Paz e Bem.
A Festa de São Francisco de Assis foi celebrada com muita alegria pelas fraternidades franciscanas de Vila Velha, no Espírito Santo. No dia 4 de outubro, no começo da tarde, em fraternidade, os Freis do Convento da Penha e do Santuário Divino Espírito Santo celebraram juntos a Missa Solene em honra ao Seráfico Pai, Fundador das Três Ordens Franciscanas e Patrono da Ecologia e dos Animais. Frei Vanderlei Neves, pároco, presidiu a Eucaristia e os demais frades concelebraram.
A homilia foi feita pelo Frei Clarêncio Neotti. “São Francisco é um santo ‘plurifacial’, e suas múltiplas faces estão marcadamente ligadas a Cristo e ligadas à criatura humana. Lembro duas destas faces, ambas de uma atualidade espantosa, porque nós estamos vivendo um momento em que a maior parte da riqueza econômica do mundo serve para fabricar armas. E nós vemos todos os dias, impotentes, aquelas cenas das crianças morrendo de fome, não só na faixa de Gaza, mas no Congo, na nossa Amazônia, nos índios explorados pelos brancos e em muitas outras partes. Por isso, essas duas faces de Francisco, repito, são muito atuais. Francisco, sem dúvida, é o santo promotor da paz. Teve a ousadia de, antes de tentar pacificar os outros, pacificar-se a si mesmo, despojando-se do egoísmo, egoísmo gerador de ganância, de orgulho, de prepotência”, disse o frade.

“São Francisco viu o Cristo marginalizado nos pobres mais pobres, que eram os leprosos naquele tempo, leprosos privados da saúde, da dignidade e da esperança. Trabalhou em leprosário, comeu com leprosos no mesmo prato, num tempo que se comia com as mãos, beijou leprosos e do leprosário de Roma, copiou o sigilo, copiou o tal, com o qual assinava seu nome, identificando-se assim a um leproso, como se havia identificado com o Cristo crucificado. Cabe, cabe sim, cabe em São Francisco o que São Paulo escreveu de Jesus aos filipenses, esvaziou-se a si mesmo, humilhou-se, assumiu a condição de servo de todos”, afirmou Frei Clarêncio.
Ainda sobre o contexto do apelo de paz, o franciscano lembrou da importante saudação de “paz e bem”, inspirada nas Sagradas Escrituras. “À medida que o homem se reconcilia consigo mesmo, pode pacificar os outros. E se não consigo pacificar os outros, é porque eu não me pacifiquei. Francisco podia começar todas as suas pregações evangélicas com a saudação, o Senhor vos dê a paz. Saudação bem parecida com a de Jesus ressuscitado na tarde de Páscoa, no cenáculo, a paz esteja convosco. A legenda dos três companheiros, companheiros que viveram com São Francisco, a legenda dos três companheiros escreve que Francisco dizia aos frades, A paz que vocês anunciam com a boca, vivam-na primeiro no coração. Francisco cantou a paz no cântico do sol e declarou bem-aventurados, em português nós diríamos, declarou realizados e coroados por Deus os promotores da paz”.
Neste ano, a Igreja também recorda os 800 anos do Cântico das Criaturas. Para marcar este momento foi realizada uma feira de adoção de animais, em parceria com a Prefeitura de Vila Velha.
A tradicional Missa das 15 horas, celebrada na Capela do Convento da Penha, contou com presença de centenas de fiéis, especialmente devotos de São Francisco de Assis. A Ordem Franciscana Secular se uniu à fraternidade da Penha e cantou as maravilhas de Deus expressas no Pobrezinho de Assis.
A Celebração foi presidida pelo Frei Paulo César Ferreira, Vigário do Convento. “O Santo de Assis, que inspirou e continua a inspirar os artistas, escultores, pintores, os músicos, escritores, também os vocacionados, tantos vocacionados, jovens, homens e mulheres, casados ou solteiros. São Francisco, de fato, inspira a todos nós que encontramos em Jesus esse poço de água viva e queremos beber dessa fonte como bebeu São Francisco. Então Francisco nos conduz a Jesus”, iniciou.
“Nós contemplamos em Francisco de Assis, o cristão pleno, o ser humano cristificado, melhor dizendo. Todo absorto no mistério de Cristo, o cristão, o homem redimido, reencontrado, resgatado na graça e na força de Cristo. O filho de Deus bendito, o Emmanuel, Deus conosco. Francisco encontra em Jesus, crucificado, louco de amor pela humanidade, por todos nós, o melhor jeito, então, de ser humano. Jesus, feito homem, nos permite, em comunhão com ele, tornarmos como Deus, o mais parecido, plenamente, plenamente parecidos com o nosso Deus, nosso Criador, nosso Pai. Nós nos espelhamos em Jesus, como fez São Francisco, para que o Senhor seja reconhecido em nós”, destacou o Vigário do Convento.

