Com muita festa e gratidão, centenas de pessoas participaram da Missa de acolhida da Relíquia e Imagem de São Francisco de Assis, no início da noite do último sábado (18), no Santuário do Divino Espírito Santo, no Centro de Vila Velha, Espírito Santo. O oratório, que está peregrinando pelas fraternidades da Ordem Franciscana Secular de todo o Brasil, estava desde a última quarta-feira (15) em Colatina, no noroeste do estado, onde visitou a Paróquia Santa Clara de Assis e o Mosteiro Santíssima Trindade.
A peregrinação da Relíquia faz partes das celebrações em comemoração aos 800 anos da Vida e Regra da OFS. Em solo canela-verde a Fraternidade Nossa Senhora da Penha organizou diversas atividades para celebrar o acontecimento histórico, entre elas, visitas do SEI (serviço aos enfermos e idosos), Missas, celebração orante e momentos de espiritualidade franciscana.
Na acolhida no Santuário, Frei Clarêncio Neotti presidiu a Eucaristia e Frei Luiz Iakovacz, assistente das Clarissas e da OFS e Vigário Paroquial da Paróquia Santa Clara de Assis, de Colatina, concelebrou. A entrada do oratório foi realizada de forma solene, preparada pela ministra da fraternidade local juntamente com a comissão formada especialmente para elaborar os roteiros de celebrações. Em um andor móvel, a relíquia foi conduzida até o presbitério e lá, apresentada aos fiéis, para veneração posterior.
Frei Clarêncio enfatizou que a presença de uma relíquia de primeiro grau do Pobrezinho de Assis em meio à comunidade franciscana, reforça ainda mais o carisma de Francisco nos frades, nas irmãs e irmãos leigos e nas irmãs clarissas. Já a homilia, ele destacou a importância de acolher o fragmento do fêmur de São Francisco. “Estamos na Quaresma, portanto gostaria de destacar os sofrimentos de São Francisco e ao receber a Relíquia de São Francisco, vamos entender o São Francisco imitador, talvez o maior de toda a história cristã, do Cristo sofredor. Na Quaresma nós refletimos sobre o sofrimento de Jesus, caminho misterioso, mas verdadeiro porque foi trilhado. Através do sofrimento e da morte de Jesus de Nazaré, veio a nossa Ressurreição, nossa glória e abertura das portas do céu para todos. Que a visita de São Francisco a esta paróquia, a esta comunidade de fé, nos faça lembrar a grandeza do sofrimento de Jesus na pessoa de Francisco”, afirmou Frei Clarêncio.
O frade recordou que ao longo desses anos, a família franciscana celebra alguns centenários. “Os franciscanos estão celebrando uma série de centenários. Em 2021, celebrávamos os 800 anos de fundação da Ordem Franciscana Secular. São Francisco fundou três ordens: nós frades menores, a segunda ordem das Irmãs Clarissas [temos aqui no Estado as irmãs Clarissas em Colatina] e fundou também uma ordem para os leigos casados, solteiros que vivem no mundo, tudo isso dentro da mesma espiritualidade franciscana, que tradicionalmente se chamou de Ordem Terceira. Secular no sentido de serem pessoas que vivem no mundo com suas profissões, porém observando a espiritualidade franciscana… Neste ano de 2023, celebramos 800 anos do primeiro presépio, que foi criação, invenção de São Francisco; Em 2024, temos 800 anos da Impressão das Chagas de Cristo no corpo de São Francisco. E tem mais, em 2025, 800 anos da composição do cântico do Irmão Sol, que vocês encontram como “Cântico das Criaturas”… Em 2026, vamos ter os 800 anos da morte; em 2028, 800 anos da canonização de São Francisco”, recordou Frei Clarêncio.
