Paz e Bem!
Aspiração da humanidade, “objeto da nossa esperança”, “bem precioso”. Deste modo, Francisco traça a paz, meta para a qual se deve tender apesar das fadigas. A esperança – escreve o Papa -, é a virtude que nos coloca no caminho, que nos dá asas para avançar, mesmo quando os obstáculos são intransponíveis”. O Pontífice recorda “os sinais da guerra e do conflito”, impressos “na memória e na carne”, que “não cessam de atingir especialmente os mais pobres e os mais fracos”. Traumas que são fruto da humilhação, exclusão, luto, injustiça, assim como da implacabilidade sistemática contra o próprio povo e a própria família.
Libertar-se das correntes
“Também inteiras nações – lê-se a mensagem – estão lutando para se libertar das correntes de exploração e corrupção, que alimentam o ódio e a violência”. Assim, homens e mulheres, crianças e idosos são privados de dignidade, integridade física e liberdade, “incluindo a liberdade religiosa”. “Toda guerra – escreve o Papa – se revela um fratricídio que destrói o próprio projeto de fraternidade, inscrito na vocação da família humana”. Francisco explica as razões da guerra que muitas vezes surge da impaciência com a diversidade do outro e que “fomenta o desejo de posse e a vontade de domínio”.
A guerra vem do coração do homem poluído pelo egoísmo, orgulho e ódio para com o outro, “imagem negativa” e, portanto, a ser cancelada e excluída. É “perversão das relações, das ambições hegemônicas, dos abusos de poder, do medo do outro e da diferença vista como um obstáculo”. Recordando o que disse no Japão, Francisco enfatiza que “a paz e a estabilidade internacionais são incompatíveis com qualquer tentativa de construir sobre o medo da recíproca destruição ou sobre uma ameaça de aniquilação total”, mas surgem apenas de “uma ética global de solidariedade e cooperação”.
Desconfiança e medo
“A desconfiança e o medo aumentam a fragilidade das relações e o risco de violência, num círculo vicioso que nunca poderá conduzir a uma relação de paz. Neste sentido, também a dissuasão nuclear não pode criar uma segurança ilusória”. Que caminho seguir então, quebrando a dinâmica da desconfiança? O Papa afirma na sua Mensagem: “Devemos buscar uma verdadeira fraternidade, controlada pela comum origem de Deus e exercida no diálogo e na confiança mútua. O desejo de paz está profundamente inscrito no coração do homem e não devemos resignar-nos a nada menos que isso”.
Francisco usa a imagem de um edifício a ser construído para definir a paz, um caminho a ser percorrido juntos para buscar o bem comum, mantendo a palavra dada e respeitando a lei. “O mundo – explica o Papa – não precisa de palavras vazias, mas de testemunhas convictas, de pacificadores abertos ao diálogo sem exclusões nem manipulações”. O caminho a seguir é o confronto, o compromisso de buscar a verdade para além das diferentes ideologias, o aumento da estima pelo outro, “até reconhecer no inimigo o rosto de um irmão”. Um trabalho paciente que abre a esperança, “mais forte que a vingança” e que pode “despertar nas pessoas a capacidade de compaixão e solidariedade criativa”. A Igreja, portanto, em memória de Cristo, participa na busca de uma ordem justa, servindo o bem comum.
Artesãos de paz
O caminho para a reconciliação – sublinha Francisco no último capítulo da Mensagem – requer paciência e confiança. A paz não se alcança se não se espera. É necessário acreditar, inspirado no amor de Deus por cada um de nós, “amor libertador, ilimitado, gratuito, incansável”. O convite do Papa é ir além dos medos, fonte de conflitos, fazendo crescer a cultura do encontro, “possibilidade e dom do amor generoso de Deus”, para viver a fraternidade universal. Um caminho sustentado, nos fiéis, pelo sacramento da Reconciliação, caminho de cura contra a violência dos pensamentos, palavras e obras para com o próximo e a criação. No perdão recebido, nos colocamos a caminho para oferecê-lo aos outros, dia após dia, tornando-nos cada vez mais “artesãos de justiça e paz”.