Moacir Beggo
Vila Velha (ES) – Depois de seis dias de homenagens no alto do Morro da Penha, a imagem de Nossa Senhora da Penha veio para a planície neste sábado, 26 de abril, caminhar com uma multidão de 500 mil pessoas, segundo dados da Polícia Militar, num percurso de 14 quilômetros, da Catedral de Vitória até o Convento da Penha. Inicialmente, a Romaria dos Homens foi criada para estimular a participação masculina na Festa da Penha, hoje se tornou a maior ‘romaria de homens’ do Brasil. Na verdade, todo o povo quer caminhar com a Mãe dos Caminhantes: homens, mulheres, jovens, idosos e crianças. É a maior demonstração de fé de uma festa essencialmente devocional.
Esta gigante procissão com a Padroeira do Espírito Santo teve início no final da Missa celebrada na Catedral, às 19h30 horas. Os sinos da Catedral avisaram que a Romaria ia começar. As velas foram acendendo e tomaram conta da praça da Catedral. Um grupo de homens, que formam a “Corrente da Penha”, abriu caminho para o ‘Penhamóvel’ passar, especialmente nas ruas mais estreitas do Centro da capital, a partir da praça Dom Luiz Scortegagna, ruas José Marcelino, São Francisco, Caramuru, Cais de São Francisco, Cleto Nunes, Marcus de Azevedo, Duarte Lemos e Nair Azevedo Silva.
Foi emocionante ver a força dessa manifestação de fé em todo o percurso da romaria. Velas acesas, cantos e orações acompanharam a imagem de Nossa Senhora das Alegrias, que parecia deslizar nos braços da multidão dentro de uma berlinda, uma espécie de andor ornado de flores naturais. A emoção tomou conta de todo o trajeto e, certamente, mesmo aqueles que não têm fé foram pegos de surpresa por essa gigantesca demonstração de fé. E não poderia ser diferente. O cenário era místico e frenético. Milhares de pessoas rezando nas ruas, nos prédios, nas casas; fogos de artifícios estourando no céu durante o percurso, e muita, muita, devoção.
A música não poderia expressar melhor esse momento: “Maria, Mãe dos caminhantes,/ Ensina-nos a caminhar./ Nós somos todos viandantes, /Mas não é fácil sempre andar”.
Foi o momento de epifania, de manifestação divina, que durou algumas horas mas ficará para sempre iluminando a alma desse fervoroso povo.
Na longa avenida Carlos Lindenberg, a romaria cresce assustadoramente quando recebe novos peregrinos, como os de Guarapari e dos bairros da capital e Vila Velha. A procissão de Guarapari acontece há 35 anos e os romeiros caminham aproximadamente 11 horas, sendo assistidos por uma equipe de apoio com socorristas e ambulâncias.
Depois de completar o longo percurso com as grandes avenidas Carlos Lindenberg e Luciano das Neves, a imagem chegou à Prainha por volta das 23h30. A Eucaristia já estava na metade e a multidão ainda continuava a chegar na Prainha, no pé do Morro da Penha. A Santa Missa foi presidida por Dom Giovanni d’Aniello, Núncio Apostólico do Brasil, e concelebrada pelo arcebispo Dom Luiz Mancilha, pelos bispos auxiliares, Dom Rubens Sevilha e Dom Wladimir Lopes, e o bispo de São Mateus, Dom Zanone. O Núncio confessou estar impressionado com essa demonstração de fé e que iria partilhar com o Papa Francisco o que viu.
Ainda disse que três verbos sintetizavam a caminhada: caminhar, encontrar e partir. “Caminhar, representa todos que saíram da Catedral e juntos foram caminhar para Deus, juntos com Maria. Encontrar, porque as pessoas se juntaram, se encontraram na fé. Encontrar-se é comunhão e hoje à noite vocês se encontraram em comunhão e caminharam para Deus. Por fim, partir é o recomeço. Após chegarem até aqui, vocês voltam para suas casas e para as suas vidas com a missão de levar Cristo. Temos que pegar as alegrias de Nossa Senhora das Alegrias e levar Cristo para todos”.
Na Prainha, muitos peregrinos descansavam os pés, os joelhos e as mãos, deitados ou sentados no chão. Mas um grande número de romeiros só conclui a peregrinação no alto do Morro, aos pés da Virgem da Penha.
O apelo do Papa Francisco para uma Igreja de saída, itinerante e missionária deu uma mostra de como pode crescer na fé. A igreja do caminho valoriza a comunhão, como diz os Atos dos Apóstolos (2,42-47).
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