Esta festa é uma das maiores memórias marianas de origem devocional. O título do Carmo lembra o Monte Carmelo, na Palestina, a herança espiritual do profeta Elias, o profeta contemplativo e defensor do Deus Único de Israel, vencedor dos sacerdotes de Baal, partidários da falsa divindade. Eremitas cristãos, no século XII, recolheram-se ali para dedicar-se dia e noite ao louvor do Senhor sob a proteção da Bem-Aventurada Virgem Maria. A festa de Nossa Senhora do Carmo direciona nosso pensamento ao Deus da Vida sob a proteção de sua Mãe.
O carmelita Frei Patrício Sciadini escreve: “Em 16 de julho temos uma festa que nós, brasileiros, sentimos muitíssimo, Nossa Senhora do Carmo, do bentinho sagrado que temos recebido quem sabe quando criança e que tanto fala ao nosso coração. O bentinho, o escapulário, sinal da bênção de Maria, de sua proteção materna que caminha conosco e que nos faz sentir que jamais seremos sozinhos para enfrentar as lutas da vida. Há momentos em que a presença da mãe se faz mais exigente, mais forte e mais urgente, como no mundo contemporâneo. É triste que desapareça um pouco a figura do pai, muito ocupado em tantas coisas, distraído em correr de um lado e de outro e que não tem tempo para parar, para escutar o grito dos filhos, ou contar o conto do velho que ia no mato procurar lenha e encontrou um pobre, e quando ajudou o pobre, caiu uma lágrima e a lágrima se transformou em tesouro. Hoje os tesouros não se encontram mais nos bosques mas sim no fundo do mar, o petróleo tão precioso que está contaminando as nossas águas, ou no ventre da terra e a ganância nos faz romper o útero da terra na busca da não vida que é o ouro. É preciso que os pais recuperem a sua dimensão de ternura como o pai de santa Teresinha, que chamava a sua filhinha de “minha princesa”, e ela, comovida, chamava o seu pai de ‘meu rei’.”
A festa e os Carmelitas
Como as outras Ordens religiosas, também os carmelitas inseriram na fórmula da sua Profissão Religiosa o nome de Maria, de modo que prometiam obediência a Deus e à Beata Virgem do Monte Carmelo. Tal fórmula a encontramos já prescrita nas primeiras constituições que a Ordem se deu em 1281.
O Capítulo Geral de 1294 decretou que se inserisse o nome de Maria no Confiteor, e em 1312, estabeleceu-se de se recitar o oficio de Nossa Senhora a cada Sábado do mês ou pelo menos cada semana; devia-se cantar a cada dia a Missa da Beata Virgem Maria, e no calendário carmelitano foi inserida a festa da Imaculada Conceição, título este que os Carmelitas defendem, no bojo das discussões teológicas a respeito. O capitulo Geral de 1324 prescreveu enfim a Salve Regina em todas as horas canônicas do ofício divino.
Em relação à festa de Nossa Senhora do Carmo, houve, durante os séculos XIII e XIV, intentos de se celebrar uma festa que fosse própria. Celebravam-se, sim, a partir de meados do século XIII, as festas da Purificação, Anunciação, Assunção e Natividade. Em 1312 introduziu-se a festa da Imaculada Conceição. Somente no final do século XIV aparece a Comemoração solene da Bem Aventurada Virgem Maria do Monte Carmelo. A primeira menção desta solenidade a temos em um calendário litúrgico próprio de 1386.
Da leitura dos textos litúrgicos da Commemoratio depreende-se que ela foi instituída para dar graças à Virgem pelos seus inumeráveis benefícios, principalmente por sua intervenção por ocasião da aprovação da Regra feita por Honório III. A festividade foi associada à memória da entrega do Escapulário até 1609, quando, a partir da Inglaterra, estendeu-se a toda a Ordem. Em 1624, a Espanha começa a celebrar esta festa. Benedito XIV estendeu a comemoração para toda a Igreja em 1726. No Brasil, a comemoração foi elevada ao grau de festa em 1990, pela Conferência Nacional dos Bispos, por indicação de D. Pedro Fedalto, arcebispo de Curitiba.