Paz e Bem!
O Natal é uma das mais importantes celebrações cristãs não apenas para a Igreja Católica mas para a sociedade em geral. Nessa ocasião, elevamos nosso clamor de gratidão a Deus pelo Nascimento de seu filho unigênito e nosso Senhor, Jesus Cristo. Deus quis estar entre nós, fazer-se um de nós e um conosco.
Os sinos das 18h aos pés da Penha Sagrada como que formando harmonia perfeita com a suave garoa que caía sobre a terra capixaba, prenunciavam uma “Noite Santa Feliz”, onde Deus se fez humano e veio ao mundo para nos garantir a redenção. Homem, entre os homens, Deus Menino. Durante pouco mais de cinco minutos, o badalar convidava à oração e ao encontro alegre, festivo.
Embora muitos não encontrassem motivos para comemorar o Natal, a celebração deste ano mostrou que o verdadeiro sentido do Natal está justamente na simplicidade. Na simples Gruta de Belém numa noite escura e fria, Deus cumpriu sua promessa em Jesus, pelo santo ventre de Maria. A Luz resplandeceu em plena escuridão!
O Campinho do Convento acolheu cerca de 300 fiéis para a tradicional Missa da Noite de Natal no Convento. Distanciados, com máscara e utilizando álcool em gel, seguindo os protocolos estabelecidos pelas autoridades sanitárias, os devotos rezaram por diversas intenções, especialmente pelo fim da pandemia e pelas famílias das mais de 190 mil pessoas que perderam a vida por conta da covid-19.
A Santa Missa foi presidida pelo Guardião do Convento, Frei Paulo Roberto Pereira; com participação do Frei Pedro de Oliveira, que concelebrou; e do Frei Pedro Engel que entoou cânticos juntamente com o músico Victor Danézio. Após abrir a celebração festiva, Frei Paulo acolheu as crianças e logo após o Anúncio do Natal, alguns anjinhos entraram, primeiro com a vela natalina, depois com a pequena Giovana e por fim a Eloá com a Imagem do Menino Jesus nas mãos. Após apresentar o Menino à assembleia, ele foi colocado na manjedoura preparada por voluntários no altar do Campinho.
O momento foi acompanhado por mais de 300 fiéis no YouTube e mais 280 no Facebook, além de outros 58 no Instagram. Além da emoção, o público expressou também um olhar fixo no Menino Jesus, aquele que veio para nos dar a salvação, nossa esperança no tempo da pandemia. Enquanto assistiam, cantavam glórias ao Senhor.
Durante a partilha da Palavra, o Guardião recordou, inicialmente, a oportunidade que a Igreja nos oferece anualmente de celebrar com júbilo e alegria o Natal do Senhor. “Não tenhais medo. Eu vos anuncio uma grande alegria, que o será para todo o povo: Hoje, na cidade de Davi, nasceu para vós um salvador, que é o Cristo Senhor”. Deus enche de luz a história humana. Nestes dias difíceis pelos quais passamos celebrar o Natal se converte em oportunidade para resgatar o ânimo e a esperança. Na noite de hoje vamos voltar nosso olhar ao presépio para reviver as grandes lições que dele brotam. Deus não abandona seus filhos. Ao dar à luz seu filho, Maria reafirma esta certeza: Deus promete, Deus cumpre. Quem se mantém fiel a Ele vai poder sorrir e se alegrar, vai alargar os ouvidos e acolher a voz do céu a dizer: Não tenhais medo. Se a incerteza, a insegurança e a morte insistem em nos ameaçar, a escolha de Deus por nós, nos fortalece e anima”, afirmou Frei Paulo Roberto.
“Novamente ele vem em socorro da aflição do seu povo; hoje não mais por um mediador como nos tempos de Moisés, mas ele mesmo assume nossa condição humana para nos libertar do jugo da escravidão, do pecado e da morte. No Menino de Belém a promessa de Deus é cumprida. Deus sempre cumpre a sua parte no trato. Assim como contou com o sim de Maria e o sim de José, nos convida a empenhar corajosamente a nossa palavra. Por isso, sob o impulso dessa noite solene cada um possa novamente dizer: Senhor, eis-me aqui; seja feita a vossa vontade”, explicou o frade.
