Paz e Bem.
A Fraternidade Franciscana do Convento da Penha iniciou no começo da semana um retiro de reflexão da experiência da pandemia. “Ressuscitou ao Terceiro Dia“, trata-se de uma Leitura Bíblico-Espiritual da Experiência da Pandemia, elaborada pela Conferência Episcopal Italiana (CEI).
A proposta apresenta temas das tristezas e as angústias dos homens de hoje com as inquietudes dos discípulos no tempo de Jesus. Junto a isso, reflexões do Santo Padre em tempos de pandemia. O cume dos momentos celebrativos e de reflexão é a partilha do caminho criativo da “Esperança do Domingo”.
Vamos refletir, diariamente, aqui no site do Convento os temas que os Frades meditam no retiro.
PRIMEIRO TEMA DO RETIRO
(Cf. Discurso do Papa Francisco do dia 27 de março de 2020 – na bênção Urbi et Orbi)
- «A um certo ponto – não sei bem como dizer – encontrei-me em casa, com meu marido e meus filhos, sem poder sair como antes. E tive que me inventar mestra, chef, catequista…» (V.D., empregada).
- «A coluna dos meios militares, que em Bergamo, à noite, leva embora caixões, quem a poderá esquecer? Para mim não existe dúvida: aquela é a imagem da vitória da morte» (L.P., estudante).
- «Aproximo-me da janela e olho para o parque. Imediatamente me vem, sempre, a vontade de descer para jogar bola com os meus companheiros » (M.B., criança)
- «Simplesmente queria ter saudado meu pai, no último instante de sua vida. Gostaria de, ao menos, ter-lhe dito: ‘Muito obrigado!’ ou ‘Perdoa-me!’ ou ‘Tranquilo, um dia vamos nos rever!’. E nem mesmo isso» (S.F., advogado).
- «Sim, falta-me poder celebrar a Missa, todos os dias, com as pessoas. Mas, sabe de uma coisa? Faltou, mais ainda, poder dizer uma palavra de conforto àqueles moribundos e de poder celebrar o funeral com seus familiares» (G.F., Capelão).
- «Enquanto colocava a máscara e as luvas, pensava em minha mulher e nos meus dois filhos, em casa. E dizia-me: “És médico: aqueles pacientes esperam por teu profissionalismo e tua humanidade”» (S.R., médico).
- «‘Oração’ é grande palavra, quando estás em casa, com três crianças pequenas e uma idosa a ser cuidada. Digamos que, às 7h, enquanto todos ainda dormiam, via a missa do Papa pela TV e, à noite, com minha mãe, rezávamos o terço. Está bem assim?» (C.L., dona de casa).
- «Todo dia na tela do computador, com meus amigos e companheiros. Contudo, mesmo que estejamos sempre juntos, posso dizer que me faltam?» (I.P., adolescente).
- «Ouvi dizer que, na Paróquia, precisavam de voluntários para a mesa da Cáritas. Quando decidi ir, meu pai se opôs. Então disse a ele: “Mas, se lá não vão os belos e inteligentes, como eu, quem queres que vá?”. Deu-me um sorriso e deixou-me ir» (M.T., voluntário).
- «Padre, tudo mudou: aconteceu algo de muito sério. Vocês padres se deram conta? Se voltarem a dizer as mesmas coisas e, sempre do mesmo modo, realmente, desta vez, ninguém mais vai escutá-los» (S.C., Secretária).
O Tempo da Escuta
«As alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos aqueles que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo; e não há realidade alguma verdadeiramente humana que não encontre eco no seu coração» (Gaudium et spes, 1).
Assim ensinou-nos o Concílio. É com este espírito, com abertura de coração, que queremos deixar-nos interrogar sobre as consequências que marcam nosso País – e não somente – no rescaldo da pandemia do coronavírus. Dirigindo-nos, idealmente, aos crentes e não crentes, como Pastores, desejamos propor uma “leitura espiritual e bíblica” desta experiência, que toca a todos nós, em primeiro lugar, como pessoas humanas.
Para nós cristãos, em particular, o olhar sobre cada acontecimento da vida passa pela lente do mistério pascal, que culmina no anúncio que Cristo «ressuscitou ao terceiro dia» (1Cor 15,4). Essas poucas palavras exprimem o núcleo da fé da comunidade crente, a confiança numa graça que nos foi doada e que continua a expandir-se no espaço e no tempo. Lá, para nós, o tempo dos homens e a eternidade de Deus se encontraram, tornando-se o centro da história, o critério fundamental, a chave interpretativa de toda realidade.
É tempo de juntos, escutar a voz do Espírito, que Jesus nos entregou na Cruz (cf. Jo 19,30) e no Cenáculo (cf. Jo 20,22). A tarefa do Espírito é a de aprofundar a verdade do que acontece (cf Jo. 16,13).
Provaremos, pois, de nos aproximar de nossa realidade, deixando-nos guiar pela sua voz, usando o tesouro, antes de tudo, das páginas da Bíblia, que narram as últimas horas da experiência terrena de Jesus: naquelas páginas está reservado um espaço aberto, no qual os crentes podem encontrar novamente o Senhor, enquanto que, os não crentes, podem sentir-se acolhidos e custodiados em suas perguntas.
«Como as coisas mudarão? Como seremos? O futuro ainda será marcado por hábitos repetidos? Como será a consciência pessoal e coletiva? O que o Senhor nos pede, este tempo? Porquê um Deus bom permite tudo isto aos seus filhos? ”
Nas perguntas dos Bispos emergiu a necessidade da leitura espiritual e bíblica do que está acontecendo» (Conselho Permanente da CEI – Roma, 16 de abril de 2020)