O Pontífice lembrou que no dia de sua ordenação, a mãe de São João Bosco, uma mulher humilde e camponesa, “que não tinha estudado na faculdade de teologia”, lhe disse: “Hoje, você começará a sofrer”. Queria enfatizar uma realidade, mas também chamar a atenção, porque se o seu filho pensou que não haveria sofrimento, significava que algo não estava certo. “É uma profecia de mãe”, uma mulher simples, mas com um coração cheio do espírito. Para um sacerdote, o sofrimento é um sinal de que tudo vai bem, mas não porque ele seja um “faquir”, mas pelo que fez Dom Bosco, que teve a coragem de olhar a realidade com os olhos de homem e com os olhos de Deus. “Ele, disse o Papa Francisco, “naquela época maçônica, anticlerical”, de “uma aristocracia fechada, onde os pobres eram realmente os pobres, o descarte, viu aqueles jovens nas ruas e disse: “Não pode ser!”.
“Olhou com os olhos de homem, um homem que é irmão e pai também, e disse: “Mas não, isso não pode ser assim! Esses jovens talvez acabarão sendo condenados e precisarão do apoio de pe. Cafasso. Não, não pode ser assim”, se comoveu como homem e como homem começou a pensar nas maneiras de fazer crescer os jovens, amadurecer os jovens. Estradas humanas. E depois teve a coragem de olhar com os olhos de Deus e ir até Deus e dizer: “Mostra-me isso… isso é uma injustiça… o que fazer diante disso … Você criou essas pessoas para uma plenitude e elas estão numa verdadeira tragédia…”. E assim, olhando para a realidade com o amor de um pai, pai e mestre, diz a liturgia de hoje, e olhando para Deus com os olhos de um mendigo que pede algo de luz, começa a seguir em frente.
Pe. Giuseppe Cafasso confortava os encarcerados, em Turim, no século XIX e muitas vezes acompanhava até a forca, os condenados à morte. Ele ficou conhecido como “o padre da forca” e foi um grande amigo de São João Bosco.
O sacerdote, reiterou o Papa, deve ter “essas duas polaridades”: “olhar a realidade com os olhos de homem e com os olhos de Deus”. Isso significa passar “muito tempo diante do tabernáculo”.
“Olhar dessa maneira fez-lhe ver o caminho, pois ele não foi com o Catecismo e o Crucifixo somente, para dizer: “façam isso…”. Os jovens teriam dito a ele: “Deixa pra lá! Nos vemos amanhã”. Não, não: ele estava próximo a eles, com a vivacidade deles. Fez os jovens distrair, também em grupo, como irmãos. Ele foi, caminhou com eles, ouviu com eles, viu com eles, chorou com eles e os levou adiante assim. Um sacerdote que olha humanamente as pessoas, que está ao alcance de todos.”
O Papa enfatiza assim, que os sacerdotes não devem ser funcionários ou empregados que recebem, por exemplo, “das 15 às 17h30”. “Temos tantos funcionários, bons – continua ele – que fazem o seu trabalho, como devem fazer os funcionários. Mas o padre não é um funcionário, não pode sê-lo”.
Francisco então exorta a olhar com os olhos de homem e “virá a você aquele sentimento, aquela sabedoria de entender que são seus filhos, seus irmãos. E depois, ter coragem de ir e lutar lá: o sacerdote é alguém que luta ao lado de Deus”.
O Papa sabe que “sempre existe o risco de olhar muito o humano e nada o divino, ou muito o divino e nada o humano”, mas “se não arriscarmos, não faremos nada na vida”, adverte.
Um pai, de fato, arrisca pelo filho, um irmão se arrisca por um irmão quando existe amor. Isso certamente comporta sofrimentos, começam as perseguições, a tagarelice: “Este padre está lá, na rua”, com aqueles jovens mal-educados que “quebram o vidro da janela com a bola”.
O Papa então agradece a Deus por nos ter dado São João Bosco que desde criança começou a trabalhar, sabia o que era ganhar o pão a cada dia e havia entendido o que era a piedade, “qual era a verdadeira piedade”. Este homem – sublinha ainda Francisco ao concluir – teve de Deus um grande coração de pai e mestre:
“E qual é o sinal de que um padre está fazendo bem, olhando para a realidade com os olhos de homem e com os olhos de Deus? A alegria. A alegria. Quando um padre não encontra alegria por dentro, pare imediatamente e pergunte o por quê. E a alegria de Dom Bosco é conhecida: é o mestre da alegria, hein! Porque ele fazia os outros se alegrarem e ele mesmo se alegrava. E ele próprio sofria. Peçamos ao Senhor, por intercessão de Dom Bosco, hoje, a graça de que os nossos sacerdotes sejam alegres: alegres porque têm o verdadeiro sentido de olhar para as coisas da pastoral, o povo de Deus, com os olhos de homem e com os olhos de Deus”.