Vila Velha (ES) – Os capixabas têm o privilégio de, junto com a maior e a mais importante festa da cristandade, a Páscoa do Senhor, celebrar o início das festividades em honra a Nossa Senhora das Alegrias, o título pascal de Maria, ou simplesmente a Nossa Senhora da Penha, como ficou conhecida a Padroeira do Espírito Santo.
Mesmo com o tempo nublado e ameaçando chuva, o Oitavário da Festa da Penha começou , com fé, devoção e alegria, como fez o devoto Frei Pedro Palácios há 453 anos quando instituiu esta festividade. Este ano o tema da Festa é vocacional: “Com Maria, chamados a servir”. Para este primeiro dia, o tema é “Batismo, fonte de todas as vocações”.
Como acontece todos os anos, a abertura da Festa marca o primeiro encontro do povo com a histórica imagem de Nossa Senhora da Penha no Campinho, palco de todas as celebrações até o encerramento do Oitavário. Às 15h30, a imagem, vestida com seu manto azul e rosa, deixou a Capela de São Francisco – onde está sepultado Frei Pedro Palácios – e foi levada num andor até o altar central do Campinho, enquanto o povo cantava o Hino da Festa da Penha 2023. A imagem foi conduzida pelos membros das Equipes do Batismo e duas pessoas que receberam o Batismo na Vigília Pascal de ontem. Muitos se emocionam neste momento devocional da abertura das festividades.
Frei Djalmo Fuck, guardião e reitor do Convento e Santuário da Penha, abriu mais esse momento histórico na vida dos capixabas e presidiu este primeiro dia do Oitávio, um momento devocional franciscano que antecede a Celebração Eucarística.
A Santa Missa, que teve início às 16 horas, foi presidida pelo Vigário Provincial, Frei Gustavo Medella, representando o Ministro Provincial, Frei Paulo Roberto Pereira, e todos os frades da Província Franciscana da Imaculada Conceição. Como concelebrantes, frades do Convento e do Santuário do Espírito Santo e sacerdotes da região de Vila Velha, responsável pela liturgia deste dia.
Frei Medella abriu sua reflexão citando um trecho da Exortação Apostólica Evangelii Gaudium: “A verdadeira fé no Filho de Deus feito carne é inseparável do dom de si mesmo, da pertença à comunidade, do serviço, da reconciliação com a carne dos outros. Na sua encarnação, o filho de Deus convidou-nos à revolução da ternura” (EG 88).
Segundo o frade, o que pode, à primeira vista, parecer um termo até contraditório, transparece, em Jesus Cristo, como modo de agir amoroso de Deus para com a humanidade. “Todos os passos do Filho de Deus entre nós e conosco foram sempre repletos de ternura, até mesmo nos momentos em que agia de maneira firme e enérgica, mas sempre terna. O relato da Ressurreição, apresentado pelo Evangelista João no texto que acabamos de ouvir, também transpira e inspira ternura”, destacou.
Para Frei Medella, só uma alma terna, como a de Maria Madalena, se tornaria capaz de acordar tão cedo num dia de descanso para visitar a sepultura de alguém que ela amava. “Levar algumas flores, quem sabe, passar vassoura ao redor, para deixar limpo onde jazia o corpo de seu mestre. Ternura, carinho, simplicidade, respeito, consideração. No entanto, aquele que todos julgavam ter morrido não estava mais ali! Com ternura e sem estardalhaço, havia deixado para trás as armadilhas da morte para assumir e oferecer a vida eterna da qual Deus deseja ver participante toda a humanidade”, continuou o frade, ressaltando a ternura de Deus.
“Deus é tão jeitoso e terno que sua ressurreição não foi a fuga de uma prisão ou de uma sepultura hostil. É muito edificante a passagem do Evangelho que descreve como Pedro e o outro discípulo encontraram o túmulo vazio. As faixas de linho no chão e o pano da cabeça enrolado num lugar a parte. A pedra não havia sido quebrada ou implodida. Nada de bagunça, destruição ou força bruta. Jesus ressurge na potência da ternura e do amor”, reforça o celebrante.
