Frei Augusto Luiz Gabriel e Moacir Beggo
Vila Velha (ES) – Um grito de indignação, vergonha, tristeza e esperança foi dado nesta sexta-feira, sexto dia do Oitavário da Festa da Penha, pelo Pe. Kelder José Figueira, pároco da Paróquia Santa Tereza Calcutá, na homilia que fez durante a Celebração Eucarística no Campinho. Pe. Roberto Camilato, do Santuário de Santo Antônio, presidiu a Missa. Os franciscanos do Convento da Penha e da Província da Imaculada acolheram os sacerdotes e religiosos da Região Pastoral de Vitória e o povo que lotou o Campinho, no primeiro dia com chuva da Festa da Penha.
Pe. Kelder lembrou a dor de Maria com a morte de Jesus e a dor das mães capixabas que veem seus filhos terem as vidas ceifadas diariamente. “Só esse ano já são mais de 320 corpos assassinados, mortos, sem vida, sepultados no Espírito Santo. Quanta dor, quanto pranto, quanto desespero. Corpos pretos, pobres e periféricos”, denunciou o sacerdote. “Sim, mães capixabas! A dor de vocês é uma dor tão grande e profunda quanto foi a dor de Maria, Mãe do Filho de Deus, ao receber inerte e sem vida o corpo do Autor da Vida, Jesus Cristo”, consolou.
“E maior ainda deve ser a indignação de vocês ao ouvirem os porquês das mortes dos filhos de vocês. Como se já não bastassem ter tirado a vida deles de forma tão violenta, como fizeram com o Filho de Maria, ainda os tornam responsáveis pela violência que os matou. Uns dizem que foram mortos porque são traficantes. Outros dizem que foram mortos porque são bandidos. Outros dizem que foram mortos porque são vagabundos. Outros dizem que foram mortos porque não souberam aproveitar as oportunidades que surgiram. Outros dizem que foram mortos porque foram confundidos. Outros dizem que foram mortos porque estavam no lugar errado. Não faltam motivos, queridas e sofridas mães capixabas, para justificar a matança dos filhos que nasceram de suas entranhas e se alimentaram nos peitos de vocês, e que incomodam a sociedade só pelo fato de estarem vivos, mesmos sendo pretos e pobres, e ter os mesmos sonhos e desejos que os brancos e abastados”, lamentou.
Sempre se dirigindo às mães capixabas, denunciou que seus filhos não estão sendo assassinados por que são traficantes, bandidos, vagabundos, foram confundidos ou estavam no lugar errado. “Eles estão sendo assassinados porque são pretos, pobres e favelados. Fizeram isso com os antepassados de vocês, os escravos trazidos da África, e continuam fazendo com os filhos de vocês. O racismo e o culto ao dinheiro é a verdadeira causa da morte dos filhos de vocês que são sacrificados como “bodes expiatórios” para justificar a indiferença da sociedade e a incompetência do poder público em resolver o problema da violência e da desigualdade social, que são os maiores problemas que o Brasil enfrenta. E não duvidem, mães capixabas, que para impedirem os filhos e filhas de vocês sonharem, as forças armadas voltarão às ruas”, acusou.
Pe. Kelder animou e incentivou as mães capixabas a não esmorecerem. “Cabem a vocês mostrar o quanto a vida que vocês geraram ou cuidaram é sagrada. Cabe a vocês não deixarem que a morte de seus filhos que vocês cuidaram e amaram seja em vão. Cabem a vocês, mães capixabas, lutar, lutar, lutar novamente, e continuar lutando, porque quando o ‘luto vira luta’, a força da ressurreição acontece e a realidade se transforma. Foi essa a experiência bonita da ressurreição que a Igreja Primitiva fez e transmitiu para nós, conforme ouvimos no Livro dos Atos dos Apóstolos e no Evangelho de São João, nesta tarde. Os discípulos mudaram o luto em luta, e lutaram até a morte para anunciar a verdade da Ressurreição do Senhor”, exortou.
