Rondinha (PR) – “Espera-se que a Vida Religiosa seja a vanguarda na caminhada da Igreja. Ela deve ser uma espécie de ‘ponta de lança’ que abre caminhos a partir daquilo que lhe é próprio enquanto aprofundamento da dimensão batismal”. Com estas palavras de estímulo e provocação, o bispo auxiliar de Curitiba, Dom Amilton Manoel da Silva, CP, que também já foi Provincial dos religiosos passionistas, convocou os participantes do Encontro de Frades da Frente das Paróquias, Santuários e Centros de Acolhimento a desempenharem seu papel evangelizador nas Igrejas Particulares onde estão presentes. O encontro reuniu, nos dias 22 e 23 de maio de 2019, no Convento São Boaventura, os frades que atuam nas Paróquias do território da Província no Brasil. Cerca de 90% das paróquias e santuários se fizeram representar.
Dom Amilton assessorou a primeira parte do encontro, apresentando o tema “A Vida Religioisa e a Evangelização nas Igrejas Particulares”. No início, apresentou um breve panorama da compreensão da Vida Religiosa numa perspectiva missionária a partir das Conferências do Episcopado Latino Americano. Destacou os seguintes aspectos:
Medellín/1968. Impulsionou, a Vida Religiosa na direção da superação de uma mera “modernização”, na busca de um novo “lugar social” no meio do povo, junto aos pobres. Ela foi convocada a viver a sua missão profética, como testemunha do Reino, no compromisso por uma “evangelização libertadora”.
Puebla/1979. Trouxe a Vida Consagrada no contexto social e eclesial do Continente Latino-americano. São extensas as suas considerações: acerca dos votos (vida, missão e serviço), do comprometimento com as causas sociais (pobres) e particularmente da inserção na Igreja particular como “lugar” da vivência da vida religiosa e do “compromisso eclesial evangelizador”. O documento afirmou que o religioso (a) não descobriu como conviver numa diocese. Há, por isso, tensões entre a missão do bispo e o carisma próprio da Vida Religiosa, com falta de diálogo.
Santo Domingo/1992. Trouxe 7 pontos e 1 número sobre a Vida Religiosa a serviço da educação católica. Foi um resultado magro em relação às orientações de Puebla. Deu continuidade a Medellín e Puebla, pedindo uma evangelização inculturada junto aos pobres, aos indígenas, afro-descendentes e minorias.
Aparecida/2007: Acentuou a raiz batismal da Vida Religiosa – santidade – no discipulado e na missionariedade, para uma presença profética na sociedade e na Igreja, como sinal escatológico do Reino. Elogiou a presença da VRC em situações de pobreza, risco e de fronteira. Desafiou a VRC em meio a uma sociedade individualista e consumista e sinalizou o secularismo presente na VRC.
Num segundo passo, partilhou algumas indicações do Papa Francisco em relação à Vida Religiosa, destacando os elementos da alegria, da esperança e do profetismo. Recordou também a insistência do Santo Padre para que a VR não caia na tentação de guiar-se apenas na lógica dos números e da eficiência e que esteja atenta aos apelos da secularização e do mundanismo. Ainda inspirado no Papa, Dom Amilton ressaltou a importância do carisma próprio de cada instituto: “O carisma de uma Congregação é o fermento, é ele que dá continuidade à Congregação, é criativo e busca sempre novos caminhos; as obras passam. Há muitos religiosos confundindo carisma com obras. O carisma não é uma garrafa de água destilada, precisa ser vivido de acordo com cada lugar, tempo e indivíduo, inculturado”, destacou.
Ao apresentar o lugar na VR na Evangelização em Paróquias e Santuários, Dom Amilton ressaltou três elementos que vão fazer a diferença e tornar fecundo o ministério do religioso na vida paroquial: experiência de Deus, vida fraterna e missão. Recorrendo ao Documento de Aparecida, recordou a força da Espiritualidade do testemunho: “A vida religiosa se converte em testemunha do Deus da vida em uma realidade que relativiza seu valor (obediência), é testemunha de liberdade frente ao mercado e às riquezas que valorizam as pessoas pelo ter (pobreza), e é testemunha de uma entrega no amor radical e livre a Deus e à humanidade frente à erotização e banalização das relações (castidade)” (DAp, 219).
Abordando o tema da vida fraterna e da missão, exortou: “A comunidade religiosa não existe em função de si mesma, mas existe em vista de uma comunidade maior, à humanidade inteira – a temperatura da fé de uma comunidade é determinada por sua abertura à missão”. Como apelo aos frades, pediu especial atenção a três realidades que desafiam a Igreja hoje: o drama dos moradores de rua, a questão do suicídio e também da dependência química.