BATISMO, O TEMA VOCACIONAL DO DIA
Frei Medella, então, conduz a sua reflexão a partir do tema vocacional da festa e o do dia (“Batismo, fonte de todas as vocações”). “O termo fonte é muito sugestivo, ainda mais se pensamos no dinamismo da água e imaginamos que as nascentes dos grandes rios brotam em pequenos e discretos veios de água que se formam com singeleza sob a terra. Parece Jesus Cristo, assumindo os aspectos mais subterrâneos da natureza humana para encher esta mesma humanidade com a vida plena”, observou o Vigário Provincial.
Para o celebrante, o batismo é um sacramento fundamentalmente pascal e, com ritos muito simples, apresenta uma realidade esplendorosa, um divisor de águas na vida da pessoa. “O primeiro rito batismal é quando o celebrante, pais e padrinhos traçam, bem de leve, sobre a fronte da criança, o sinal da cruz. Logo de início já temos de forma clara e translúcida que o Ressuscitado é o Crucificado e que a Páscoa é a capacidade de Deus em conferir sentido de vida até mesmo diante dos mais cruéis e injustos sofrimentos. A vida sempre será vitoriosa”, enfatizou.
“Esta convicção é que nos permite manter abastecido o reservatório da esperança, mesmo diante de sinais tão absurdos e escandalosos de morte e violência com os quais, infelizmente, temos sido confrontados com frequência. Não vou mencioná-los para não fazer doer feridas ainda abertas, mas nós bem sabemos onde dói e queremos com sinceridade nos unir ainda mais ao Cristo vencedor da morte para em nossas vidas sermos sinais de vida, esperança e ternura”, animou.
Segundo ele, São Francisco tinha uma devoção imensa pela Cruz de Cristo, pois foi n´Ela que nosso Salvador se entregou num gesto de suprema e divina generosidade.
Frei Medella observou que outro sinal forte e profundamente pascal na celebração do Batismo é quando se unge o peito da criança com o óleo dos catecúmenos. “O óleo cura, revigora, revitaliza, protege. Na força de Cristo, nós, os batizados, queremos também ungir a realidade à nossa volta com o óleo da bondade e do serviço amoroso”, explicou o frade. “A luz também é elemento de relevo para o sacramento batismal. É a luz de Cristo, simbolizada no Círio Pascal, esta vela solene que a Igreja, e todo mundo, acende na vigília pascal”, acrescentou. Segundo ele, quanto mais você se divide a luz, mais ela se multiplica.
O símbolo central, enfatizou Frei Medella, na celebração do Batismo é a água, fonte de vida desde criação do mundo. “Água na qual Jesus foi batizado no Rio Jordão e ungido pelo Espírito Santo. Água que jorrou do lado aberto de Cristo furado pela lança do soldado sobre o lenho da cruz. Água, direito universal, muitas vezes negado aos filhos e filhas de Deus pela nossa incapacidade egoísta de partilhar até mesmo os bens básicos para a manutenção da vida. Quem é batizado na água e no Espírito não pode jamais aceitar o escândalo da fome e da sede, nem perto nem longe de onde vive. Fome e sede em lugar nenhum. Água que lava, refresca, purifica, revigora”, exortou.
O frade então fez a seguinte sugestão: Lembre-se hoje de forma muito especial de seu batismo. Que dia ocorreu, foi onde, quem o batizou? Seu padrinho e sua madrinha estão vivos. Se estão, mande uma mensagem ou ligue para um deles. Se já faleceram, faça uma prece especial na intenção deles. Você tem afilhado ou afilhada? Procura se comunicar com ele ou ela com frequência? Dê notícias suas, procure saber notícias dele ou dela. Proximidade… O Batismo é o sacramento que nos aproxima de Cristo e nos inclui na comunidade.
ANO VOCACIONAL
Em 2023, a Igreja no Brasil e a Província Franciscana da Imaculada Conceição vivem o Ano Vocacional. Tendo como inspiração o episódio dos discípulos de Emaús, a CNBB propôs o lema “Coração ardente, pés a caminho”. “O coração dos batizados deve ser um coração ardente, pois a brasa do amor de Deus está ali depositada. Celebrando os 800 anos de Aprovação da Regra da Ordem dos Frades Menores, escrita por Francisco de Assis, nossa Província abraçou o lema ‘Com Francisco, chamados a viver o Evangelho’”, explicou Frei Medella.
