Moacir Beggo
Vila Velha (ES) – O bispo auxiliar da Arquidiocese de Vitória, Dom Rubens Sevilha, voltou ao Campinho, no Morro da Penha, para presidir a celebração Eucarística no 5º dia do Oitavário da Festa da Penha (31/3), e não poupou ninguém com suas provocações. No cerne de todos os problemas, segundo o bispo, está a falta de fé.
Além do povo fiel de Vila Velha, hoje foi o dia da área pastoral Serra e Fundão da Arquidiocese de Vitória coordenar a liturgia. Um dos municípios que mais cresceu na Grande Vitória, Serra tem hoje quase 500 mil habitantes, muitos problemas e um povo muito religioso. Sacerdotes e fiéis romeiros foram acolhidos na casa da Mãe pelos frades do Convento e da Província Franciscana da Imaculada.
Dom Sevilha tomou como tema a fé ao comentar a primeira leitura do dia [Atos dos Apóstolos 3,11-26]. Segundo o bispo, quando há falta de fé, o ser humano é fraco. “A pessoa que está forte enfrenta a vida, enfrenta os problemas. Para quem está fraco, tudo pesa. Por isso, para muita gente hoje, tudo pesa, tudo é problema, tudo é dificuldade e aquela pessoa vai ficando pessimista”, disse, interagindo com o povo: “Vocês já conheceram uma pessoa pessimista, que para ela tudo está ruim, tudo está mal, nada presta, nada está bom? Já conheceram?”[em coro, todos dizem sim] “Eu também. Vejam, esta pessoa não tem fé profunda. Pessimismo não combina com cristianismo. Quanto mais pessimista é alguém, menos fé ele tem. O pessimista nega a Deus. Se está tudo mal, tudo está ruim, nada presta, onde está Deus? Onde está a ação de Deus?”, questionou o bispo. Para D. Sevilha, lá no fundo do coração dele, Deus deve estar dizendo: “Meu filho, minha filha, será que eu não fiz nada de bom neste mundo? Será que não fiz nada para você? Você só reclama?! Para você nada está bom!”.
O bispo disse que ouviu o refrão de uma música sertaneja que tocava no rádio e dizia assim: “Tá ruim mas tá bom” [risos]. “Este é o lema do cristão, é o lema da esperança. Tá ruim mas tá bom. Temos problemas na vida, na família, no nosso mundo, no nosso Brasil. Mas o Senhor nos fortalece. Ele está conosco. Ele caminha conosco. Temos a sua mãe. Ela cuida de nós”, ensinou.
O bispo chamou a atenção para a frase da leitura dos Atos quando Pedro diz: “A fé que vem por meio de Jesus lhe deu perfeita saúde”. “Para você que está doente, Deus quer lhe ajudar a vencer esses medos, fobias, depressões, síndromes, todos esses medos, essas doenças da alma. Queremos pedir a perfeita saúde a Ele”, rezou. Mas alertou que não adianta se entupir de remédios se a alma está vazia. “A fé em Jesus gera confiança. A palavra fé significa confiança. Eu confio Nele mesmo quando eu não estou entendo nada. Às vezes, na vida, a fé significa não entender nada. Tem hora nada vida que você não explica. Há quinze dias, o Papa Francisco falava exatamente isso quando lhe perguntaram por que as crianças sofrem? O Papa Francisco disse simplesmente que não sabia explicar. Ninguém sabe explicar. Deus sabe o porquê de certas situações. A fé é confiança. Não entendo por que certas coisas acontecem na minha vida. Eu não vou explicar. Ele sabe!”, observou.
(Ministros da Eucaristia – O Exército do Senhor na Penha)
Depois, Dom Sevilha disse que fé não é sentimento. “Tem gente que pensa assim: se eu sentir aquela presença de Deus, aquela emoção, ‘até fiquei arrepiado’, aí Deus está comigo! E como fica aquele dia que você está igual a uma pedra fria? Quando vai para a igreja arrastado. Tudo te distrai. A sua cabeça está longe. Você vai rezar, abre a Bíblia, nada lhe faz sentido. Mas não interessa. Isso é uma coisa sua. Deus está com você. Não estou sentindo nada, mas eu confio Nele. Mesmo quando o meu coração está gelado. O meu coração pode estar frio, mas o coração de Jesus nunca está frio. Por isso, o coração de Jesus é representado pelo fogo. É sempre um coração cheio de amor”, explicou.
Segundo o bispo, pior que a doença é falta de paciência. “E aí as pessoas se desesperam. Jesus teve paciência na cruz. Cumpriu sua missão”, exemplificou, citando Santa Teresa D’Avila, que dizia: “Tudo passa!”. “O que permanece é o que é essencial: a fé”, acrescentou o bispo.
