Encontro regional: Frades partilham experiências sobre os 800 anos das Chagas de São Francisco de Assis

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Paz e Bem.

O Regional dos Frades do Espírito Santo se reuniu nesta segunda-feira (20), na Casa Verde, aos pés do Convento da Penha, em Vila Velha-ES. Formado pela Paróquia Santa Clara (Colatina), pela Paróquia Nossa Senhora do Rosário (Vila Velha) e pelo Santuário de Nossa Senhora da Penha, o regional capixaba é o menor da Província que está presente em 5 estados do Brasil e na Fundação Imaculada Mãe de Deus de Angola.

O encontro teve início com a oração da manhã e uma breve reflexão sobre a memória da Santíssima Virgem Maria, Mãe da Igreja, aquela que é a “Mãe da Ordem dos Menores”, como recordou Frei José Clemente Müller. Na sequência, os freis realizaram a leitura de um trecho do livro “São Francisco das Chagas – Dois sermões do Pe. Antônio Vieira”, escrito pelo Frei Clarêncio Neotti, por ocasião dos 800 anos da Impressão das Chagas de São Francisco de Assis.

Frei Clarêncio fez uma partilha de quatro pensamentos sobre o acontecimento de 1224 no Monte Alverne. “O Cristo Crucificado, portanto as chagas, fazem parte do cerne da espiritualidade vivida e ensinada por São Francisco. Segundo, na espiritualidade de São Francisco, o mistério da Gruta de Belém e o mistério da Cruz no Calvário, são faces da mesma medalha, são inseparáveis. Como é que nós temos o presépio e a cruz? Como Francisco viu e como nós estamos vendo?”, questionou Frei Clarêncio. Depois, completou: “O terceiro pensamento é o sofrimento. O sofrimento continua sendo mistério, mas ganhou por Jesus um significado e Francisco penetrou fundo neste significado, não pela razão, mas pela fé, conduzida pelo amor. E por fim, o quarto pensamento, foi que Francisco escreveu uma oração em agradecimento às chagas que recebera. Em geral, nós pedimos a cura, normalmente todo mundo faz isso. Observem que Francisco agradece o sofrimento, ele reza em agradecimento pelas chagas”, afirmou o frade escritor.

Ainda durante a partilha da palavra, Frei Clarêncio confidenciou aos confrades que seu maior “tormento” não foi um voto, mas sim a missão de consolar uma pessoa aflita. “Confesso a vocês que meu maior tormento não foi um voto, nada disso, foi consolar uma pessoa aflita, uma pessoa com sofrimento. Por isso, São Francisco nos ensina que o friunfo do sofrimento transformado em cruz, é um trono de glória, como São João também diz. O sofrimento é um mistério! O sofrimento continua sendo um mistério, no entanto, Deus em seu caminho inescrutável, escolheu o sofrimento como redenção. A cruz é um sofrimento e foi por esse caminho que Jesus redimiu o mundo”, concluiu.

No segundo momento do encontro, os freis falaram sobre a vida e missão das fraternidades. Destacando as festas da Penha e de Pentecostes, que envolvem principalmente o Convento e o Santuário de Vila Velha; e as ações paroquiais que têm obtido cada vez mais êxito, como o trabalho de instituição de MInistros da Palavra, além do acompanhamento vocacional feito pelas duas paróquias do regional.

Os três freis que estiveram na Itália em uma experiência franciscana do Monte Alverne, Adriano Dias, Robson de Castro e Pedro Oliveira, contaram sobre a emoção de vivenciarem e passarem por locais tão importantes para a Ordem Franciscana.

Frei Robson destacou a virtude do silêncio. Para ele, os estigmas que o Serafim Alado, imprimiu no corpo de São Francisco, é como se também imprimisse no coração dos visitantes. “O que nos chama atenção, além da beleza da natureza em todos os lugares onde Francisco passou, é um silêncio absoluto. Ninguém precisa pedir que você faça silêncio, só contemplar diante daquele paisagem, das construções, ali mesmo você faz esse exercício de silenciar para entender o que é aquilo, que é lugar de oração, meditação, recolhimento e permitir que Deus nos fale através da natureza, da construção. No Monte Alverne, nos deparamos com um lugar especial, sagrado, tem uma energia diferente, uma força, uma presença que os olhos corporais não são capazes de enxergar, mas tem a presença de algo, de uma experiência mística, sobrenatural que ali aconteceu e permanece. De certa forma, saímos chagados, não nas mãos nem nos pés, mas no coração com aquela experiência”, contou.

Emocionado, Frei Pedro recordou que foi sua terceira oportunidade de estar em Assis. “É emocionante, toca profundamente. O mais emocionante foi ler textos de São Boaventura e de Tomás de Celano. Foi uma oportunidade de visualizar mentalmente Francisco naquele lugar, vivenciando intensamente a vida de São Francisco. O que mais me marcou foi o afeto do povo com São Francisco. São muitos peregrinos que fazem, sem sentir cansaço, os passos de Francisco, o percurso que ele fazia a pé. Foi uma experiência grandiosa retornar à Assis, num momento tão especial como este quando celebramos 800 anos da impressão das chagas do Seráfico Pai”, testemunhou.