“Sim! Foi grande a alegria da Mãe do Senhor quando os discípulos anunciaram a ressurreição de Jesus”, disse.
LEIA NA ÍNTEGRA ESTA HOMILIA
ROMARIA DOS MILITARES NO OITAVÁRIO
O Momento Devocional Franciscano, que antecede a Santa Missa, marcou o testemunho e a homenagem dos Militares à Nossa Senhora da Penha. Às 14h30, a procissão reunindo cerca de 200 soldados subiu a ladeira do Convento da Penha e chegou ao Campinho. A imagem de Nossa Senhora foi trazida num andor por um representante do Exército, da Marinha, da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros. O guardião do Convento, Frei Paulo Pereira, fez a acolhida. Frei Valdecir Schwambach presidiu este Momento franciscano, que teve o tema “Da Rocha brota a água viva”.
Segundo o frade, quando Frei Pedro Palácios se dispôs a construir o Convento de Nossa Senhora da Penha, ele se deparou com uma grande dificuldade: Como fazer chegar água no topo da montanha, que é de pedra. “E diz que, a partir dessa dificuldade, ele pediu a Deus e uma fonte jorrou até o término da construção do Convento”, contou. “No tempo certo, tudo acontece. É por isso que falamos: o tempo de Deus”, disse. “Mais um motivo para fortalecermos a nossa fé. A fonte, a rocha, nos lembram sempre de Deus. A rocha que ampara o Convento, e o Convento que é continuidade da rocha, nos lembra a rocha que dá sustento à nossa vida, que é o próprio Cristo. E Ele diz que tudo aquilo que é construído sobre a rocha, isso sim, há de perdurar. Que as nossas relações, trabalho, famílias, sejam construídas sobre a rocha!”, desejou Frei Valdecir.
Este momento é feito com cantos, orações e reflexões. Frei Gustavo Medella e Frei Paulo César Ferreira, com o grupo de músicos, tornaram a celebração mais bela.
ROMARIA DOS ESTUDANTES ESTÁ NASCENDO
Foi plantada nesta sexta-feira, 6 de abril, a semente para mais uma romaria na Festa da Penha. Atendendo ao convite do guardião do Convento da Penha, Frei Paulo Pereira, dois grandes colégios capixabas trouxeram seus alunos para homenagear Nossa Senhora da Penha: o Centro Educacional Agostianiano, de Vitória, e Colégio Passionista, de Cariacica.
Cerca de 100 alunos subiram a pé o Morro da Penha até o Campinho na primeira experiência conjunta das escolas. Frei Diego Melo, Frei Gustavo Medella e Frei Gílson Kammer acolheram alunos e professores. Frei Diego narrou um pouco a história do Convento e de como esta montanha se tornou um local sagrado como casa de Nossa Senhora da Penha. Explicou que tudo começou com uma estampa que o franciscano Frei Pedro Palácios trouxe de Portugal. “A nossa fé não idolatra imagens”, disse, explicando que a veneração, enquanto culto cristão, não tem outro sentido senão valorizar algo, um sinal que nos remete a Deus. “Quem aqui tem uma foto dos pais no celular?”, perguntou, obtendo uma resposta afirmativa total. “Por que trazemos essa foto no celular? Nós sabemos que na foto não estão nossos pais, mas ela nos faz lembrar dos familiares que a gente ama. Da mesma forma, a imagem de Nossa Senhora nos faz lembrar o carinho, a devoção e tudo aquilo que ela nos representa”, explicou.
Ir. Rita Cola, Missionária Agostiana Recoleta, e diretora do Centro Educacional Agostianiano, fez uma dinâmica com os alunos para enfatizar a importância da cultura de paz, sensibilizando-os para as questões sociais, ambientais e relacionais de sua realidade local e global. No final, Frei Gustavo deu a bênção e os alunos depositaram flores aos pés da imagem de Nossa Senhora.
Pe. Eraldo Furtado de Oliveira, gestor administrativo do Colégio Passionista, gostou da ideia de trazer os alunos para conhecer o Santuário e ter esse momento celebrativo durante a Festa da Penha. “Acho que para o próximo ano outros colégios poderão se programar em tempo para fazer até uma romaria dos estudantes”, disse Pe. Eraldo, que teve total apoio dos pais para este evento.
