Frei Paulo Roberto: “Os fariseus dos nossos dias”

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Paz e Bem!

Já se tornou uma tradição, por parte dos capixabas e de turistas, visitar o Convento da Penha aos fins de semana. Especialmente aos domingos, o Santuário da Virgem da Penha recebe milhares de fiéis, devotos, turistas e peregrinos. Domingo é o dia do Senhor, dia de descanso, dia de passeio, dia de subir ao alto da Penha Sagrada para rezar. Domingo é dia de visitar o Convento. E foi o que fizeram incontáveis pessoas no primeiro domingo do Mês da Bíblia, setembro.

Em todas as Missas o número de devotos era tão grande que muitos participaram na escada ou mesmo nos corredores. A Missa das 9h, foi presidida pelo Frei Paulo Roberto Pereira, o Guardião do Convento. “Nossos lábios bendizem o nome do Senhor que nos reúne para celebrar o amor, somos tantos, muitos, de tantos lugares. Aqui viemos e nos encontramos com o perdão e com a graça no Convento da Penha. É bom estarmos aqui, é bom vivermos este momento em família, irmãos e irmãs, esse é o dom da nossa Igreja”, afirmou o frei.

Na homilia, para explicar os “meses temáticos” da Igreja, Frei Paulo utilizou uma experiência vivida por ele mesmo. “Esses dias eu fui fazer compras supermercado e tomei um susto danado, e nem era com os preços, porque são de assustar, mas isso a gente já vai preparado. Antes chegávamos com 100 e trazia uma ‘comprona’, hoje a gente chega com 100 e não traz nem metade daquela compra, isso assusta muito, deixa a gente preocupado. O meu susto foi por ter encontrado lá, oferta de panetone. Já! Que susto! Porque panetone se associa diretamente ao Natal. Nossa, já vai chegar o Natal!” – brincou – e continuou: “Esse ritmo alucinado que a gente coloca, vai nos fazendo perder algumas coisas importantes… São nossas atitudes que aceleram o tempo e a gente deixa de saborear as coisas importantes. Estamos começando o mês de setembro, que é o mês da bíblia, logo vem outubro que é o mês missionário, e depois vem novembro… Chegou o Natal! Os meses temáticos existem não para restringir a atenção da Igreja daquele tema naqueles trinta dias, não. São como que alertas: ‘presta atenção na vocação! Presta atenção na Sagrada Escritura!’…” – e foi listando os temas de julho até outubro – e acrescentou: “não é para pensarmos nesses trinta dias, exclusivamente em cada tema. É necessário pensarmos nisso sempre. Como é importante lembrar nas vocações, não só as vocações dos padres, bispos, freis… mas a vocação de toda a Igreja, a vocação de todos nós.

Viver a alegria de ter sido escolhido por Deus, entre todas as criaturas do universo, Deus deitou os seus olhos sobre nós e disse ‘é meu! Eu quero! Eu escolho!’. Deus nos escolheu! Nós todos fomos eleitos por Deus para viver o Seu amor. Viver no dia a dia o amor do Senhor. Testemunhar o Evangelho, onde quer que estivermos. Essa é nossa vocação”, explicou Frei Paulo Roberto.

Explicando sobre o “Mês da Bíblia”, o frade comentou: “Entre tantos barulhos a gente distingue com clareza a voz do Senhor. Para escutar o que Deus tem a nos dizer, é necessário chegar nosso coração próximo do coração de d’Ele, é necessário nos aproximar, ouvir a sua Palavra… Por isso este mês é o mês de obedecer, de treinar os ouvidos. Há muitos barulhos entre nós, muitíssimos! A gente aumenta os barulhos… Somos seres que gostamos dos barulhos, e nesse ‘barulhão’ todo a gente não entende mais muita coisa. Obediência é uma virtude que a gente cultiva a partir dos ouvidos. Obedece bem, quem escuta bem. Mês de prestar mais atenção, mais atenção para ouvir como é bonita a decisão de Deus por nós e ouvir o que fala o livro do Eclesiástico, o elogio à humildade. Nós seres humanos fomos criados a partir da generosidade de Deus. Ele criou os mares, as estrelas, os astros do universo, criou os animais, as plantas… Para completar a sua obra criadora, Ele faz do barro, do húmus, da parte mais fértil da terra, Ele faz o ser humano. Húmus, humildade. Somos feitos da natureza mais cara do Senhor. Por isso, nosso nome deveria ser ‘humildade’, quando nos afastamos da humildade, nos afastamos da nossa essência”, explicou Frei Paulo.

Sobre o Evangelho, o Guardião reafirmou que a “humildade” novamente aparece na narração de Lucas (capítulo). “Jesus foi convidado para um banquete na casa de um fariseu. Ele muito perspicaz e sensível, notou o comportamento das pessoas que queriam sempre os primeiros lugares e diz ‘não está muito certo isso não, a humildade está fazendo falta aqui para vocês!’ Ele argumenta, orienta ‘para você não passar vergonha’, então presta atenção na sua atitude. Jesus nos dá mais, além do exercício da humildade, para nos encontrarmos com a nossa essência, e diz, para não passarmos vergonha, que para ser humildade é necessário ser humano. Você vai escolher para a sua festa, aqueles que não podem te retribuir. A humildade é necessária, importantíssima, mas para ser feliz de fato, é necessário servir aos pobres. Sirva aos pobres e você será feliz!” – e continuou –

“Para a gente ser feliz, é importante a gente servir sem esperar ser servido. Por isso escolher os pobres, os coxos, os aleijados, os últimos, aqueles que não vão poder retribuir na mesma moeda, não vão nos convidar para grandes banquetes, mas vão trazer uma paz danada para o nosso coração. Fariseus, na nossa língua, significa ‘separados’, por eles serem assim, separados, achavam-se melhores do que os outros. A gente tem de tomar um cuidado danado, porque está entrando na nossa cultura uma história de ‘gente de bem’. Eu sou ‘gente de bem’! E o resto tudo é gente do mal? Tem de tomar cuidado com isso! ‘Gente de bem’, geralmente está desprezando o outro, pode prestar atenção quando ouvimos essa expressão. ‘Gente de bem’, tem de ter cuidado para a gente não ficar fariseu, não se apartar do outro, só porque o outro não tem a mesma cor da pele que a minha, só porque ele não mora no mesmo bairro que eu, só porque ele não estuda na mesma escola que meus filhos estudam… O farisaísmo não pode entrar entre nós! Jesus nos ensina: humildade e escolha pelo mais frágil”, concluiu Frei Paulo.

Assista a reflexão na íntegra abaixo.

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