Já Frei Adriano comemorou como uma graça ver de perto como São Francisco combinava sua missão com a vida de contemplação. “Foi uma experiência muito bonita conhecer com São Francisco combina sua atividade pastoral, a vida apostólica junto das pessoas, o anúncio do Evangelho e a vida de penitência, mas também a vida de oração, de contemplação. Foi uma oportunidade da gente conhecer. Hoje, ler as fontes franciscanas, a partir de uma experiência real e concreta, nesses lugares preservados pelo ser humano, mas que a natureza também conta. Reporta-nos àquela experiência original do próprio São Francisco”, disse.

Os freis que estiveram no Capítulo das Esteiras e na Reunião dos Guardiães, em Agudos (SP), fizeram uma avaliação dos encontros. Por fim, Frei Djalmo Fuck, coordenador do Regional, passou algumas orientações sobre a Visita Canônica, a ser realizada no mês de agosto e pediu sugestões para a Festa da Penha 2025.


 


Os 800 anos da Impressão das Chagas de São Francisco

“O Seráfico Pai Francisco, desde o início de sua conversão, dedicou-se de uma maneira toda especial à devoção e veneração do Cristo crucificado, devoção que até a morte ele inculcava a todos por palavras e exemplo. Quando, em 1224, Francisco se abismava em profunda contemplação no Monte Alverne, por um admirável e estupendo prodígio, o Senhor Jesus imprimiu-lhe no corpo as chagas de sua paixão. O Papa Bento XI concedeu à Ordem dos Frades Menores que todos os anos, neste dia, celebrasse, no grau de festa, a memória de tão memorável prodígio, comprovado pelos mais fidedignos testemunhos.” 

Introdução litúrgica da Missa e Liturgia das Horas do dia 17 de setembro, Festa das Chagas de São Francisco

A vida de Francisco no Alverne é oração e ininterrupta  penitência. Sente-se pobre e pecador. Quer despojar-se de tudo. Renuncia até mesmo a um manto que tinha sido salvo do fogo, a única coisa que tinha para cobrir-se durante o breve repouso da noite. Francisco voltará muitas vezes ao Alverne para encontrar a paz em Deus que a situação da Ordem e o fato de estar no meio dos homens não lhe davam e entregar-se de corpo e alma à oração.

No verão de 1224, última vez que esteve no Alverne, Francisco procura um lugar ainda mais “solitário e secreto” no qual possa mais reservadamente fazer a quaresma de São Miguel Arcanjo. Na manhã de 17 de setembro de 1224, os céus se abrem e Cristo crucificado desce ao Monte Alverne na forma de um serafim.

Da Legenda Menor de São Boaventura, Capítulo 6

“Francisco era um fiel servidor de Cristo. Dois anos antes de sua morte, havendo iniciado um retiro de Quaresma em honra de São Miguel num monte muito alto chamado Alverne, sentiu com maior abundância do que nunca a suavidade da contemplação celeste. Transportado até Deus num fogo de amor seráfico, e transformado por uma profunda compaixão n’Aquele que, em seus extremos de amor, quis ser crucificado, orava certa manhã numa das partes do monte.

Aproximava-se a festa da Exaltação da Santa Cruz, quando ele viu descer do alto do céu, um serafim de seis asas flamejantes, o qual, num rápido vôo, chegou perto do lugar onde estava o homem de Deus. O personagem apareceu-lhe não apenas munido de asas, mas também crucificado, mãos e pés estendidos e atados a uma cruz. Duas asas elevaram-se por cima de sua cabeça, duas outras estavam abertas para o vôo, e as duas últimas cobriam-lhe o corpo.

Tal aparição deixou Francisco mergulhado num profundo êxtase, enquanto em sua alma se mesclavam a tristeza e a alegria: uma alegria transbordante ao contemplar a Cristo que se lhe manifestava de uma maneira tão milagrosa e familiar, mas ao mesmo tempo uma dor imensa, pois a visão da cruz transpassava sua alma como uma espada de dor e de compaixão.

Aquele que assim externamente aparecia o iluminava também internamente. Francisco compreendeu então que os sofrimentos da paixão de modo algum podem atingir um serafim que é um espírito imortal. Mas essa visão lhe fora concedida para lhe ensinar que não era o martírio do corpo, mas o amor a incendiar sua alma que deveria transformá-lo, tornando-o semelhante a Jesus crucificado.

Após uma conversação familiar, que nunca foi revelada aos outros, desapareceu aquela visão, deixando-lhe o coração inflamado de um ardor seráfico e imprimindo-lhe na carne a semelhança externa com o Crucificado, como a marca de um sinete deixado na cera que o calor do fogo faz derreter.

Logo começaram a aparecer em suas mãos e pés as marcas dos cravos. Via-se a cabeça desses cravos na palma da mão e no dorso dos pés; a ponta saía do outro lado. O lado direito estava marcado com uma chaga vermelha, feita por lança; da ferida corria abundante sangue. Frequentemente, molhando as roupas internas e a túnica. Fui informado disso por pessoas que viram os estigmas com os próprios olhos.

Os irmãos encarregados de lavar suas roupas, constataram com toda segurança que o servo de Deus trazia, em seu lado bem como nas mãos e pés, a marca real de sua semelhança com o Crucificado”.

Tomás de Celano – Vida II, 211

“Francisco já tinha morrido para o mundo, mas Cristo estava vivo nele. As delícias do mundo eram uma cruz para ele, porque levava a cruz enraizada em seu coração. Por isso fulgiam exteriormente em sua carne os estigmas, cuja raiz tinha penetrado profundamente em seu coração”.

Outros textos: 1Cel, 94; Legenda Maior, 13,35,69.

Fonte: portal franciscanos.org.br

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