Paz e Bem!
No penúltimo domingo antes do fim do ano litúrgico, a Igreja proclamou no 33º Domingo do Tempo Comum, o Evangelho de Lucas 21,5-19, em que Jesus ensina a perseverança diante das adversidades, pois é permanecendo firmes que se alcança a vida eterna. O Senhor nos chama atenção contra as propostas que transmitem medo e engano; e assim, nos convoca a trabalharmos pela justiça e pela paz. Na celebração dominical, também foi lembrada uma data muito importante para a Igreja Católica instituída pelo Papa Francisco em 2016, quando pediu que se celebrasse o Dia Mundial dos Pobres, chegando neste ano de 2022 em sua 6ª edição.
O Convento da Penha acolheu milhares de fiéis ao longo do dia; especialmente alguns que rezavam pelos filhos, netos, amigos e conhecidos que fizeram a prova do Exame Nacional do Ensino Médio, o ENEM; além disso, muitos outros romeiros e turistas de estados próximos ao Espírito Santo, que aproveitam o feriado prolongado em terras capixabas.
Apesar do calor forte, muitas pessoas participaram da Missa das 9 horas, celebrada sempre no Campinho do Convento aos domingos, portanto é Missa Campal, que nesta ocasião foi presidida pelo Frei Alessandro Dias do Nascimento. Logo no início, ele acolheu a todos, deu as boas-vindas e lembrou a motivação do Dia do Pobre e outras intenções para a Eucaristia.
Na reflexão, o frade disse que sempre é tempo de refletir sobre nossas conversão, deixando a Palavra de Deus agir, de fato, em nossa vida. “Precisamos deixar que a Palavra de Deus toque o nosso coração, modifique a nossa maneira de perceber a realidade, de sentir e de agir na nossa vida. Nós vimos que na Primeira Leitura (Malaquias 3,19-20) que sempre temos a possibilidade de fazer bem ou fazer o mal, o alerta sobre o dia do Senhor, ou seja, esse dia virá e vamos ter duas situações: os ímpios e soberbos serão queimados como palhas; mas para vós que temeis ao meu Nome, nascerá o sol da justiça, trazendo salvação em suas asas. Deus quer que todos nós estejamos com Eles, estejamos em comunhão com o Senhor, no entanto, não pode haver essa questão da soberba, da maldade, das injustiças…”, explicou Frei Alessandro.
“O salmista diz: ‘Exultem na presença do Senhor, pois ele vem, vem julgar a terra inteira. Julgará o universo com justiça e as nações com equidade’ (Salmo Responsorial: 97/98). A vinda do Senhor é motivo de alegria para o justo, para o ímpio não. O que temos que fazer com nossa vida? Viver na justiça. Tudo que temos em nossa vida, não é porque merecemos; mas tudo é graça de Deus. Ele nos deu capacidade para termos tudo o que temos, sejam coisas materiais ou imateriais. Não somos melhores que ninguém, todos nós temos carências, pobrezas, existenciais, afetivas, espirituais, materiais… Deveríamos ter o coração compadecido como o de Jesus que acalma as pessoas atribuladas, anima aquele que está desanimado, sem esperança, alguém que estende a mão e partilha o pão. Por isso, em 2016 o Papa Francisco criou o Dia Mundial dos Pobres, mas não como uma data apenas para lembrar um dia do pobre. Como temos dificuldade em relação ao pobre, às vezes não queremos ter contato… As ruas estão cheias de gente pobre na rua, gente miserável procurando comida no lixo e tivemos uma pandemia, infelizmente muita gente perdeu o emprego”, disse Frei Alessandro, refletindo sobre a realidade das injustiças.
Ainda no contexto do Dia Mundial dos Pobres, Frei Alessandro comentou que muitas vezes as pessoas preferem ficar nas ruas do que em casa. “Em casa às vezes se torna um inferno, a pessoas prefere ficar na rua, faz uma opção de ir para a rua; outros fazem opção pelas drogas. O melhor seria se não houvesse essa pobreza aos nossos olhos, tão próxima dos nossos olhos. Basta sair às ruas que vemos pessoas pobres e necessitando de alguma coisa. O que a gente pode fazer? Creio que solidariedade, é o básico que a gente deveria ter e empatia, se colocar no lugar daquela pessoa. Ninguém gostaria de estar naquela situação, às vezes falta estrutura humana. Por isso devemos valorizar nossa família! Mesmo estudando os jovens, estudantes precisam passar por um ‘funil’, a prova do vestibular, o ENEM. Os jovens ficam tão preocupados (e com razão) porque poucos vão passar, não tem vaga para todo mundo… O Papa sobre os pobres, usou aquele trecho da segunda carta de São Paulo aos Coríntios 8, 9 (Jesus Cristo se fez pobre por vós)… A gente sabe que tem igrejas que fazem o sopão, ajudam, mas sabemos que o assistencialismo só não basta. Você mata a fome da pessoa ali, mas a vida é muito mais que isso. A gente não quer só comida, a gente quer mais do que isso. Não basta só cerveja e picanha, é muita promessa. A vida é muito mais que isso aí, a vida precisa de dignidade. Quando o Papa quer que celebremos o dia do pobre, ele quer quer que gente tenha sensibilidade, porque é um ser humano que está ali. Se a gente tem contato com a pessoa, procuramos saber o nome, somos educados com a pessoa”, explicou.
“Quem não quer trabalhar também não deve comer”, o momento seguinte da reflexão do Frei Alessandro foi para refletir sobre esse trecho da Segunda Leitura (2 Tessalonicenses 3,7-12). “Existe gente assim, muito acomodada, que podemos dar até dinheiro, mas não vai mudar ela, não vai ter conversão, ela não quer sair dessa situação. Isso não quer dizer que devemos secar nosso coração e não ajudar a pessoa. Recupere a dignidade humana dela, conhecendo sua história, chamando ela pelo nome. Miséria muitas vezes é fruto da injustiça, da falta de solidariedade de nossa parte… ‘Em nome do Senhor Jesus eu vos exorto e ordenamos às pessoas que trabalhando comam o seu pão’, ou seja, São Paulo quer dizer que a gente precisa trabalhar para conquistar as nossas coisas, os direitos, a gente precisa se empenhar, fazer o bem”, enfatizou o frade.
Por fim, Frei Alessandro pediu que não vivamos apenas de assistencialismo. “Vemos realidades de pobreza gerada pela injustiça e violência, isso temos que combater, como? Valorizando a família, valorizando a educação, buscar ter emprego. Não podemos viver apenas de assistencialismo, porque isso não é futuro para ninguém. Vemos tantos países vivendo na miséria porque erraram na sua escolha, o que faz a gente ter condições de partilhar com os outros é fruto do trabalho. Na medida que você produz, trabalha, você se empenha, você vai ter condições de ajudar o próximo, estender a mão com generosidade. A gente não pode ficar naquela ilusão de acumular coisas, isso empobrece a vida da gente. Viva sua vida com alegria, com amor. Partilhe sua vida com amor, o seu tempo, os seus bem com as pessoas necessitadas. Não tenha medo dos pobres, pelo contrário, seja amigo dos pobres”, finalizou.
Confira a reflexão na íntegra abaixo.