Aconteceu na Penha em 1653…

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Paz e Bem!

A história que vamos conhecer hoje, em mais um capítulo da série especial “Aconteceu na Penha”, é de 1653. Sempre às sextas-feiras conhecemos um pouco mais sobre a tradição, a história e a expressão de fé do povo capixaba que há mais de 450 anos celebra sua padroeira com muito amor. Estamos destacando os aspectos históricos da religiosidade local, em pequenas reportagens os destaques que aconteceram na Penha.

Aconteceu na Penha… Em 1653, os holandeses, duas vezes derrotados no Espírito Santo, voltam de madrugada, conseguem invadir o Santuário, seguram um frade que rezava diante do Altar da Capela e roubam “joias” de Nossa Senhora. Não transcorre um ano e os invasores são definitivamente expulsos do Brasil. Os objetos roubados foram reconquistados no Estado de Pernambuco e devolvidas tempo depois ao Convento de Nossa Senhora da Penha.

Informados por um português das preciosidades em ouro, prata e ornamentos que existiam no alto da Penha, certa madrugada os holandeses, atiçados pela cobiça, navegavam em direção ao sul saltaram em Vila Velha e, subindo a ladeira, de surpresa invadiram o Santuário. Não fizeram vítimas. No entanto, recolheram todos os objetos de valor encontrados na sacristia e no altar e tudo levaram.

Segundo o historiador Norbertino Bahiense, os holandeses, além das joias, levaram também uma imagem de Nossa Senhora e até alguns escravos existentes.

Certa madrugada, estando Frei Francisco da Madre de Deus, Irmão leigo, até então responsável pelo Convento, em devota oração diante do altar da Senhora e com as portas do Santuário abertas, os soldados invadiram todo o terreno. Alguns Religiosos fugiram, outros foram presos junto com oito escravos. Frei Francisco ficara imóvel, embora ouvisse o estrondo das armas. Aproximando-se os inimigos, roubaram todas as preciosidades da sacristia e do altar, sem entretanto, molestar o devoto religioso. Quando, porém, tentaram tirar a coroa e manto da Imagem, levantou-se, pedindo que não cometessem a profanação, que ele mesmo os tiraria. E assim o fez, entregando a coroa e manto aos soldados, com muitas lágrimas e sentimento de seu coração.

Sob o olhar atônito do frade, tudo roubaram, sem o molestar. Estarrecido, Frei Francisco da Madre de Deus assistia ao sacrilégio. Um dos holandeses tentou tirar o anel precioso do dedo de Nossa Senhora, mas não o conseguiu, como, igualmente, não pôde cortar o dedo e a própria mão. O português, porém, atreveu-se a apossar-se do Menino Deus. Contra isto protestou Frei Francisco, dizendo que o deixasse ou levasse também a ele. Ao que o malvado retorquiu que levaria o Menino para Recife, para brincar com outro que lá tinha, e com ar de mofa acrescentou que o frade podia ficar para acabar a obra de construção, pois tudo estava muito bonito. A isto tornou o Religioso: Vai-te embora e lá verás os brincos que te hão de custar caro; e este será o último atrevimento dos teus companheiros no Brasil, porque só isto faltava por teus pecados para castigo teu e dos mais. Machado de Oliveira, na Revista do Instituto Histórico Brasileiro de 1856, não subscreve o sacrilégio do Menino Jesus, achando a noticia incerta.

Após o saque, tudo levaram, inclusive escravos, e avançaram para Cabo Frio, em busca de gado, mas ali foram surrados pelos índios, que mataram alguns soldados, obrigando-os a fugir a toda pressa para o Pernambuco. O saque da Penha marcou as vésperas do término do domínio holandês no Brasil, a 27 de janeiro de 1654.

Quando Recife foi libertada do domínio holandês, esteve presente o Custódio Frei Daniel de São Francisco a quem foram restituídos os escravos, joias, ornamentos e alfaias que, no mesmo ano, retornaram ao Convento da Penha.

Também em 1653, Dom João IV concede ao Santuário da Penha, para o culto divino, a ordinária anual de vinho de missa, azeite, farinha de trigo para hóstias e cera. Mas essa história nós vamos conhecer numa outra ocasião.

Alguns trechos foram extraídos do Livro dos Romeiros de 1847; “Vila Velha, seu passado e sua gente”, 2002 – autor: Dijairo Gonçalves Lima; “O Convento de N. Senhora da Penha do Espírito Santo”, 1965 – autores: Frei Basílio Rower e Frei Alfredo W. Setaro.

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