Paz e Bem.
Na noite de quarta-feira, 9 de outubro, a Comunidade Santa Clara, pertencente à Paróquia Nossa Senhora do Rosário, em Vila Velha (ES), se encheu de vida e espiritualidade franciscana para celebrar o segundo dia do tríduo em preparação à Ordenação Presbiteral de Frei Felipe Medeiros Carretta. O tema da noite, “Vocação religiosa consagrada”, convidou os fiéis a refletirem sobre o seguimento de Jesus Cristo à maneira de São Francisco de Assis.
A celebração foi presidida por Frei Danilo Santos Oliveira, vigário paroquial da Paróquia São Luiz Gonzaga de Xaxim (SC), e contou com a presença de diversos frades e fiéis da comunidade local. Durante o dia, os missionários franciscanos visitaram as comunidades São Sebastião e Cristo Rei, levando bênçãos, conforto e o convite para o dia da ordenação que se aproxima.
Logo no início da celebração, Frei Gabriel Dellandrea, da equipe provincial do Serviço de Animação Vocacional (SAV), explicou o sentido do hábito franciscano, a veste que traduz, em tecido e cor, o carisma e o modo de vida inspirado por São Francisco.
“Vamos pegar a túnica. Peço que você segure numa mão e eu seguro na outra, para identificarmos bem o que significa esta veste”, começou Frei Gabriel, dirigindo-se a Frei Felipe diante da assembleia. “Ela tem o formato de uma cruz, simbolizando que nós, franciscanos, assumimos como primeiro carisma abraçar a cruz de Cristo. Jesus nos convida a fazermos o seguimento da cruz. Quem quiser me seguir, renuncie a si mesmo e tome a sua cruz”.
Frei Gabriel explicou ainda que a cor marrom do hábito não é uma escolha estética, mas um sinal de humildade e despojamento.“Na Idade Média, quanto mais colorida fosse uma roupa, mais posses e riquezas a pessoa tinha. São Francisco escolheu justamente o contrário: a cor natural da lã, sem tintura. É a cor da terra, que nos convida à humildade”, disse.
O frade seguiu mostrando o cordão com três nós, símbolo dos votos de pobreza, castidade e obediência, fazendo a assembleia sorrir com bom humor franciscano: “Todo mundo pensa que o cordão serve para segurar a barriga do frade, mas não é só pra isso!”, brincou. “Os três nós lembram os nossos votos. Pela obediência, dizemos sim quando somos enviados; pela pobreza professamos que nada é nosso e tudo é da Igreja; e pela castidade, aprendemos a ver tudo com os olhos de Deus”.
Por fim, ao falar sobre o capuz, Frei Gabriel destacou seu duplo sentido prático e espiritual: “O capuz protege da chuva e do sol, é verdade. Mas também simboliza uma capela. Quando São Francisco o colocava, era sinal de oração. O frade, com o capuz, faz do seu corpo uma capela viva, onde encontra a face de Deus em todas as criaturas”. E completou: “Quando morremos, somos sepultados com o capuz, porque a morte é esse encontro pleno com Deus. Assim, até o nosso hábito fala da eternidade e da missão”.
A vocação consagrada: “uma resposta generosa de amor”
Em sua homilia, Frei Danilo aprofundou o tema da noite, falando sobre a vida religiosa consagrada como “resposta de amor generoso a Deus”. Dirigindo-se a Frei Felipe e à assembleia, o celebrante fez uma reflexão sobre o seguimento de Cristo na forma franciscana de viver. “Jesus deixa bem claro: quem quiser me seguir, renuncie primeiramente a si mesmo, às suas vontades, àquilo que te prende neste mundo. Tome a sua cruz e me siga”, afirmou. “A cruz é essa responsabilidade da abdicação de tudo, para que possamos seguir livremente a Cristo, sem reserva”.
O frade explicou que a vocação consagrada nasce da iniciativa divina e da resposta humana: “A escolha é de Deus. É Ele quem chama primeiro. A nós cabe o coração aberto para ouvir esse chamado e responder generosamente, seguindo Cristo pobre e crucificado”.
Ele também recordou os conselhos evangélicos professados pelos religiosos: pobreza, castidade e obediência, como expressão concreta da consagração. “O consagrado é aquele que se deixa moldar por Cristo. Pela castidade, testemunha que o amor de Deus é suficiente; pela pobreza, vive sem nada de próprio; e na obediência, se coloca inteiramente nas mãos de Deus para servir”.
Ao falar sobre o papel profético da vida consagrada, Frei Danilo recordou exemplos marcantes de nosso tempo: “O consagrado é um farol que indica o caminho do céu. É o aconchego de Deus na Terra. Lembremos De Irmã Dorothy, de Santa Dulce dos Pobres, sinais vivos de uma entrega total, que iluminaram o mundo com gestos de amor e serviço”.
“Não perca de vista o ponto de partida”
Encerrando sua homilia, dirigindo-se a Frei Felipe e recordando sua trajetória e as raízes da vocação, disse: “Santa Clara tem uma frase muito bonita: ‘não perca de vista o ponto de partida’. O ponto de partida é o encontro com Jesus. É aquele primeiro momento em que o teu coração se sentiu tocado por Deus.”
Ele convidou o futuro presbítero a revisitar sempre os momentos fundantes de sua caminhada: “Sempre que precisar, volta lá atrás, Felipe. Lembra da tua comunidade, do teu batismo, da tua família, da oração do povo que te sustentou. Porque quando vier o desânimo, a solidão ou o cansaço, é esse primeiro amor que vai reacender a chama da sua vocação. É ali, nesse ponto de partida, que o Senhor vai te esperar para renovar tuas forças e tua paixão pela vocação. Que o teu ministério, abraçado a partir deste sábado, seja fecundo e cheio da graça de Deus”, concluiu.
A Celebração Eucarística que foi concelebrada pelos diáconos Frei Felipe Carretta e Frei David Belineli terminou com os agradecimentos e a apresentação de todos os frades presentes. Frei Felipe será ordenado no próximo sábado, dia 11 de outubro, às 18 horas por Dom Andherson Franklin Lustoza de Souza, bispo auxiliar de Vitória (ES), no Santuário Divino Espírito Santo de Vila Velha. A Celebração também será transmitida pela TvFranciscanos, no YouTube.
A Celebração também foi um apelo vocacional que mostrou com simplicidade a beleza da vida consagrada, marcada por simplicidade, fraternidade e entrega a Deus. Ficou mais uma vez evidente que ser franciscano é vestir-se de Cristo e seguir o Evangelho com o coração livre.
Frei Augusto Luiz Gabriel
por 