Moacir Beggo
Vila Velha (ES) – A maior manifestação devocional da Festa da Penha aconteceu neste sábado, 11 de abril, entre as cidades de Vitória, capital do Estado, e a vizinha Vila Velha, onde está o morro da Penha e casa de Nossa Senhora. Uma multidão, calculada em mais de 500 mil pessoas, tomou conta das ruas para prestar essa homenagem à Padroeira do Estado. Hoje, a “Romaria dos Homens” existe apenas no título porque ela reúne toda a família capixaba. Há 64 anos, sim, ela reunia a grande maioria de homens, porque foi criada para estimular a participação masculina na Festa da Penha.
Essa gigantesca procissão, de 14 quilômetros, teve início com a celebração do envio feita por D. Rubens Sevilha em frente à Catedral de Vitória, às 19h30, e terminou no Parque da Prainha, na madrugada deste domingo, com a Missa presidida por Dom Luiz Mancilha e concelebrada por quatro bispos.
O início da romaria mais uma vez foi emocionante: sinos tocando, velas acesas e os primeiros movimentos da imagem de Nossa Senhora, enquanto um grupo de homens, conhecido como a “Corrente da Penha” ou “Guardiães da Penha”, abriu caminho para o ‘Penhamóvel’ passar, especialmente nas ruas mais estreitas do Centro da capital, a partir da praça Dom Luiz Scortegagna, ruas José Marcelino, São Francisco, Caramuru, Cais de São Francisco, Cleto Nunes, Marcus de Azevedo, Duarte Lemos e Nair Azevedo Silva.
O momento inicial é tão místico, tão emocionante, que as pessoas mantêm essa postura devocional do início até o final da romaria. Camisetas com a imagem da Virgem, velas acesas, cantos, terços nas mãos, orações acompanham todos os grupos de pessoas. Impossível, do alto do trio elétrico que acompanha a imagem com os cantores e imprensa, dizer onde está o começo e onde está o final do grande cortejo. Mesmo no longo trajeto da rodovia Carlos Limdemberg. O que se vê, desculpem-me pelo clichê, é um mar de pessoas.
É importante destacar que somente a cidade de Vila Velha não colocaria toda essa gente nas ruas, pois tem cerca de 500 mil habitantes. Mas a Grande Vitória, formada por sete municípios – Cariacica, Fundão, Guarapari, Serra, Viana, Vila Velha e Vitória – tem um total de cerca 1 milhão e 900 mil pessoas (segundo censo de 2014). Não bastasse isso, há romarias que vêm de todas as cidades do Estado. Só para se ter uma ideia, a Romaria da Diocese de São Mateus, que celebrou no Campinho às 9 horas, trouxe mais 40 ônibus de romeiros, e a Romaria da Diocese de Cachoeiro de Itapemirim, que celebrou às 15h00 no Campinho, trouxe mais de 50 ônibus e 5 micro-ônibus. Há romeiros que vêm a pé, por exemplo, de Guarapari, cidade litorânea próxima de Vila Velha. A procissão de Guarapari acontece há 36 anos e os romeiros caminham aproximadamente 11 horas, sendo assistidos por uma equipe de apoio com socorristas e ambulâncias.
Neste ano, para garantir a segurança dos romeiros da maior cidade desta região metropolitana, Serra, desde as 16 horas as vias Fernando Ferrari, Dona Maria Rosa, avenida Maruípe, José Cassiano dos Santos, Paulino Muller, avenida Vitória, rua Henrique Novaes, Jerônimo Monteiro, Presidente Florentino Avidos e avenida República foram interditadas no sentido Centro.
Alguns devotos de Nossa Senhora demonstram a gratidão pelas bênçãos alcançadas, distribuindo velas dentro de suportes descartáveis para serem levantadas durante a caminhada. Mesmo que aqueles que não conseguem caminhar, não deixam de fazer sua devoção esperando a passagem da imagem de Nossa Senhora. Gritos de “Viva Nossa Senhora da Penha!” são ouvidos durante todo o trajeto. A Padroeira passa no Penhamóvel iluminado, criação do mecânico João Pinto, enquanto o povo se emociona. Por cima do Penhamóvel, uma coroa de ferro e uma cruz iluminada dão o toque especial à decoração. Ao todo, o carro fica com quatro metros e 30 centímetros.
Neste, a Segunda Ponte foi toda liberada pela multidão, que tomou todas as faixas, assim como nas avenidas Carlos Lindenberg, Jerônimo Monteiro, Champangnat, rua Antônio Ataíde até chegar ao Parque da Prainha, que muito antes já estava lotado. A grande maioria dos romeiros não ficavam na Prainha e para muitos a romaria só termina no alto do morro.
Frei Mário Tagliari reside em São Paulo e participou pela segunda vez da Romaria. Assim como ele, outros frades que residem em São Paulo estão acostumados de ver as estatísticas de multidões na av. Paulista, que, com 3,3 quilômetros, reúne mais de 1 milhão de pessoas. “Não sei quais são estatísticas daqui, mas o que vi foi pelo menos 3 paulistas durante todo o trajeto. É impressionante o que se vê nas ruas”, disse Frei Mário, opinião compartilhada por todos os paulistanos que participaram da Romaria dos Homens.
A Gruta de Frei Pedro Palácios na Prainha, a entrada do Portão Principal e o velário do Campinho são usados pelos romeiros para deixar as velas acesas que foram carregadas no percurso da romaria. Na Prainha, muitos peregrinos descansavam os pés, os joelhos e as mãos, deitados ou sentados no chão.
Neste domingo (12), será a vez da Romaria das Mulheres levar outra multidão para as ruas em homenagem a Nossa Senhora da Penha. A previsão é de que os participantes saiam do Santuário, por voltas das 14h30, até a Prainha, onde será celebrada a Missa de encerramento.
A Festa da Penha é realizada há 444 anos. É o maior evento religioso do Espírito Santo e o mais antigo do país e o terceiro maior do país em número de fiéis, atrás somente da Festa de Nossa Senhora Aparecida, em Aparecida (SP), e do Círio de Nazaré, em Belém (PA).