Estudo, trabalhos em grupo e encaminhamentos práticos
Depois da palestra de Dom Amilton, os participantes passaram para o estudo das Diretrizes da Frente, que fazem parte do Plano de Evangelização (2016-2021). Em seguida encaminharam-se para trabalho em grupo, onde foram provocados a fazer uma avaliação dos trabalhos cotidianos a partir das prioridades eleitas no Plano e também propor sugestões para a animação da Frente no triênio que se inicia.
As propostas discutidas, debatidas e aprovadas foram as seguintes:
1) Designar mais dois frades que possam compor a equipe de animação da Frente das Paróquias, junto com o coordenador, Frei Antônio Michels (Pároco da Paróquia Imaculada Conceição, em Mangueirinha, PR) e o Secretário de Evangelização, Frei Gustavo Medella. A partir de uma sondagem e com aprovação dos participantes, foram indicados Frei Nelson Hillesheim (Pároco da Paróquia Nossa Senhora Aparecida, em Blumenau, SC), e Frei André Becker (Vigário Paroquial das Paróquias Santo Antônio e Santa Clara, em Bauru, SP). Os nomes dos confrades serão apresentados ao Definitório Provincial.
2) Quanto aos encontros que envolvem frades e leigos, abraçar, a princípio, a seguinte modalidade, nos próximos três anos: 2019 – Encontro por paróquias agrupadas a partir dos regionais da Província, com liberdade para articulação entre os regionais que estão próximos; 2020 – Encontros ampliados por região: um com as paróquias do PR e SC; outro com abrangência de SP, RJ e ES; 2021 – Grande encontro provincial para frades e leigos de todas as paróquias, com ênfase na partilha de trabalhos e atividades realizadas na missão. A proposta de temática, metodologia e realização destes encontros deve partir da equipe de animação da Frente.
3) Construir uma página da Frente das Paróquias no site da Província, para veiculação de notícias, artigos, reflexões e subsídios que possam servir para a Evangelização paroquial. Também foi encaminhado que a Frente se organize a fim de mensalmente ocupar um espaço regular nas Comunicações da Província, esta segunda iniciativa a ser organizada a partir dos regionais. A implementação desta iniciativa será encaminhada junto ao setor de Comunicação.
Frei Atílio e o apelo amazônico
Por ocasião da proximidade do Sínodo dos Bispos para Amazônia e para expressar a comunhão orante da Frente das Paróquias com a caminhada da Igreja, Frei Atílio Battistuz, que por diversos anos atuou como missionário na Amazônia Peruana e atualmente está em missão na Prelazia de Marajó, PA, presidiu a Missa da manhã do dia 23. Na homilia, destacou o quanto foi importante para ele o contato com o mundo amazônico e sua diversidade biológia e cultural. “Eu sou branco e descendente de italiano. Nasci em Chopinzinho, PR. Nossa cultura europeia se apoia muito na ideia de dominação e conquista. Conhecer a realidade da Amazônia me fez perceber novas formas de se relacionar com a vida, com a natureza e com as pessoas. Como filhos de São Francisco, precisamos também entrar nesta dinâmica mais marcada pelo respeito e pela acolhida”, enfatizou. Frei Atílio também aproveitou sua participação no encontro para incentivar os frades da Província a fazerem experiências missionárias na Amazônia.
Ano Missionário Extraordinário
O Papa Francisco convocou, para outubro de 2019, o Ano Missionário Extraordinário, com o lema “Batizados e enviados”. O objetivo da iniciativa é “despertar em medida maior a consciência da missio ad gentes e retomar com novo impulso a transformação missionária da vida e da pastoral”. A partir deste incentivo, os confrades foram incentivados a abordar com ênfase esta temática nas paróquias e santuários, dirigindo especial atenção à presença da Província em Angola, através da Fundação Imaculada Mãe de Deus. O convite é para que haja um incremento especial da campanha missionária neste ano, levando o povo a uma maior consciência e proximidade em relação à presença franciscana em Angola.
450ª Festa da Penha e 30ª Caminhada Penitencial Frei Bruno
Duas comemorações importantes para o próximo ano foram recordadas. Frei Pedro Oliveira, em nome da Fraternidade do Convento da Penha, lançou um convite à participação maciça dos confrades na Festa da Penha no próximo ano, quando ela chega à sua 450ª edição e, no próximo ano, será realizada entre os dias 12 e 20 de abril. Também houve a recordação da 30ª Romaria Penitencial em honra a Frei Bruno, no 2º Domingo da Quaresma em 2020, em Joaçaba. A participação efetiva dos frades nesta iniciativa adquire importância ainda maior, dados os encaminhamentos do processo de Beatificação de Frei Bruno que está em curso.
Com informações de Frei Gustavo Medella, do site franciscanos.org.br