1616, em Vitória, depuseram, como testemunhas, Amador de Freitas, Nuno Lima, Nicolau Afonso, Gomes d’Avila e André Gomes. Funcionou, no processo, o escrivão Gonçalo Mendes da Costa.
Recentemente, em 2012, uma equipe de reportagem da TV Gazeta (afiliada da TV Globo-ES), gravou uma matéria explicando que pesquisadores encontraram ossadas que poderiam ser do fundador do Convento. Segundo a jornalista Poliana Alvarenga, “arqueólogos e pesquisadores capixabas descobriram ossadas humanas enterradas em uma câmara no convento São Francisco, no Centro de Vitória. Entre o material encontrado, eles acreditam que parte seja do Frei Pedro Palácios”. Pesquisadores de São Paulo visitariam o estado para ajudar na análise dos ossos.
“O que estava lá dentro foi uma surpresa. Não imaginávamos que a câmara fosse tão profunda, a partir daí verificamos que havia uma grande concentração de ossos que se espalhavam pela superfície da câmara. Ainda não sabemos a quantidade de pessoas enterradas”, explicou o arqueólogo Henrique Valadares.
Alguns trechos foram extraídos do Livro dos Romeiros de 1847 e “Antologia do Convento da Penha”, ano 1974 (site morrodomoreno.com.br)