Paz e Bem!
O evento “Economia de Francisco”, que selecionou estudantes capixabas, convoca os jovens para protagonizarem a construção de uma nova economia, que dê fim à exploração e a exclusão econômica
Depois da crise da pandemia, “a pior reação das pessoas seria cair ainda num febril consumismo e em novas formas de autoproteção egoísta”. A partir desta provocação, o papa Francisco inflamou os corações e consciências de dois mil jovens economistas, empreendedores e promotores de mudança de 115 países convidados para o grande desafio de discutir a construção de um novo sistema econômico baseado no bem comum. O evento online “Economia de Francisco”, com transmissão em streaming, direto de Assis, na Itália, aconteceu entre os dias 19 e 21 de novembro, com o envolvimento de pensadores de renome mundial.
Um dos três capixabas selecionados para integrar o grupo foi o estudante capixaba de Medicina da Ufes, Marcos Batista Araujo Herkenhoff, de 22 anos, morador de Vitória. Marcos iniciou a trajetória no Movimento Estudantil, em 2016, no Instituto Federal de Educação Tecnológica (Ifes), na luta contra a EC95, a Pec do Teto de Gastos. Foi membro do Conselho de Juventude de Vitória. Desde 2018, atua no Movimento Estudantil da Ufes, sendo conselheiro do Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão. Atualmente compõe a gestão 2019-2020 do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da Ufes, inicialmente, na Diretoria de Saúde e, depois, na Secretaria Geral, além de também integrar a Direção Executiva Nacional dos Estudantes de Medicina.
De acordo com o estudante, o encontro de articulação ecumênica nasceu da resistência contra um sistema econômico que se consolidou em forças como as injustiças, as desigualdades, a exclusão, o consumismo, o individualismo e a cultura do descarte. “A antiga economia se sustenta na inversão de valor através da qual o homem serve à economia e não há uma economia a serviço da humanidade, construída com a participação popular”, destaca um dos jovens convidados para debater o assunto com o papa e a juventude mundial.
Trabalho e Cuidado
Articulados em vilas temáticas, os participantes discutiram temas como Administração e Dom; Finanças e Humanidade; Trabalho e Cuidado; Energia e Pobreza; Agricultura e Justiça; Negócios e Paz; Mulheres pela Economia; CO2 das Desigualdades; Lucro e Vocação; Empresas em Transição; Vida e Estilos de Vida; Políticas e Felicidade. O capixaba participou das discussões em torno do tema “Cuidado e Trabalho” cuja proposta é a remodelação do significado do trabalho na sociedade, resgatando o cuidado com as pessoas e o meio ambiente.
Para auxiliar nas reflexões, o encontro contou com a participação de especialistas internacionais como o economista indiano, Prêmio Nobel de Economia 1998, Amartya Sen; o economista e banqueiro bengalês, Prêmio Nobel da Paz 2006, Muhammad Yunus, incentivador do microcrédito e dos negócios sociais; e o economista e ensaísta estadunidense, da Columbia University, Jeffrey Sachs.
“A luta do movimento estudantil não é restrita às questões dos jovens, pois queremos uma transformação mais ampla capaz de discutir e promover políticas públicas construídas dentro de um modelo econômico mais justo, solidário e inclusivo. Queremos construir com a participação do povo uma economia fraterna, solidária, igualitária e inclusiva, que tenha a vida como centro e objetivo, e que cuide da casa comum, nosso planeta”, explica Marcos Herkenhoff. Durante a pandemia, o estudante participou da Campanha Solidária Chega Mais em favor dos estudantes da Ufes em situação de vulnerabilidade social.
Protagonismo jovem
As palestras, conferências e debates que compuseram o encontro “Economia de Francisco” buscaram inspiração nos valores vivenciados por São Francisco de Assis cujo exemplo de vida se firmou no compromisso com o cuidado e a atenção aos mais pobres e excluídos e na proteção da terra e de todos os seres da natureza.
Em sua mensagem de envio, ao final do evento, o papa Francisco convocou os jovens para a construção de novos modelos de desenvolvimento, progresso e sustentabilidade em que as pessoas sejam protagonistas e a natureza seja preservada. Para o sumo pontífice, a humanidade precisa mudar o estilo de vida e os modelos de produção e consumo, retornando à mística do bem comum, posicionando a política e a economia a serviço da vida humana. Por meio desta inspiração franciscana e da convocação da juventude para o protagonismo da mudança contra a concentração da riqueza, segundo o estudante, a busca por um novo sistema, novos processos, novos percursos e horizontes exige a superação do ciclo neoliberal de subjugação gerador da degradação, da exclusão e da violência no planeta.