O Senhor vos dê a Paz
“Eis a luz de Cristo”; “Demos graças a Deus”. Essa aclamação, por três vezes repetida, é a reposta do povo que celebra a solene apresentação do Círio Pascal no início da celebração daquela que é a “mãe de todas as vigílias”.
Nalguns lugares, especialmente entre o povo simples, quando alguém estabelecia contato com uma pessoa pela primeira vez não costumava usar a pergunta “qual o seu nome?”; ordinariamente, perguntava “qual a sua graça?”. A graça, nesse caso, era mais que o nome, era a síntese da vida da pessoa: seu nome, por suposto, mas também sua origem, sua história, seus laços e muito mais. A partir dessa interpretação, a resposta à pergunta “qual a sua graça?” é muito mais exigente do que simplesmente repetir a sequência de letras que compõe o registro do nosso nascimento.
Se juntarmos essa compreensão popular aos variados sentidos que a Sagrada Escritura aplica para a palavra graça, poderemos alargar a abrangência da expressão “demos graças a Deus”. Graça pode ser benevolência, favor, mercê, estima, ato de bondade. Graça também significa reconhecimento, agradecimento, encanto ou beleza. Graça é dom gratuito de Deus. Graça é dom que Deus concede à humanidade para a sua salvação. Graça, ainda, é um favor imerecido, fruto do amor e da misericórdia de Deus. Graça é aquilo que traz alegria, felicidade, bênção ou deleite. Graça pode significar também bondade, benevolência ou gratidão. Podemos concluir que render graças, viver a partir da graça é a forma mais adequada para conferir sentido aos nossos passos.
Em 2025, a família franciscana recorda os oitocentos anos do belíssimo poema dado a nós pela inspiração do “Pobrezinho de Assis”. O “Cântico das Criaturas” pode ser tido como um hino de louvor, um hino de ação de graças. Este escrito revela a grandeza de Deus expressa nas suas criaturas. Ao mesmo tempo, o poema de Francisco de Assis traduz a perspectiva humana no relacionamento com todo o ser criado e com o próprio criador. O “Cântico” dá contornos nítidos à condição humana, ou seja, revela a graça do seu viver.
Para louvar ao Criador Francisco exalta sua beleza radiante, seu grande esplendor, sua preciosidade e beleza, sua fecundidade e humildade, sua casta preciosidade, sua jovialidade, sua força e vigor. Ao mesmo tempo Francisco de Assis apresenta o ser humano como alguém convocado a corresponder, apesar de sua fragilidade, à graça infinita e generosa do Criador. Tal correspondência se dará através da capacidade de perdoar por amor, suportar enfermidades e tribulações, sustentar a paz e servir a Deus com humildade.
Neste ano jubilar, por ocasião da Páscoa do Senhor, demos graças a Deus porque a longa espera chegou ao fim; graças sejam dadas porque a escuridão cessou; dos nossos lábios projetem-se graças porque a morte foi definitivamente vencida; jubilosamente rendamos graças porque a alegre notícia da vitória sobre a morte está prenhe de incontidos aleluias; demos graças a Deus, pois o Senhor ressuscitou.
Ao anunciar a alegre notícia da ressurreição do Senhor, podemos repetir as palavras que o anjo dirigiu às mulheres que, bem cedo, foram ao sepulcro de Jesus; “Ele não está aqui”. Não está entre os mortos aquele que inaugurou a vida sem ocaso; não está aprisionado pela morte aquele que é fonte de água que jorra para a vida eterna; não está encarcerado em meio às trevas aquele que nos conduz à plenitude da liberdade.
É Páscoa, é pura graça. É Páscoa, é pura gratidão. Demos graças a Deus. O sentido da nossa existência alcançou sua plena realização. A vida nova, em Jesus Cristo ressuscitado nos faz repetir infindas vezes: “Demos graças a Deus”.
Feliz Páscoa.
Paz e Bem.
Frei Paulo Pereira – Ministro provincial.