Referindo-se ao Evangelho do dia [Lc 24, 35-48], lembrou que a primeira palavra que Jesus vai dizer depois da ressurreição é a “paz esteja com vocês”. Segundo ele, onde Jesus entra, entra a paz. E Dom Sevilha deixou um questionamento às pessoas: “Como você está construindo a paz na sua casa?”. O bispo recordou que o Papa Francisco disse que a construção da paz é um trabalho manual. “É igual na roça, tem que suar. Ela é suada. É preciso trabalhar para tê-la”, emendou.
No final de sua homilia, D. Sevilha disse que metade das preocupações das pessoas é com coisas ilusórias. “Sofrem por coisas que não valem a pena. Uma grande parte sofre por falta de confiança Nele. Santa Terezinha dizia que a alma que se lança totalmente nos braços de Deus, como uma criança inteiramente dependente de seus pais, é-lhe dada a certeza da fé. Mesmo com todas as dificuldades nesta vida, queremos nos lançar nos braços do Pai e no colo da Mãe e deixar a água correr, porque é o Senhor que conduz a história”, completou.
MOMENTO DEVOCIONAL
Frei Diego Atalino de Melo, animador do Serviço Vocacional da Província Franciscana da Imaculada, presidiu o Oitavário da Festa da Penha, momento devocional que aconteceu antes da celebração eucarística. Frei Florival Mariano de Toledo, Frei Paulo Ferreira da Silva e músicos garantiram a animação com belos cantos e o guardião do Convento, Frei Valdecir Schwambach, fez a acolhida. O Oitavário é um momento que antecede a Missa. Faz-se este momento com cantos a Nossa Senhora; acolhimento do povo de Deus; súplicas pelos mistérios realizados a Maria, Mãe de Jesus na devoção que Frei Pedro Palácios trazia consigo; recordação e consideração do primeiro Franciscano que chegou aqui (Frei Pedro Palácios); Ladainha de Nossa Senhora; orações e bênção. Todo dia, durante o Oitavário, reflete-se sobre o tema da Misericórdia tendo em vista que estamos no Ano Jubilar da Misericórdia, convocado pelo Papa Francisco.
Segundo Frei Diego, citando o documento do Papa Francisco, foi por meio de Nossa Senhora que podemos descobrir o rosto de Deus revelado em Jesus. “Um rosto misericordioso e paciente, um rosto que está próximo. Eu não sei o que vocês acham, mas eu sinto que nossa sociedade ultimamente tem se tornado cada vez mais intolerante. Parece que estamos nos afastando da misericórdia de Deus, parece que estamos perdendo a capacidade do diálogo, do respeito às diferenças. Quantas vezes a gente não percebe isso? E, no entanto, hoje celebrando esta festa, ao longo deste Oitavário, queremos redescobrir o rosto misericordioso e bondoso de Deus”, convocou Frei Diego.
Segundo o frade, quando falamos em misericórdia tem gente que pode pensar que é falar em fraqueza, em pequenez. “Não! Falar em misericórdia significa falar em grandeza, como lembra o Papa Francisco ao citar São Tomás de Aquino: a misericórdia é qualidade da onipotência, ou seja, da grandiosidade de Deus. Se ela é a qualidade da grandiosidade de Deus, é também a qualidade da grandiosidade de todos nós”, destacou.
“Portanto, irmãos e irmãs, ser misericordioso significa ser grande, ser nobre, amar, perdoar, respeitar, ajudar o próximo. Devem demonstrar e demonstra a grandiosidade do coração quem está cheio de Deus. De um coração que tem Maria como Mãe e modelo de misericórdia. Mas para que essa misericórdia não seja um simples sentimento ou ideia na nossa cabeça, ela tem que se traduzir em gestos concretos”, ressalvou, citando um exemplo no próprio Campinho. O Frade contou que conheceu a Dona Sirlene, que está participando todos os dias do Oitavário com sua mãe. Para isso, ela tirou férias para que pudesse trazer a mãe, que é idosa e deficiente visual, e que tinha manifestado o desejo de estar aqui. “Ela colocou já no concreto de sua vida a obra de misericórdia”, completou Frei Diego, pedindo uma salva de palmas para elas.
Nesta sexta-feira (12/04), 6º dia do Oitavário da Festa da Penha, as Missas na Capela acontecem às 6, 7, 8 e 9h30 (Missa dos Advogados). Às 14h30 tem início o Oitavário e Missa às 15 horas, sob a responsabilidade da área pastoral de Vitória. Às 14 horas, terá início a Romaria dos Militares até o Campinho.
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