“E Francisco compõe o belo hino, o Cântico do Irmão Sol. Estamos aí a comemorar 800 anos do Cântico das Criaturas, ou Cântico do Irmão Sol. Por isso, São Francisco é esculpido, pintado, proclamado, declamado. O patrono dos animais, e o de fato é, foi proclamado, patrono da ecologia, da natureza. Por quê? Ele, São Francisco em Cristo, reencontra o paraíso. Lembra lá no livro do Gênesis, no início, o ser humano, obediente a Deus, passeava, feliz, em meio a toda a criação. Como zelador, louvando o Criador. Mas depois ele se fecha, fica autossuficiente, não dá mais ouvidos ao Criador, e aí desorganiza tudo. Então, São Francisco reencontrou o caminho, dando ouvidos a Jesus, seguindo a Jesus. Para nos lembrar, o homem reencontrado em Cristo, no seu centro, como a criatura por excelência, em meio a toda a criação. Então, amado de Deus e dos homens, São Francisco nos ensina a lei da vida e da disciplina, da obediência”, disse.
Ainda na reflexão, Frei Paulo citou um documento franciscano. “Aqui, eu tomo palavras, me inspiro na carta encíclica de Frei Elias, sobre a páscoa, a passagem, a morte de São Francisco. Do amor incondicional a Jesus e, consequentemente, a todos os seus redimidos, São Francisco. E o legado de São Francisco é o mesmo de Jesus. Entregou à humanidade uma aliança de paz e de todo o bem. São Francisco trouxe luz para os nossos olhos. Desde o Papa, até o Coroinha, até o Gari e a todo mundo. Diz Frei Elias: ‘verdadeiramente era a luz a presença de nosso irmão e Pai Francisco’. Era, pois, uma luz emitida pela verdadeira luz Cristo, iluminando os que estavam nas trevas e que se achavam na sombra da morte para dirigir-lhes os pés no caminho da paz. Assim fez São Francisco, de coração abrasado no amor de Cristo Jesus, pregando o reino de Deus e convertendo os corações dos pais aos filhos, dos imprudentes à prudência dos justos. São Francisco preparou em todo o mundo um novo povo para o Senhor. Na sua minoridade, na sua pobreza, na sua insignificância, nele nem era belo de aparência”, observou.

“Continua Frei Elias, anuncio-vos uma grande alegria e a novidade de um milagre. Olha só, não muito tempo antes da morte, nosso irmão e pai apareceu crucificado, trazendo em seu corpo as chagas, os estigmas de Cristo. Seu semblante era desprezível e nele nenhum dos membros restou sem grande sofrimento. Mas depois de sua morte, o aspecto era belíssimo, resplandecente, de admirável candor, alegrando os que o veem. Hoje sempre queremos bendizer e agradecer a Deus, porque realizou conosco a sua misericórdia, que engrandeceu São Francisco entre os homens e o glorificou diante dos anjos. Rezamos para que Deus nos torne com São Francisco partícipes de sua santa graça”, lembrou.
Por fim, disse: “São Francisco traz luz para os nossos olhos, cegos de interesse, de ganância, de vaidades. Então, com São Francisco, por isso, o admiramos, queremos ter essa pureza do olhar. Um olhar onde possamos, então, vislumbrar um horizonte maior para além de nós mesmos”.
Após a homilia, Frei Paulo entoou a Ladainha de São Francisco.
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