Faleceu nesta tarde, às 13h09, no Hospital Marcelino Champagnat, em Curitiba (PR), Frei Cássio Vieira de Lima, aos 101 anos de idade. Frei Cássio sofrera uma queda no início de novembro, fraturando duas costelas. Internado desde este dia, nas últimas semanas desenvolveu uma inflamação no tórax e foi descoberto um problema nos rins. Seu quadro de saúde foi se agravando, deixando-o cada vez mais fraco. Foi deixando de se alimentar e se comunicar até vir a óbito nesta tarde.
A Fraternidade Senhor Bom Jesus dos Perdões comunica que celebrará as missas exequiais às 7h e 9h30 de amanhã, dia 30 de novembro. O enterro será realizado em seguida, no Cemitério São Francisco, em Curitiba.
Que o nosso confrade falecido, pela misericórdia de Deus, descanse em paz!
DADOS PESSOAIS, FORMAÇÃO E ATIVIDADES
Nascimento: 22 de agosto de 1921
Naturalidade: São João da Boa Vista (SP)
Seminário Menor: 1936 – Fraternidade São Luís de Tolossa, de Rio Negro (PR)
Admissão ao Noviciado: 20 de dezembro de 1941
Primeira Profissão: 21 de dezembro de 1942 (79 anos de vida religiosa)
Profissão Solene: 21 de dezembro de 1945
Ordenação Presbiteral: 16 de julho de 1949 (73 anos de ministério presbiteral)
1951 – Fraternidade Santo Antônio (Blumenau, SC), como leitor.
1952 – Fraternidade Santo Antônio (Florianópolis, SC), como vigário paroquial.
1953 – Fraternidade de Nilópolis (RJ).
1956 – Fraternidade Santa Cruz (Palmas, PR).
1959 – Fraternidade Bom Jesus dos Perdões (Curitiba, PR), como vigário paroquial, vice-diretor da Pia União de Santo Antônio.
1976 – Toma posse como prefeito municipal de Planalto (PR).
1977 – Fraternidade São Pedro Apóstolo (Pato Branco, PR), ainda prefeito municipal de Planalto (PR).
1980 – Fraternidade Bom Jesus dos Perdões (Curitiba, PR), como diretor geral da Colônia São Roque (Piraquara, PR), professor e capelão do Colégio Militar de Curitiba.
1983 – Passa a viver em Piraquara (PR), atuando como vigário paroquial e, mais tarde pároco da Paróquia Senhor Bom Jesus.
2006 – Passa a viver em Curitiba (PR), atuando como pároco da Paróquia Santa Madalena Sofia.
2016 – Fraternidade Bom Jesus dos Perdões (Curitiba, PR), como atendente conventual.
O FRADE MENOR
Frei Cássio Vieira de Lima nasceu em 22 de agosto de 1921, em Japurá, estado de São Paulo. Proveniente de uma família simples e muito pobre é o mais velho de cinco irmãos. Seu pai se chamava Olímpio de Paula Vieira e sua mãe, Rita de Paula Vieira, a quem o frade responsabiliza por seu discernimento vocacional. Segundo Frei Cássio, quando tinha mais ou menos sete anos, ouviu sua mãe dizer: “Gostaria que você fosse padre!”. Ele lembrava que ela sempre falava sobre a Igreja e religião. “Nos momentos de orações e do terço, comecei a entender um pouco a religião, Deus… Mas era um entendimento muito pequenino. O que eu queria mesmo, talvez, fosse primeiramente satisfazer a vontade da minha mãe. Mais tarde é que fui entender que ela tinha o desejo mais sagrado para minha vida, e deu certo!”, reconheceu.
Frei Cássio contava que na sua cidade não havia padre e sequer uma única missa. “Lembro-me de que, numa ocasião, especialmente quando fui crismado, apareceu alguém que não sabia se era bispo ou padre, e celebrou minha crisma… Essa ideia da minha mãe entrou na minha cabeça, e ficou”, contou em entrevista a Frei Augusto Luiz Gabriel, para a série “Nossos Frades”. Mas, como frisou, não tinha noção do que era ser padre religioso ou diocesano. Mais tarde, sua mãe veio a falecer (3 de abril de 1930) e, em 1935, entrou no seminário, entendendo a diferença de padre secular e religioso. “Foi um franciscano que apareceu na minha paróquia e me ‘conquistou’. Nesse dia, estava acompanhado de minha avó, uma senhora muito católica e dedicada, que falou com ele. Era o Ministro Provincial daquele tempo. Então, fui para Rio Negro (PR) e comecei a minha vida de seminarista”, recorda.
Ele conta que sua avó, a exemplo de sua mãe, era muito religiosa. “Nós rezávamos o terço todas as noites em casa. Ela me mandava, sozinho, para a Igreja rezar. Eu não sabia admirar isso naquele tempo, e nem explicar, mas de alguma forma já estava embevecido pela capacidade da vida religiosa que ela tinha. Ela queria que eu fosse padre, indiferentemente, se fosse religioso ou secular”, avaliou.
Frei Cássio ingressou na Ordem dos Frades Menores no dia 20 de dezembro de 1941 e fez a profissão solene no dia 21 de dezembro de 1945. Foi ordenado sacerdote no dia 16 de julho de 1949. Para ele, a definição de ser franciscano aconteceu vendo os padres franciscanos do Seminário de Rio Negro. “O que eu vi, especialmente nos primeiros anos do Seminário de Rio Negro, como o esforço dos frades, a seriedade deles e a capacidade que eles tinham de colocar dentro de nós a vontade de ser bom, de ser padre/frade, de ser amigo de Deus, influenciou toda a minha vida”, homenageou, ressaltando que esse testemunho continuou no noviciado de Curitiba e no tempo da Teologia.
