Paz e Bem.
O mês de setembro é dedicado à conscientização e ao incentivo à doação de órgãos. A campanha Setembro Verde tem o objetivo disseminar a informação sobre o ato de doar órgãos que pode salvar vidas. A informação também ajuda a desmitificar alguns boatos ou paradigmas.
A tradicional Missa da Saúde no Campinho do Convento da Penha, em Vila Velha, desta quarta-feira (24), contou com a presença de agentes e colaboradores da Secretaria de Estado da Saúde, por meio da Central Estadual de Transplantes do Espírito Santo, que é responsável por regular e coordenar as ações de captação e gerenciamento de todo o processo de doação de órgãos. A celebração de ação de graças pelos doadores foi presidida pelo Frei Gabriel Dellandrea, Guardião da Penha.
O Secretário de saúde do estado, Tyago Hoffmann explicou sobre a campanha Setembro Verde. “Dedicamos o mês de setembro inteiro, que é o Setembro Verde, a uma série de ações de estímulo pra que nós possamos aumentar a quantidade de famílias doadoras de órgãos. O nosso lema é ‘a vida pode continuar’ A vida pode não terminar no momento de tristeza da família. A gente pode transformar um momento de tristeza em um momento de bênção, de graça e de alegria pra outras pessoas que podem receber esses órgãos. Então esse momento da celebração é fundamental, porque nós vamos estar aqui com as famílias de doadores, com as famílias de pessoas que receberam os órgãos, pra que nós possamos celebrar a vida. A Secretaria de Estado da Saúde monta todos os protocolos e também as comissões. Cada hospital do nosso estado, em função de uma portaria da Secretaria, é obrigado a ter uma comissão de doação de órgãos, que desde o momento da constatação da morte cerebral, ela faz todos os protocolos, não só com a pessoa que veio a falecer, mas também com a família, para que haja o diálogo, para que haja o convencimento, a conscientização em relação à doação”, disse.

A coordenadora da Central de transplantes capixaba, Maria Machado, destacou que o protocolo é totalmente seguro. “E esse mês de setembro é o mês que fizemos várias ações com a sociedade como um todo para conscientizar, porque ainda temos 50% de recusa familiar. Então nós esperamos que após mais esse momento que a gente tem aqui no convento junto de Nossa Senhora e com tudo que a gente propôs esse mês de conversas que esse número caia e que a gente possa salvar mais vidas no próximo ano. O Brasil tem um dos protocolos mais seguros do mundo. Então a gente tem os testes realizados por equipe médica capacitada e uma vez que tem o óbito constatado, o diagnóstico de morte cerebral só existem duas possibilidades. Ou a família faz o sepultamento imediato do seu ente ou ela faz a doação dos órgãos. O maior exemplo que nós temos de doar foi do nosso Mestre Jesus, que doou a sua vida por nós. Então que possamos nesse momento de caridade, nesse momento de gratidão, manifestar o nosso desejo de ser um doador de órgãos e se tivermos a oportunidade que os nossos órgãos possam ser doados para outras famílias”, afirmou.

