Aconteceu na Penha em 1769…

Compartilhe:

Tela “O Milagre da Seca em 1769”, de Benedicto Calixto em 1927. O quadro está exposto na Capela do Convento

Paz e Bem!

Sexta-feira é dia de recordar acontecimentos históricos em torno do Convento da Penha, e esta semana contaremos sobre o “Milagre da Seca”.

A primeira imagem de Nossa Senhora da Penha chegou ao Espírito Santo em 1569, vinda de Portugal, e foi levada para o Convento, em Vila Velha. A escultura, talhada em madeira, é tratada com zelo por todos os freis guardiões do local. E para evitar qualquer tipo de acidente, a imagem original da santa não sai do Convento da Penha desde 1769. Nos últimos 250 anos foram usadas réplicas durante as romarias.

Em 1769, a estátua original só saiu do Convento por um motivo excepcional: a então Capitania do Espírito Santo enfrentava um devastador período de seca. Por conta disso, foi realizada uma procissão pedindo aos céus para que a chuva viesse. A imagem saiu de Vila Velha e foi levada de barco para a Igreja de São Francisco de Vitória.

A chuva veio e o episódio ficou conhecido como o “Milagre da Chuva”. Nos corredores do Convento da Penha existe um quadro batizado de “O Milagre da Seca”, pintado pelo artista Benedito Calixto, em 1926, onde é retratada a chegada da imagem original da santa em Vitória.

Confira o relato, contido no livro A História Popular do Convento da Penha de 2008:

“Em 1769 os raios solares incendiavam os campos, e os cultivados, secavam as fontes e os ribeiros, e eram assim causa do desespero dos criadores e dos lavradores. Os habitantes da capital foram obrigados a ir buscar água para beber nos grandes rios longe da vila.

A carestia dos gêneros alimentícios pesava sobre os consumidores, e os pobres já sentiam a fome. Em tanta calamidade, em vão recorrera-se às preces; pois continuava a seca. Observando-se que o fogo solar não abrangia o monte da Penha, concluiu-se que esta isenção era efeito da presença da Santa; e daí ocorreu o pensamento de valer-se da sua milagrosa influência a fim de fazer os moradores da vila da Vitória participantes da mesma graça. Imediatamente os mais devotos trataram de preparar uma sumaca para lá ir buscar a Senhora da Penha.

No dia fixado para a partida, esta embarcação, pintada de novo, com um dossel de damasco e cortinas de seda bordadas a ouro, toda embandeirada e adornada de flores naturais e artificiais, festões e fitas de todos os matizes, com o cortejo de muitas lanchas, canoas e escaleres ornados pela mesma forma, e carregados de povo, na vazante deslizava-se serena e resplandecente pelo meio do canal, como um rico andor de pomposa procissão.

Tendo este barco chegado à enseada do Espírito Santo, os devotos, guiados pelo guardião de S. Francisco, sem demora dirigiram-se à igreja da Penha. Então o mesmo prelado, tomando a Imagem em seus braços, em procissão desceu até ao cais. Quando lá chegou, já ali se achavam os oficiais da câmara e pessoas respeitáveis da Vila Velha, para embargarem a viagem, alegando que a imagem era da vila, e que esta lhes pertencia de foro; portanto não consentiriam que lhes raptassem a sua padroeira. Aquiesceram porém à promessa do guardião, de que ele próprio a reconduziria com igual pompa.

Logo que do forte de S. João foi avistada esta flotilha uma salva deu o sinal da aproximação. As autoridades eclesiásticas, civis e militares, as irmandades e confrarias, sacerdotes e habitantes da vila esperavam no cais a tão desejada salvadora. Defrontando o navio com o dito forte rompeu de novo a salva. Na vila os sons festivos dos sinos convidavam o povo a assistir ao desembarque do adorado objeto do voto comum. Continuou então a festa em terra pelo estalido de inúmeras girândolas, e dos foguetes do ar que estrondavam em todas as partes. No cais a Santa Virgem foi recebida debaixo do pálio, do qual Passou para um andor luxuosamente ornamentado; e assim seguiu a procissão para a igreja de S. Francisco.

Por todas as ruas, onde o préstito transitou, o chão fora alcatifado de flores e folhas odoríferas; nas janelas e balcões dos sobrados sobressaíam ricas colchas de seda e damasco de diferentes cores com franjas de ouro. O acompanhamento dos habitantes da vila, da cercania e dos sertões foi tão numeroso, que a maior parte ficou na ladeira e no adro da igreja de S. Francisco. Imediatamente que o trono da Senhora penetrou neste templo, a negrura das nuvens fez do dia noite, e daí a poucos instantes a chuva caía em cataratas parecendo querer de uma só vez fartar os viventes, as plantas e a terra!

Depois de uma novena em ação de graças a Imagem da Senhora da Penha foi com toda a solenidade restituída ao seu antigo santuário, só com a diferença, que por esta vez os mais jubilosos foram os moradores da Vila Velha.”

Com informações de Norbertino Bahiense e Walter de Aguiar Filho (Morro do Moreno) e de A Gazeta

Posts Relacionados

Facebook

Instagram

Últimos Posts

X