E continuou: “Além de encontrarmo-nos com a fidelidade, encontramo-nos também com a simplicidade. Como não havia lugar para eles na hospedaria, a família sagrada se instalou entre os animais da estrebaria e, ao nascer, o Filho de Deus foi colocado num cocho para animais. Não foi o palácio dos reis, nem as mansões dos poderosos, não foram as pompas e a fama que receberam o Rei dos Reis. No menino de Belém, a lição do despojamento e da simplicidade. A claridade desta noite santa nos convida ao desapego, nos indica o itinerário da simplicidade. Possamos nos esvaziar das pretensas verdades que nos tornam soberbos, das vaidades que nos afastam uns dos outros, da intolerância e da prepotência geradora de violência e exclusão, do egoísmo que corrói a fraternidade.”
Veja a homilia completa abaixo ou leia na íntegra no fim desta matéria
Ao final da reflexão Frei Paulo recordou, emocionado, as famílias que tanto sofrem com a perda dos seus entes queridos nesta pandemia. “Hoje vemos crescer a indiferença, a negação, o desdém, a incapacidade de dar suporte aos que sofrem, o desprezo pela dor alheia. Muitas pessoas acabaram por se cansar, cansar do exercício da caridade, cansar de preservar a grandeza da sua própria humanidade. Esse cansaço, em grande medida, é responsável pelas mais de 190 mil cadeiras vazias nos jantares desta noite, isso só no nosso país…” E completou: “É verdade que por algum tempo, estamos privados do calor e do aconchego de um abraço, é também verdade que nossos sorrisos estão escondidos pelas necessárias máscaras. É verdade que dói em nós a distância dos familiares e amigos, mas meu irmão, não há, definitivamente não há escuridão que dure para sempre, não há escuridão que resista ao vigor da aurora, por isso, animados pela fé, movidos de esperança, vamos curar o mundo doente. Nós, nossas ações, nossas escolhas são a cura que o mundo espera. Esperamos ansiosamente a vacina que vai curar e restabelecer a nossa saúde sanitária…”
Um dos momentos mais emocionantes foi quando o Frei Pedro de Oliveira conduziu a Imagem do Menino Jesus até o mirante do Campinho e abençoou as cidades, todo o Espírito Santo. Muitas pessoas ficam emocionadas.
Fotos: Marcos Antoniazi
Homilia do Frei Paulo Roberto na íntegra
“Não tenhais medo. Eu vos anuncio uma grande alegria, que o será para todo o povo: Hoje, na cidade de Davi, nasceu para vós um salvador, que é o Cristo Senhor”.
A cada ano a Igreja nos oferece a oportunidade de recordar o nascimento de Jesus na noite escura de Belém. Deus enche de luz a história humana. Nestes dias difíceis pelos quais passamos celebrar o Natal se converte em oportunidade para resgatar o ânimo e a esperança. Na noite de hoje vamos voltar nosso olhar ao presépio para reviver as grandes lições que dele brotam. Deus não abandona seus filhos. Ao dar à luz seu filho, Maria reafirma esta certeza: Deus promete, Deus cumpre. Quem se mantém fiel a Ele vai poder sorrir e se alegrar, vai alargar os ouvidos e acolher a voz do céu a dizer: Não tenhais medo. Se a incerteza, a insegurança e a morte insistem em nos ameaçar, a escolha de Deus por nós, nos fortalece e anima.
Nesta noite santa o Presépio nos atrai. O ambiente da gruta de Belém, desprovido de qualquer segurança material, exala cuidado e proteção, carinho e acolhimento. Do lado de fora escuridão e frio, a partir de dentro intensa luz, luz do céu que veio morar na terra, pura graça; puro dom; presente; presença de Deus na nossa história. Boi e burro, a natureza toda reverencia o Senhor que veio para nos salvar. Deitado sobre as palhas a mais eloquente revelação de Deus: Conselheiro Admirável, Deus forte, Pai dos tempos futuros, Príncipe, princípio da Paz.
A contemplação do presépio nos proporciona encontros significativos.
Encontramos com a fidelidade de Deus. Novamente ele vem em socorro da aflição do seu povo; hoje não mais por um mediador como nos tempos de Moisés, mas ele mesmo assume nossa condição humana para nos libertar do jugo da escravidão, do pecado e da morte. No Menino de Belém a promessa de Deus é cumprida. Deus sempre cumpre a sua parte no trato. Assim como contou com o sim de Maria e o sim de José, nos convida a empenhar corajosamente a nossa palavra. Por isso, sob o impulso dessa noite solene cada um possa novamente dizer: Senhor, eis-me aqui; seja feita a vossa vontade.