Para ele, a Ordem Franciscana é “a melhor coisa que Deus mandou aqui para terra” e a melhor escolha que alguém pode fazer na vida é ser franciscano, tanto os homens que se tornam irmãos leigos e padres, como as mulheres que se tornam freiras, especialmente as Clarissas. Ser franciscano é um grande grau de santidade e uma espécie de garantia para conquistar a vida eterna”, frisou.
Frei Cássio conta que gostava muito de estudar. Tanto que falava latim, grego, francês e português, línguas que aprendeu em Rio Negro e alguns idiomas por sua conta, totalizando 11. “Quando deixo de estudar por um dia, sinto que falta algo dentro de mim. É como se eu não tivesse almoçado. Gosto e acredito que todo padre deveria estudar, claro que em graus diferentes, mas o estudo faz parte da nossa vocação. Nele aprendemos a raciocinar, e quem não raciocina não está fazendo a vontade de Deus”, enfatizava.
LONGEVIDADE
Neste ano, Frei Cássio celebrou 101 anos, tornando-se o único frade centenário da Província. Para ele, ser um centenário não existe segredo. “Acredito que deveria existir antes prudência. Por exemplo, não sei comer rapidamente. É um problema meu aqui na Paróquia Bom Jesus dos Perdões. Não consigo almoçar em menos de 45 minutos”, revelou. Segundo ele, nunca pensou em comer bem para viver bastante. “Nunca pensei nisso. Eu também não pensava que iria ficar tão velho. No meu tempo, os padres morriam mais cedo. Eu via isso e também achava que aconteceria assim comigo. Mas Deus fez o caminho de outro jeito comigo. Fui vivendo, vivendo e, quando percebi, estava com 90 anos. Agora, com 97, espero passar dos 100! E passou!
Nesses 101 anos de vida, chegou a ser prefeito de Planalto nos anos 70, onde ficou até 1981. “Olha, era o tempo do Governo Militar, e esse governo tinha estabelecido que todos os municípios do Brasil, com limites com outro país, deveriam ser governados por prefeitos nomeados, ou seja, escolhidos a dedo. Eram 92 municípios nesta situação. Então, não sei como foi o princípio, mas acredito que alguém me indicou pelo fato de ter sido professor do Colégio Militar de Curitiba, onde lecionei por 19 anos e era conhecido por alguns militares. Quando me fizeram o anúncio, levei um susto e disse: ‘Eu não posso, sou padre’. Perguntaram, então, quem deveria resolver isso na minha Província. Expliquei que era o Ministro Provincial, Frei Antônio Nader. E, de antemão, já disse que ele não iria autorizar. Porém, não sei os pormenores das tratativas desta história com o Ministro. Fiquei sabendo pelo Governador, logo depois, que seria o novo prefeito de Planalto. Ainda desconfiado liguei para o Provincial e perguntei se de fato não haveria nenhum problema em aceitar e ele me disse: ‘Estou sabendo e concordo que você seja o novo prefeito. A sua escolha é uma coisa muito boa’. E sabe mais o que ele me disse no telefonema: ‘A Província agradece muita esta escolha do Frei Cássio, porque nunca, nestes 500 anos de Brasil, o Governo reconheceu o trabalho dos franciscanos aqui. Os franciscanos foram os primeiros padres e nós agradecemos o reconhecimento’. Eu fiquei espantado. Foram 5 anos de mandato”, contou. Um outro desafio de Frei Cássio foi a construção da Igreja Santa Madalena Sofia de Curitiba.
Sobre a situação política do Brasil hoje, ele é claro: “Vejo, leio e escuto que a situação está muito ruim. São muitos pobres e ricos, muitas são as injustiças. Deus não pode querer uma coisa desta que está acontecendo hoje. Muita injustiça, exploração e roubalheira. Isso não pode continuar assim. Acredito que é necessário diminuir a diferença entre pobres e ricos, entre governantes e governados. Aqui no Brasil isso é consequência de um grupinho que fica com tudo enquanto um grupão fica quase sem nada, morrendo de fome, e isso é em grande quantidade”, lamentou.
Na celebração de 101 anos, em agosto último, o aniversariante fez a reflexão da celebração e escolheu a Mensagem do Papa Francisco para o II Dia Mundial dos Avós e Idosos, com o título. “Dão fruto mesmo na velhice” (Sl 92,15). “Gravem no coração estas palavras para meditar em casa”, sugeriu. “Uma vida longa – ensina a Sagrada Escritura – é uma bênção, e os idosos não são proscritos de quem se deve estar à larga, mas sinais vivos da benevolência de Deus que efunde a vida em abundância. Bendita a casa que guarda um ancião! Bendita a família que honra os seus avós!”, destacou Frei Cássio desta mensagem.
O guardião Frei José Idair Ferreira Augusto fez a seguinte homenagem ao sênior da Província: “Saber viver. Não sei se a vida é curta ou longa demais para nós, mas sei que nada do que vivemos tem sentido se não tocamos o coração das pessoas. Muitas vezes basta ser colo que acolhe, braço que envolve, palavra que conforta, silêncio que respeita, alegria que contagia, lágrima que corre, olhar que acaricia, desejo que sacia, amor que promove. Isso não é coisa do outro mundo, é o que dá sentido à vida, é o que faz com que ela não seja nem curta nem longa demais! Mas que seja intensa, verdadeira, pura enquanto durar”.
R.I.P
Fonte: portal franciscanos.org.br