Atualmente, há 2.709 pessoas aguardando um transplante de órgão ou córnea no Estado, sendo 1.553 para córnea; 1.103 para rim; 42 para fígado e 11 para coração. No Brasil, são 80.439 pessoas cadastradas no Sistema Nacional de Transplantes (SNT).
Em 2025, foram realizados 431 transplantes no Espírito Santo, entre órgãos sólidos e tecidos, até agosto. Em 2024, neste mesmo período, foram 330 transplantes. No ano passado, foram realizados 510 transplantes, no total.
No Brasil, para ser um doador, é importante conversar com a família sobre o desejo. A família desempenha um papel de extrema importância nesse contexto, uma vez que a doação de órgãos só será feita após a autorização familiar. Por isso, a importância dessa homenagem.
Na homilia, Frei Gabriel afirmou que a celebração é ocasião de manifestar gratidão e esperança. “A palavra que norteia a primeira leitura de hoje (Esdras 9,5-9), é gratidão. Esdras agradece a Deus porque o povo de Israel uma vez preso na Babilônia e estava lá sem poder fazer o seu culto, é libertado pelos reis da Pérsia e pode voltar para a sua terra para então fazer com que o templo pudesse ser construído e a fé pudesse ser celebrada. Mesmo o sentimento que nós aqui realizamos como ação de graças a aqueles que após a sua vida, continuam sendo vida. Dedicando um tempo da sua vida para refletir e deixar indicado para a sua família. Eu quero que a vida continue através daquilo que Deus me deu e que eu já não vou mais usar, porque estarei no corpo glorioso lá no céu. Essa ação de graças aos irmãos e irmãs que doaram a vida, o tempo e agora também os órgãos para que a vida continue, é a nossa disposição. Ação de graças”, explicou.
“E uma outra palavra que norteia a liturgia da palavra de hoje é uma palavra complicada para os nossos tempos. Comprometimento. Compromisso. Porque a ação de graças sem compromisso é manca. Só agradecer sem se comprometer é talvez ser injusto com a história. Por isso, o Evangelho (Lucas 9,1-6) traz o mandato que Jesus dá aos discípulos de irem pelo mundo e anunciarem a boa nova. E quando nós assumimos também esse compromisso, ao ouvirmos a palavra anunciar, pensamos que é só falar. O anúncio do Evangelho, irmãos e irmãs, não se prende somente às palavras. E Jesus convida os discípulos a curar os enfermos, que quase nada tem a ver com falar. E se nós olharmos na biologia, veremos que a pele é o maior órgão do corpo humano e nela tem aqui, junta a pele, aquilo que é necessário para levar até o nosso cérebro a importância do toque, do cuidado. Quando somos tocados por alguém que quer cuidar de nós, a cura se aproxima pela sensibilidade, pelo toque”, comentou Frei Gabriel.
Por fim, o Guardião pediu um “compromisso com a vida, com a realidade de curar. “É por isso que Jesus, em muitas das curas, toca. E nós também queremos ser comprometidos com espalhar o dom da cura que vem de Deus. Não só queremos ficar espectadores da ação de Deus, mas queremos nos comprometer com Ele, a espalharmos o dom da cura também nós. E como discípulos e discípulas, faremos o nosso louvor e ação de graças, pelos bens que Ele nos concede, mas nos comprometendo também a fazer a nossa parte. É por isso que esta liturgia de hoje nos convida a esse duplo momento. E nós aqui temos diversos profissionais da área da saúde que fazem com que este comprometimento aconteça de verdade. E somos nós também convidados a este comprometimento, com a saúde, com a valorização destas realidades que precisam do nosso apoio, e que fazem com que nós também sejamos promotores de cura, mesmo quando achamos que não mais podemos fazer nada. Comprometamo-nos, então, com esta realidade do Evangelho, a de curar. Por isso, ação de graças e comprometimento são os convites da liturgia de hoje a cada um de nós”, conclamou.

No final da celebração, antes da bênção aos doentes e enfermos, os fiéis ouviram o testemunho da Jordiana Pereira. Ela e a família decidiram doar os órgãos do irmão Joelson, que faleceu em março deste ano. “Logo dentro do hospital, ele teve uma parada cardiorrespiratória de 10 minutos. E aí, com essa parada cardiorrespiratória, ele entrou em coma sem sedação. Então, eu já sabia mais ou menos o que ia acontecer. E aí, dois dias depois dessa parada, o médico conversou com a gente que eles estavam esperando o sódio dele corrigir para poder abrir o protocolo. Então, desde esse primeiro momento, minha irmã e eu que recebemos a primeira notícia, a gente foi para a casa da minha mãe, conversamos com ela. E naquele momento, a gente já estava… Então, quando realmente fechou o protocolo de morte cefálica, que foi no dia 20 de março, a gente já… nós já havíamos conversado sobre a questão da doação, de como seria importante dar um propósito. Porque a morte dele, para a gente, foi um pouco sem sentido. Então, a doação ia dar um sentido, um propósito. Para a vida dele e de tantos outros que também estavam esperando. Então, a gente já ia conversando. O protocolo demorou um pouquinho a ser fechado, porque um dos exames que foi… que era o último exame, que era o de doppler cerebral”, contou.

“Então, eu tenho certeza que isso salvou e ainda salva a gente. Não salvou só para quem foram os órgãos, salvou a nossa família também. Digam ‘sim’. A vida, ela é muito mais do que o corpo. O nosso corpo fica aqui. E não tem nada melhor agora, seis meses depois, da gente orar e pensar que ele salvou vidas. Então, talvez não fosse a hora dele, mas era a hora daqueles que estavam esperando renascerem. Então, isso conforta a gente. Então, a doação, ela não salva só aqueles que receberam órgãos. Ela salva a família do doador também”, testemunhou Jordiana.
Disseminar informações sobre o ato de amor ao doar órgãos pode salvar vidas. Ajuda também a desmitificar alguns boatos ou paradigmas. Doe órgãos, uma atitude muda tudo!





























