Além de encontrarmo-nos com a fidelidade, encontramo-nos também com a simplicidade. Como não havia lugar para eles na hospedaria, a família sagrada se instalou entre os animais da estrebaria e, ao nascer, o Filho de Deus foi colocado num cocho para animais. Não foi o palácio dos reis, nem as mansões dos poderosos, não foram as pompas e a fama que receberam o Rei dos Reis. No menino de Belém, a lição do despojamento e da simplicidade. A claridade desta noite santa nos convida ao desapego, nos indica o itinerário da simplicidade. Possamos nos esvaziar das pretensas verdades que nos tornam soberbos, das vaidades que nos afastam uns dos outros, da intolerância e da prepotência geradora de violência e exclusão, do egoísmo que corrói a fraternidade.
Os encontros com a fidelidade e com a simplicidade são, deveras, significativos. Entretanto, o presépio apresenta outro encontro ainda mais marcante, o encontro com a humanidade. Deus se desfaz da sua divindade e assume a carne humana. O esvaziamento de toda potência e realeza realça a opção de Deus pela pobreza e pela fragilidade dos seres humanos. Busca assemelhar-se a nós, possibilitando assim que, ousadamente, queiramos nos assemelhar a Ele. A partir do presépio de Belém a história humana é transformada. Em Jesus Cristo a beleza e dignidade humana, tão ofendidas em Adão, são resgatadas. Inaugura-se caminho novo. Possibilidades infindas.
Assim esta celebração tem o condão de reavivar em nós o princípio da esperança. Mas para tanto impõe-se acolher e viver as lições do presépio:
Cultivar a fidelidade.
Cortejar a simplicidade.
Voltar a acreditar na humanidade.
O mundo inteiro atravessa uma crise sem precedentes. A Pandemia ceifou vidas contadas aos milhares. A crise que inicialmente atingiu a todos, aos poucos, revelou-se mais cruel com os empobrecidos. Os que já não tinham a segurança do emprego, da habitação digna, os desterrados e aflitos, os idosos, por natureza mais debilitados, se viram ameaçados pela dor, pela insegurança e pelo medo.
Por ter se mostrado resistente, a doença obrigou-nos a um período desgastante de isolamento que tende a se prolongar ainda mais. Se no início da Pandemia eram frequentes as manifestações de apreço pelos profissionais da área da saúde, se nos emocionava cada reportagem com canções nas sacadas, com gestos de solidariedade entre os vizinhos, se nos era desconcertante os velórios e sepultamentos sem amigos, hoje vemos crescer a indiferença, a negação, o desdém, a incapacidade de dar suporte aos que sofrem, o desprezo pela dor alheia… muitas pessoas acabaram por se cansar, cansar do exercício da caridade, cansar de preservar a grandeza da sua própria humanidade.
Essa realidade ofende aos céus e ofende igualmente nossa humanidade. Por isso é urgente celebrar o Natal. Por isso, é inadiável que nos unamos aos anjos e, plenos pulmões, anunciemos ao mundo inteiro a grande alegria: hoje nasceu o Salvador; hoje renasceu na carne humana o desejo de plenitude. Não tenhamos medo.
É verdade que por algum tempo estamos privados do calor e do aconchego de um abraço; é também verdade que nossos sorrisos estão escondidos pelas máscaras, é verdade que dói em nós a distância dos familiares e dos amigos, mas não há escuridão que resista ao vigor da aurora, esse sofrimento não durará para sempre. Por isso, animados pela fé, movidos de esperança, vamos curar o mundo doente. Nós somos a cura, a vacina que esperamos.
Quando damos atenção aos outros, quando partilhamos o que temos e somos, quando acolhemos as pessoas como elas são sem preconceitos de qualquer natureza, quando nos esforçamos para cuidar da nossa casa comum, quando nos recusamos a espalhar mentiras, quando não abrimos mão da justiça, quando saímos a espalhar sementes de entendimento e compreensão, estamos a oferecer ao mundo o melhor de nós, nossa humanidade.
Humanidade hoje novamente revestida da luz divina que transborda do presépio de Belém.