“Quando Francisco estava moribundo, morrendo na tarde do dia 3 de outubro de 1226, ele pediu ao confrade que lesse para ele a Paixão do Senhor e Frei Elias, que era o superior geral, disse ‘Pai, mas uma leitura tão triste nesta hora?! Vamos escolher outro texto’ e Francisco disse ‘não, meu irmão! A mim, me basta o Cristo Crucificado que morreu por mim’ e Francisco morreu cantando um salmo cheio de alegria por estar se abraçando com a irmã morte”, completou o Vigário Paroquial.
No final da Missa, Frei Clarêncio ainda trouxe os grandes ensinamentos de Francisco de Assis, como a visita aos muçulmanos para dialogar, como a abraço ao leproso, como seu cuidado com os pobres… “Francisco foi um homem aberto a todos, a pobres e a ricos, nunca fez diferença. Francisco e nós franciscanos não fazemos diferenças entre sagrado e profano. O profano depende do meu coração e o acolhimento, o respeito é para com todos, para com os animais, para com as plantas, para com a natureza inteira. Nós somos por vocação, ecologistas da ecologia”, disse o frade.
Por fim, ainda falou para aqueles que se interessaram em seguir a Espiritualidade de São Francisco na OFS. “A Ordem Franciscana Secular é aberta a todos que quiserem viver a espiritualidade de São Francisco. Resumindo, primeiro precisa ser uma pessoa de paz: franciscano jamais terá uma arma de fogo e jamais vai aconselhar ter arma! Somos pessoas de paz. Segundo, somos pessoas de acolhimento e respeito a todos, independente de religião, de partido político, portanto, quem está zangado porque seu partido político não ganhou, já não pode ser franciscano, a não ser que converta o coração. Somos pessoas de respeito para todas as ideologias… O Papa Francisco tá fazendo um esforço enorme nesse sentido e é criticado exatamente por aqueles que querem a diferença ‘nós católicos’ e não”, finalizou.
Frei Clarêncio concedeu a bênção de São Francisco com a presença da Relíquia do Santo.
Ainda dentro das celebrações dos 800 anos da Vida e Regra da Ordem Franciscana Secular, na manhã deste domingo (19), foi a vez do Convento da Penha acolher o Oratório com a Relíquia e a Imagem de São Francisco de Assis. A Fraternidade Nossa Senhora da Penha se reuniu em grande número para expressar seus louvores à Padroeira dos capixabas e ao Santo fundador das três ordens franciscanas.
A Missa teve tons de solenidade e foi presidida pelo Guardião e Reitor do Convento, Frei Djalmo Fuck, com presença do Frei Pedro Engel, que é irmão leigo e assistente (orientador espiritual) da OFS em Vila Velha. As leituras, a acolhida e as preces, foram feitas pelas pessoas que fazem parte da Ordem Terceira, afinal o motivo da presença da Relíquia foi em recordação festiva por tão importante marca: 8 séculos de história.
Ao acolher os fiéis, Frei Djalmo comentou: “ao iniciar esta celebração, na alegria de termos junto a Relíquia de São Francisco de Assis, perto de nós, que nos visita com seu amor, com tudo aquilo que significa São Francisco para nossa vida, nossa história, nosso mundo, queremos pedir perdão pelas vezes que não vivemos a fraternidade, a solidariedade, o cuidado com a criação, com o irmão… Que Deus tenha compaixão de nós e São Francisco interceda por cada um de nós”.
Na sequência, ao som de “canta, Francisco, com a voz dos pobres, tudo o que atreveste a mudar. Canta novo sonho, sonho de menino, novo céu e terra vão chegar”, a Relíquia foi levada até o Altar do Convento pelas Ministra e Vice-Ministra da Fraternidade da Penha, Maria Amélia Zucollotto e Darcineia Bernardes, respectivamente. O momento foi tomado de emoção por muitas pessoas, algumas inclusive entenderam este gesto como o encontro da Mãe Santíssima, na Penha Sagrada invocada como Senhora das Alegrias, com São Francisco de Assis, aquele que adorou o Crucificado.