HAJA EMOÇÃO NOS PRÓXIMOS TRÊS DIAS
A Festa da Penha atinge o ponto alto nos próximos dias. Grandes multidões acompanharão as romarias e celebrações. Neste sábado, às 18 horas, tem início a Romaria dos Homens, que deve levar para o trajeto de 14 quilômetros uma multidão de 700 mil pessoas. Ainda é dia da Romaria e Missa dos Adolescentes no Campinho, às 10 horas, Romaria das Pessoas com Deficiência, Saída às 8 horas na praça Duque de Caxias e Remaria às 8 horas. Mas uma grande Romaria vem de longe e logo cedo estará no Campinho: a Romaria da Diocese de São Mateus.
Às 14h30 tem início o sétimo dia do Oitavário no Campinho do Convento.
No domingo, mais multidão na Romaria e Missa das Mulheres e, na segunda-feira, a Missa solene de encerramento.
FREI FLORIVAL FAZ SHOW APOTEÓTICO
Quem pensou num show religioso de Frei Florival Mariano de Toledo, na noite desta sexta-feira, 6 de abril, enganou-se. “Minha alegria” começou levemente com “Jesus Alegria dos Homens” e terminou com o conhecido Hino a Nossa Senhora da Penha em ritmo de samba pela escola de samba Mocidade Unida da Glória, campeã do carnaval de Vitória em 2018.
Frei Florival colocou todo mundo para sambar, fazendo o que prometeu. “Nosso desejo é que vocês reencontrem a sua alegria a partir da alegria que Nossa Senhora recebeu de Deus”, disse. “Que seus sonhos sejam mais intensificados nesta noite. Uma noite da alegria, da minha alegria e da sua alegria. Vamos curtir, rezar, brincar”, traduziu.
O bom público que veio ao Campinho não se arrependeu e cantou com Frei Florival um repertório eclético, onde mesclou músicas religiosas e MPB, abusando de todos os ritmos. Tudo funcionou perfeitamente. As coreografias e figurinos, com as crianças, jovens e adolescentes da Paróquia Nossa Senhora do Rosário, deixaram o show mais sofisticado e belo. A nova versão para a música “Senhor fazei de mim”, antigo sucesso dos Meninos de Deus, foi um dos pontos altos do show. Frei Paulo César soltou o vozeirão e roubou a cena. Os três cantores – Frei Florival, Frei Paulo e Frei Leandro – encerraram apoteoticamente esta versão.
Mas o show ainda tinha mais surpresas. O Hino a Nossa Senhora da Penha começou com o tradicional ritmo religioso, passou para heavy metal, mudou para baião, virou rock e terminou em samba, com a MUG comandando o final apoteótico. Tudo isso enquanto a imagem era carregada no meio do povo por quatro jovens vestidos com o hábito franciscano.
Frei Florival cantou e encantou, ainda que esta frase soe como um clichê. “Enfim, a minha alegria é partilhar esse dom que Deus deu com aqueles com quem convivo. A maior alegria para mim é ser para outro. Eu me preparo para isso, com meus defeitos, não tenha dúvida”, define. Que Deus o conserve.
Neste show, Frei Florival teve a participação dos músicos: Rômulo Madureira, no violão de 12 cordas. “Ele que organizou essa equipe toda com muito carinho e dedicação”, elogiou agradecido o frade; no teclado, Gracia Maria; no violino, Frei Leandro Santos; no acordeon, sr. Nilson; na guitarra, Marcelo André; no baixo, Luís Galego; na bateria, Bruno; percussões, Paulo Muniz; e as “backing vocals” Laila Eller, Alessandra Favero, Denise Furtado.
O show teve a participação especial de Frei Paulo César, Frei Leandro, Elaine Vieira, Marcela Mesagri, Julia Venturinho, Sofia Pirola e Gianini Pacheco.
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