Francisco envia mensagem a encontro de líderes religiosos em Hiroshima, no Japão, que visa promover o desenvolvimento ético da inteligência artificial. O grupo assinou o “Apelo de Roma por uma Ética da IA”, iniciativa elogiada pelo Papa já que “somente juntos podemos construir a paz, graças também a tecnologias ao serviço da humanidade e no respeito de nossa casa comum”.
O Papa Francisco lançou uma mensagem na manhã desta quarta-feira (10/07) na rede social X em referência às palavras dirigidas a representantes religiosos do mundo inteiro reunidos em Hiroshima, no Japão, desde terça-feira (09/07): são mais de 150 participantes de 13 diferentes nações e 11 as religiões representadas no Encontro “Ética da Inteligência Artificial para a Paz”.
“Os líderes das religiões do mundo assinaram em Hiroshima o Apelo de Roma por uma Ética da IA. Somente juntos podemos construir a #paz, graças também a tecnologias ao serviço da humanidade e no respeito de nossa casa comum.”
O apelo foi lançado pela Pontifícia Academia para a Vida em fevereiro de 2020, juntamente com a Microsoft, a IBM, a FAO e o governo italiano. O documento visa fomentar uma abordagem ética da IA e promover, entre as organizações, governos e instituições, um sendo de responsabilidade compartilhada, a fim de moldar um futuro em que a inovação digital e o progresso tecnológico estejam a serviço da genialidade e da criatividade humanas, preservando e respeitando a dignidade de cada indivíduo, bem como a do planeta.
O grupo de líderes religiosos em Hiroshima, então, assinou o apelo conjunto em favor de um uso ético da IA em favor da paz e para proteger a dignidade humana, reforçando a mensagem do Pontífice ao recordar que “a inteligência artificial e a paz são dois temas de absoluta importância”, como teve a oportunidade de enfatizar também aos líderes políticos do G7 na cúpula de 14 de junho na cidade italiana de Borgo Egnazia. Em discurso pronunciado no painel sobre IA naquela ocasião, Francisco alertou sobre a importância estratégica de uma escolha que pode afetar a vida de muitas pessoas: “a máquina faz uma escolha técnica”, enquanto que “o ser humano, pelo contrário, não só escolhe como, no seu coração, é capaz de decidir”. Assim, “devemos ter bem claro que a decisão deve ser sempre deixada ao ser humano, mesmo sob os tons dramáticos e urgentes com que, às vezes, se apresenta na nossa vida”. E o Papa continua a mensagem ao encontro de Hiroshima, reforçando a reflexão já feita ao G7:
“Condenaríamos a humanidade a um futuro sem esperança se retirássemos às pessoas a capacidade de decidir sobre si mesmas e sobre as suas vidas, obrigando-as a depender das escolhas das máquinas. Precisamos garantir e proteger um espaço de controle significativo do ser humano sobre o processo de escolha dos programas de inteligência artificial: está em jogo a própria dignidade humana.”
O encontro na simbólica Hiroshima
O Papa destaca a “importância simbólica” do encontro ser realizado em Hiroshima para se falar sobre inteligência artificial e a paz, já que foi uma das duas cidades atingidas por bombas atômicas no final da II Guerra Mundial, em 1945, num momento histórico de uso de armas nucleares durante uma guerra e contra alvos civis. E, já que “em meio aos atuais conflitos que abalam o mundo” se ouve falar dessa tecnologia, o evento que termina nesta quarta-feira (10/07) é de “extraordinária importância”, reitera o Pontífice, ao acrescentar:
“Ao elogiar essa iniciativa, peço que mostrem ao mundo que, unidos, exigimos um compromisso proativo para proteger a dignidade humana nesta nova temporada de uso das máquinas.”
A proibição das armas letais autônomas
Ao finalizar a mensagem aos representantes religiosos, Francisco reforça sobre a capacidade de união dos líderes mundiais no compromisso a uma “gestão sábia da inovação tecnológica” e reza “para que cada um de nós possa se tornar instrumento de paz para o mundo”. E, como fez à cúpula do G7, o Papa também insiste aos participantes do encontro de Hiroshima sobre a proibição de armas letais autônomas:
“É fundamental que, unidos como irmãos, possamos lembrar ao mundo que: num drama como o dos conflitos armados, é urgente repensar o desenvolvimento e o uso de dispositivos como as chamadas ‘armas autônomas letais’, a fim de banir a sua utilização, começando desde já pelo compromisso efetivo e concreto de introduzir um controlo humano cada vez mais significativo. Nenhuma máquina, em caso algum, deveria ter a possibilidade de optar por tirar a vida a um ser humano.”