Segundo ele, as duas propostas são intimamente ligadas. “Viver o Evangelho ao modo de Francisco é abraçar a itinerância própria de quem tem o coração ardente. Sempre no espírito de Serviço, conforme nos ensina Nossa Senhora, a serva do Senhor por excelência. Do mesmo modo que nos revela Maria Madalena, coração ardente e pés a caminho para cuidar da sepultura do Senhor, descobrindo em seguida que ali Ele não estava mais. O crucificado agora é também ressuscitado”, explicou.
“Seus braços abertos são capazes de um abraço largo onde cabe o universo, com suas belezas e contradições, dores e alegrias, contentamentos e decepções. Cabe tudo e tudo é transformado em vida, e vida plena. Não para alguns, mas para todos, sem exceção. Deus está pronto para nos amar sempre. Basta que nos deixemos amar por Ele. Amém!”, ensinou.
MOMENTO DEVOCIONAL
O guardião do Convento, Frei Djalmo Fuck, saudou a todos no primeiro dia do Oitavário e refletiu sobre o batismo. Para o frade, Todos nós deveríamos uma vez na vida visitar a igreja onde fomos batizados e reviver com muita intimidade o nosso batismo. “O batismo não é o sacramento do registro, do arquivo, onde nosso nome está escrito, e vamos procurar no dia em que nos é pedido. O batismo é a certeza que o nosso nome não está apenas escrito no livro, mas no céu, no coração de Deus”, indicou.
Cantos e orações marcam este momento devocional franciscano, que recorda um pouco da história do frade fundador da Festa da Penha: “Frei Pedro Palácios, da Ordem dos Frades Menores de São Francisco, como irmão leigo, pede e obtém a sorte de ser mandado pelos seus superiores a missionar no Brasil. Sai ele de Portugal com um quadro de Nossa Senhora nas mãos, embarca em frágil nau e se aventura à incerteza do mar para levar a luz da fé a terras desconhecidas. Mas pelo grande amor a Deus ele nada teme, a sua devoção para com a mãe dos homens o protege e guia até o porto de Vitória. Admira a caridade tão viva e uma confiança tão ilimitada deste bom servo de Deus”.
No final deste momento, um casal com uma criança se colocou perto da imagem de Nossa Senhora. “Temos um costume, muito bonito no Batismo, de consagrar às crianças a Nossa Senhora. Nesse momento, convidamos a todos a ficarem de pé e nos consagrarmos a Nossa Senhora”, pediu Frei Djalmo.
MÚSICA BOA
O primeiro dia da Festa da Penha terminou com a apresentação do tenor lírico brasileiro, Thiago Arancam, considerado um dos maiores tenores da atualidade.
Thiago Arancam se apresentou nos principais teatros do mundo, em mais de 40 países. Destaque para o Alla Scala (Milão), Opera de Roma (Itália), Opera Nacional de Washington (Eua), Opera Estadual de Viena (Áustria), Deutsche Opera de Berlim (Alemanha), Bolshoi (Moscou), além de inúmeras produções no Japão, Emirados Árabes, Malásia, Canadá, Espanha, França, Polônia, Letônia, Mônaco e Reino Unido. Foram mais de 500 apresentações ao redor do mundo.
O jovem tenor iniciou seus estudos em São Paulo e, pouco depois de se formar, em 2004, foi convidado a frequentar a conceituada Accademia de Canto Lírico do Teatro alla Scala, em Milão, Itália. Depois disso, não parou mais, rodando o mundo interpretando canções de ópera. Em 2014, lançou o álbum “Il Mondo” pela Sony Music, que contempla um mix de canções populares em português, inglês, espanhol e italiano.
Em 2007, ganhou o Prêmio Alto Adige, para a melhor voz jovem emergente do ano. Foi escolhido, no ano seguinte, para participar da competição Operalia, famosa no ramo. Na ocasião, Thiago ganhou três prêmios: zarzuela, de audiência e de segundo prêmio de ópera. Em 2014, lançou seu segundo disco, “Il Mondo”, com um repertório de canções populares mais conhecidas, diferentemente de sua tendência clássica.
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Frei Augusto Luiz Gabriel e Moacir Beggo