Durante a homilia, o Guardião da Penha fez questão de falar sobre a importância de Francisco para a atualidade. “Em 1221, o Papa aprovou uma forma de vida. As ordens religiosas, as confrarias, os movimentos têm uma Regra de Vida, uma forma de viver e de se comportar. São Francisco chamava a Regra de “a medula do Evangelho”, uma espécie de resumo daquilo que encontramos na Palavra de Deus. Os franciscanos seculares têm essa regra aprovada em 1221, nós da Primeira Ordem, Ordem dos Frades Menores, tivemos nossa Regra aprovada um pouquinho depois, em 1223… A Ordem Franciscana Secular é para pessoas leigas, casadas, solteiras, aposentadas, trabalhando… Nas diversas funções da vida, vivem o carisma de São Francisco e vivem este carisma no mundo, por isso, seculares. Isso nos lembra aquilo que Jesus também fala no Evangelho. ‘Vocês devem ser sal da terra e luz do mudo’, então, o lugar onde os franciscanos vivem o Evangelho não é dentro da Igreja, claro que em obediência à Igreja, mas vivem esta espiritualidade no mundo e dentro de suas realidades. O franciscano da OFS vive dentro da família, vive no ambiente de trabalho, vive onde quer que esteja, sua forma de vida. Uma consagração e uma entrega total dentro deste mundo que Deus nos deu”, afirmou
Depois, completou a reflexão dando um panorama aos fiéis sobre o papel dos franciscanos no mundo. “Nós franciscanos somos convidados a viver e a testemunhar, primeiramente o espírito de fraternidade, não existe franciscano sozinho, por isso nos chamamos ‘irmãos uns dos outros’, vivemos a vida fraterna; vivemos o espírito de pequenez, de minoridade, de simplicidade. Cada um no seu estado de vida. Os franciscanos seculares de um jeito, os menores de outro, mas todos somos convidados a viver a minoridade, a simplicidade, a pequenez, não se apegar aos bens terrenos e não fazer dos bens a razão de nossa existência. Outra palavra importante, solidariedade. Solidariedade com o mundo, com aqueles que sofrem”, comentou o Reitor do Santuário da Penha.
Ao final da partilha da Palavra, Frei Djalmo disse que a alegria é outra marca dos franciscanos. “Não existe franciscano triste. Franciscano é sempre alegre, onde passa transborda alegria, contentamento, mas não é uma alegria vazia, artificial. É alegria de poder ter abraçado uma vida e ser feliz na escolha que fez, porque Deus nos quer felizes nas escolha que fazemos. Se sou frei, devo ser feliz na escolha que fiz. Se o franciscano da OFS escolheu fazer parte da família franciscana, é alguém que transborda alegria e contentamento. O mesmo vale para você que é casado. Se você escolheu a vocação ao matrimônio deve se alegrar ao lado da sua família para viver essa santa vocação”.
“Estamos diante de uma relíquia, um pequeno fragmento do corpo de São Francisco de Assis. Esse é um sacramental, para lembrar para nós, que olhando para ela, rezando junto aos seus pés, somos convidados a viver a fraternidade, a minoridade, a solidariedade e viver a alegria. Somos gratos à Ordem Franciscana Secular por ter trazido esta relíquia até nós!”, finalizou.
Frei Djalmo também fez um convite vocacional para aqueles que desejam iniciar o itinerário da vida da Ordem Franciscana Secular, pedindo as bênçãos e proteção de Nossa Senhora da Penha.
Após a Missa, a Relíquia foi levada até a “casa das irmãs Jesus na Eucaristia” que fica no sítio histórico da Prainha, em Vila Velha. A noite, o Oratório abençoou os fiéis nas Missas das 17h e das 19h. Já na segunda, a Relíquia vai peregrinar pelo Serviço aos Enfermos e Idosos; e outras atividades, no fim do dia, às 19h, participa de uma Celebração Penitencial no Santuário de Vila Velha.