Paz e Bem!
A história que vamos conhecer hoje, certamente é uma das mais esperadas. Histórias que marcam não só a religiosidade local, mas a importância cultural para o Brasil. Há mais de quatro séculos e meio, o povo do Estado do Espírito Santo celebra com devoção sem-par sua padroeira, Nossa Senhora das Alegrias da Penha. A fortíssima expressão de amor à Mãe de Jesus, dos nativos, registram a enorme reverência à fé católica presente em solo espírito-santense desde a colonização.
Todas as sextas-feiras destacamos os aspectos históricos da religiosidade local, em matérias jornalísticas, em resgates cronológicos de fatos ocorridos no Convento da Penha.
Já conhecemos que em 1669, pela primeira vez a Imagem original de Nossa Senhora da Penha saiu do Altar e foi em procissão até a capitania do Espírito Santo, atual cidade de Vitória. Na época, o motivo foi para debelar uma terrível epidemia. Foi no fim do século XVII. Ele se fechava entre os horrores cruéis de violenta epidemia e o povo, apavorado, voltava-se para os céus em preces aflitas. Assim, foram buscar no Santuário da Penha, a milagrosa imagem, levando-a até Vitória.
Aconteceu na Penha, em 1769… Durante a grande seca, a imagem de Nossa Senhora da Penha segue, pela segunda vez, em procissão marítima para Vitória, obtendo-se com muitas orações e preces à Maria Santíssima, a desejada chuva.
Uma grande seca assolava toda a Capitania do Espírito Santo, no ano de 1769, de efeitos calamitosos, secando até as águas dos rios, montanhas e pastos secos, afluentes com fluídos bem rasos, plantações com pouca colheita, escassez de água em todos os lugares. Foi, naqueles tempos, uma das maiores estiagens da história capixaba. Multiplicaram-se então as preces públicas, mas, as águas não desciam. Não chovia há bastante tempo. Um outro detalhe chamada bastante atenção. Enquanto as matas ao redor da vila antiga perdiam o frescor, só pouca diferença se notava na vegetação do morro da Penha. Avisados por este fenômeno, lembraram-se os moradores de recorrer à intercessão de Nossa Senhora. A mata do Convento permanecia intacta, viçosa, verde, consistente.
Diante disso, resolveram, pois, organizar uma procissão, trazendo a Imagem da Penha à igreja do Convento de São Francisco de Vitória. Transportada numa embarcação ricamente enfeitada, como relatam os cronistas da época, com colchas de seda, belamente bordadas, e com flores em profusão, e, acompanhada pelas autoridades civis e militares, ordens religiosas, irmandades e toda a população, a Imagem chegou em Vitória, sendo saudada pelas salvas da fortaleza e o bimbalhar dos sinos.
Nossa Senhora da Penha foi recebida com todas as demonstrações de piedade e devoção na então capitania. A Imagem foi colocada debaixo de um rico pálio previamente preparado. As ruas por onde passava a procissão estavam juncadas de folhagens aromáticas, pelas janelas pendiam colchas de fino lavor e a multidão ia rezando, rezando, pedindo chuva. Mas os raios do sol pareciam ainda mais abrasadores e o céu sem misericórdia.
Assim que a procissão chegou a igreja de São Francisco, não tardou, porém, o milagre. Enfarruscaram-se as nuvens no céu, o tempo fechou e águas desceram copiosamente. Choveu bastante! Desfizeram-se as nuvens em água e caiu chuva em abundância. Os rios encheram-se, brotaram de novo as fontes e a natureza ia cobrir-se de gala, rejuvenescida.
A seca prolongada incomodava não apenas os habitantes dos “centros” (Prainha, Centro de Vila Velha, Cidade Alta, Ilha de Santo Antônio, Centro de Vitória…), mas principalmente os produtores agrícolas e lavradores, já que não chovia nas plantações e lavouras. Santa Leopoldina, por exemplo, onde escoava boa parte da produção agrícola capixaba, ficou por muito tempo sofrendo com essa situação.
Mais uma vez, Maria Santíssima, a Senhora das Alegrias mostrou que é nossa Mãe e Intercessora, aquela que não desampara os seus filhos e filhas. Nas maiores dificuldades, a Virgem da Penha sempre esteve com seus devotos.
De acordo com a história, pelo trajeto, novas lanchas e embarcações se juntavam à procissão marítima, todos com manifestações de júbilo à excelsa Mãe de Deus e de fervorosas súplicas, pedindo que fizesse cessar o terrível flagelo por sua poderosa intercessão. A alegria era incontestável.

Em “O Convento De Nossa Senhora da Penha do Espírito Santo – 2ª edição, 1965″, livro de Frei Basílio Rower (Compilação: Walter der Aguiar Filho, abril/2015), o “Milagre da Seca” está escrito assim:
Chega a Senhora a terra, e recebida
Em rico pálio de ouro traspassado,
Da turba acompanhada é conduzida
A santa casa de Francisco amado.
Inda não bem no templo é recolhida,
Já todo o céu de nuvens carregado,
Encobrindo do sol a formosura,
Transforma o claro dia em noite escura.
Apenas entra a Virgem, quando os ares
As nuvens vomitando sobre a terra,
Parece com dilúvio, que nos mares
Quer a água vingar do fogo a guerra.
Não deixaram os habitantes das duas vilas e dos arredores de dar solenes graças a Nossa Senhora com devota novena, e acabada esta foi a Imagem reconduzida ao seu trono no Santuário.
Benedicto Calixto também retratou o acontecimento em forma de pintura, na tela “O Milagre da Seca em 1769”, em 1927. A obra está exposta no corredor da Capela do Convento.
Outra história fala de uma fonte de Nossa Senhora que brotou no alto do penhasco, logo que a construção do Convento teve início, possibilitando a realização das obras. A fonte estancou depois que as obras terminaram. Mas essa lenda da Penha vamos contar noutra ocasião.
Fonte: Alguns trechos foram extraídos do Livro dos Romeiros de 1847; site morrodomoreno.com.br; O Convento De Nossa Senhora da Penha do Espírito Santo – 2ª edição, 1965