Homilia de Dom José Negri

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“Se alguém tem sede, venha a mim e beba” (Jo 7,37)

Caro  Frei Alberto!

Saiba da minha grande alegria por ter sido convidado para presidir esta Ordenação em que, pela imposição de minhas mãos, o Espírito o ungirá e como nosso novo apóstolo. Estou feliz, pois é a primeira vez que ordeno um filho de São Francisco, santo pelo qual tenho muita estima e veneração.

Hoje é um dia de festa. O povo, numeroso, vem confirmar a alegria de ter mais um irmão entre nós, o qual foi chamado a servir à Igreja como presbítero na Ordem dos Frades Menores que, há mais de cem anos, está semeando a boa nova nestas terras. Todos nós nos alegramos: a sua família aqui presente, a família franciscana, representada pelo Ministro Provincial, a Diocese em que você nasceu e que represento, a sua paróquia, onde você  quis ser ordenado. Por essa graça, todos louvamos e agradecemos ao Senhor!

O lema que você escolheu – “Se alguém tem sede” – nos lembra um episódio importante do evangelho, relatado por João: o encontro de Jesus com a samaritana que tinha ido a um poço buscar água. Ao encontrar-se com Jesus ela teve saciada a sua sede, com a água que é fonte de vida e que somente Ele poderia proporcionar (Jo 4).

A sede pode expressar um desejo: um, entre os mais comuns, como o de algo tão natural, como a água; mas ela pode também simbolizar outro tipo de desejo. São Francisco, por exemplo, na primeira fase de sua vida sentia sede, mas de riqueza, de poder, de vingança contra seus inimigos e corria, corria sem sossego atrás disso. Em certo ponto, a sua sede se transformou e o encontro com o Senhor lhe mudou a vida; ele passou a ter sede do evangelho, de auxiliar os pobres e de atender os leprosos, que eram excluídos da sociedade. Por isso hoje, caro Frei Alberto, São Francisco lhe diz: “Venha a mim”, isto é, “veja como foi a minha vida, apreenda do meu exemplo, entenda e viva sua vida como eu vivi a minha, no caminho do Mestre”. E ainda: “Cultive em seu coração a sede do evangelho, tenha ‘sede’ dos pobres, dos que estão às margens da sociedade, tenha ‘sede e fome de justiça’”.

Essa sua sede, meu caro ordenando, é a de um jovem que quer doar a vida pelo Reino, é a sede de alguém que, depois de anos de caminhada vocacional, sente-se preparado não só para atender ao chamado de Jesus – “venha a mim” -, mas, sobretudo, aceitar ser como o próprio Jesus. A pergunta que lhe farei daqui a pouco será: “Queres unir-te cada vez mais ao Cristo, sumo sacerdote, que se entregou ao Pai por nós, e ser com ele consagrado a Deus para a salvação da humanidade?”. Isso, em poucas palavras, é como se Jesus estivesse perguntando: “Você quer comigo subir à Cruz?” E não esqueçamos quando Jesus, nos últimos momentos de sua vida, deu tudo para todos. Quando ele disse: “Tudo está consumado!” também acrescentou: “Tenho sede!”. Ele deu tudo de si, a vida Dele foi uma doação total, que no fim Ele precisou de nós. “Tenho sede!”.  Essa também não foi por acaso a experiência mística de Francisco? Ele procurou tanto o Cristo sofredor que O encontrou e, quando se uniu misticamente ao Crucificado, ficou marcado pelos estigmas, que se reproduziram em sua carne.

Hoje, o nosso mundo, a sociedade, precisa de outros Franciscos. No mundo em que nós vivemos, onde predomina o individualismo, a secularização tomou conta da sociedade. Precisamos de alguém que assuma na sua carne, na sua pele, na sua vida, os estigmas de Jesus.  E hoje Francisco está aqui ao seu lado para lhe acompanhar nesta sua doação.

Essa doação exige sacrifícios. É claro que você não está sozinho na entrega de sua vida ao Reino. São Paulo, na carta aos Romanos, nos esclarece que “é o Espírito que vem em socorro da nossa fraqueza”. De fato, quem poderia doar-se, totalmente, com o peso da própria condição humana, dos próprios defeitos, das imperfeições? Justamente hoje, dia em que celebramos as vésperas da grande festa de Pentecostes, saiba que o Espírito não o deixará só. Ele o acompanhará ao longo de seu ministério e lhe promete – conforme diz o Evangelho (Jo 7,38) – que rios de água viva, frutos e bênção o acompanharão e a sua sede de Deus será saciada.

Dom José Negri,

bispo diocesano de Blumenau (SC)

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