Frei Augusto Luiz Gabriel e Moacir Beggo
Vila Velha (ES) – Virgem da Penha, Minha Alegria”. Foi com essa motivação que uma multidão de cerca de 700 mil romeiros foi às ruas, rezando e cantando o tempo todo, sem incidentes, para homenagear Nossa Senhora da Penha na maior manifestação religiosa do Estado do Espírito Santo. Com esta Romaria dos Homens, neste sábado (07/4), 60 anos se passaram desde que passou a ser noturna, já que em 1958, sob o governo diocesano de Dom João Batista da Mota e Albuquerque, passou a ser noturna no sábado que antecede a Festa, somente para homens. Mas ela foi instituída em 1955, por Dom José Joaquim Gonçalves, quando na época era diurna e frequentada por homens e mulheres (Carnielli, 2006, p. 124). Hoje, só no título é para homens. Ela é a grande concentração de todos os fiéis da Penha.
Essa grandiosa manifestação de fé percorreu 14 quilômetros, entre as cidades de Vitória, a capital, e Vila Velha, onde está o Convento da Penha. Quase meia-noite ainda havia romeiros chegando no Parque da Prainha, enquanto Dom Luiz Mancilha presidia a Celebração Eucarística, encerrando esta grande manifestação do Oitavário. A Missa foi concelebrada por D. Rubens Sevilha, sacerdotes de todo o Estado e os frades do Convento da Penha e da Província da Imaculada Conceição.
Para o povo, não importa o tempo, se com calor, chuva ou ventos, no dia desta Romaria. Todos querem estar neste grande cortejo mariano. É interessante ver a massa se formando aos poucos no entorno da Catedral. As velas acesas, aos poucos, iluminam a noite como um “rio” de vagalumes. Hoje, a tecnologia dos celulares se juntam às velas para iluminar ainda mais a caminhada. Hoje, outra romaria cibernética tem início: a multidão, de 700 mil pessoas reproduz em tempo real imagens e vídeos para o mundo inteiro. A partida só foi dada depois da Missa do envio, presidida por Dom Rubens Sevilha, às 18 horas. Às 19h20, Dom Sevilha deu a bênção e pediu ao povo que caminhasse com Maria e Jesus Ressuscitado com muita calma.
O início da romaria é sempre emocionante: os sinos da Catedral avisam que chegou a hora da partida, as velas se acendem e um grupo de homens, conhecido como a “Corrente da Penha” ou “Guardiães da Penha”, começa a abrir caminho para o ‘Penhamóvel’ passar, especialmente nas ruas mais estreitas do Centro da capital capixaba, a partir da praça Dom Luiz Scortegagna.
Nas ruas mais estreitas do centro de Vitória, a multidão teve calma para esperar que a caminhada ganhasse ritmo. A primeira rua a reunir a multidão na partida tem um nome especial: Frei Pedro Palácios, o dono da festa. Até chegar à Segunda Ponte, o percurso seguiu pelas ruas José Marcelino, Dr. Benjamim Costa, São Francisco, Caramuru, Cais de São Francisco e Cleto Nunes, além das avenidas Marcos de Azevedo, Duarte Lemos e Nair de Azevedo.
Quando a marcha dos peregrinos de Maria atingiu a Segunda Ponte e a avenida Carlos Lindenberg (liberada nas duas pistas), o ritmo foi um pouco mais forte e, duas horas depois, alguns romeiros já chegavam na Prainha ou subiam o Morro da Penha. A grande multidão, contudo, caminhou tranquilamente no trajeto, rezando e cantando, acompanhando os carros de som. No percurso de 14 quilômetros, o público foi se juntando à marcha. Quem não quis caminhar, mesmo assim foi para as ruas e saudou os romeiros. A Prefeitura fez interdições também em um trecho da Avenida Jerônimo Monteiro e o início da Avenida Champagnat, até o acesso final à Rua Antônio Ataíde.
Do alto do trio elétrico, não se consegue ter uma visão total da multidão. Ela perde de vista. Alguns cálculos diziam de cinco a sete quilômetros tomados pela multidão. O que se vê é que, à medida em que a Região Metropolitana de Vitória cresce, a Romaria também cresce. No Espírito Santo, 48% da população está na Grande Vitória. Dos mais de 4 milhões de habitantes, 1.960.213 vivem em Vitória, Vila Velha, Serra, Cariacica, Viana, Fundão e Guarapari (segundo dados do IBGE 2017). Só a cidade de Serra tem mais de 500 mil habitantes.
Não bastasse isso, há romarias que vêm de todas as cidades do Estado. Só para se ter uma ideia, a Romaria da Diocese de São Mateus, que celebrou no Campinho às 8 horas, trouxe mais 30 ônibus de romeiros, e a Romaria da Diocese de Cachoeiro de Itapemirim, que celebrou às 15h00 no Campinho, trouxe mais de 50 ônibus. Há romeiros que vêm a pé, por exemplo, de Guarapari, cidade litorânea próxima de Vila Velha. A procissão de Guarapari acontece há 39 anos e os romeiros caminham aproximadamente 11 horas, sendo assistidos por uma equipe de apoio com socorristas e ambulâncias.
Uma multidão preferiu aguardar e garantir o lugar na Prainha para a Celebração Eucarística, que começou com a chegada da imagem à Prainha por volta das 23h30, quando teve início a Santa Missa presidida por Dom Luiz Mancilha Vilela e concelebrada pelos bispos auxiliares de Vitória, pelo Guardião e Definidor da Província da Imaculada Conceição, Frei Paulo Pereira, o Definidor Frei Gustavo Medella, sacerdotes de toda a Arquidiocese e do Estado. Religiosos, seminaristas, autoridades civis e militares participaram da celebração que terminou por volta da 1 hora desta madrugada do domingo.
É importante destacar que a multidão que se viu na Prainha é apenas uma parte dos romeiros que marcharam depois de 4 horas. Muitos não acompanharam todo o cortejo, outro grupo grande ainda teve fôlego para subir o Morro da Penha. Ao mesmo tempo que as ruas próximas da Prainha recebiam a multidão, outras milhares de pessoas voltavam para suas casas.
A Gruta de Frei Pedro Palácios na Prainha, a entrada do Portão Principal e o velário do Campinho são usados pelos romeiros para deixar as velas acesas que foram carregadas no percurso da romaria. Na Prainha, muitos peregrinos descansavam os pés, os joelhos e as mãos, deitados ou sentados no chão.
A Festa da Penha, a mais antiga festa mariana do Brasil, já é o terceiro maior evento mariano do país, atualmente reunindo mais de 1,5 milhão de devotos, que durante os nove dias da festa participam de cerca de 43 missas, além das Romarias. Neste domingo, às 16 horas, o povo vai dar outra grande demonstração de fé na Romaria das Mulheres.
CARNIELLI, Adwalter Antonio. História da Igreja Católica no Espírito Santo: 1535-2000. 2.ª Ed. Vila Velha: Comunicação Impressa, 2006
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