Paz e Bem.
“Se viemos aqui hoje exaltar as virtudes de Frei Galvão, se viemos aqui tecer elogios aos seus milagres, aos seus portentos, se for só isso, a nossa vinda aqui não será frutuosa. Os santos são nossos intercessores. Nós podemos louvá-los, bendizê-los, e é bom que façamos isso, mas eles são colocados diante de nós, sobretudo, para serem nossos exemplos”. Foi assim que o Ministro Provincial da Província da Imaculada Conceição do Brasil, Frei Paulo Roberto Pereira, focou a sua mensagem durante a Celebração Eucarística, às 9 horas, neste dia solene do primeiro santo brasileiro no Santuário Frei Galvão, em Guaratinguetá (SP).
O reitor do Santuário, Frei Diego Atalino de Melo, acolheu com carinho os concelebrantes Pe. Eduardo Catalfo, reitor do Santuário Nacional de Aparecida, os missionários redentoristas Alan e Yan, o diácono Frei Gabriel Dellandrea, e o presidente da celebração, Frei Paulo. Acolheu os devotos de Frei Galvão presentes no Santuário e os que acompanharam pela Rede Aparecida de Comunicação, que transmitiu esta Santa Missa. Frei Leandro Costa foi o comentarista.
Frei Paulo contou que assim que foi convidado para celebrar hoje, tomou conhecendo do cartaz e do tema principal da Festa deste ano: “É morrendo que se vive para a vida eterna”. “Celebramos, neste ano, os 200 anos da morte de São Frei Galvão. Para nós que cremos, a morte é o complemento da existência. Nós, criaturas, temos desde o nosso nascimento a marca da finitude, da fragilidade. O criador, infinito; a criatura, finita. Mas em nós habita o espírito do Senhor que nos move, e nossa fragilidade é suplantada pela fortaleza de Deus, pelo vigor de Deus”, situou.
Para o Ministro Provincial, cada vez que, com maior intensidade, busca-se o vigor do Senhor, busca-se estar na presença do Senhor, ouvir a sua Palavra, servir ao Senhor, então se revestimos de finito, de céu. “Nossa alma tem gosto de céu, por isso morremos, é verdade, passamos por este mundo, mas construímos aqui na terra um caminho vigoroso para estar no céu. Deus plantou no nosso coração, muito antes de nós nascermos, o desejo de ser céu. Nós queremos ser céu. Nós queremos ser de Deus, viver em Deus, morrendo vivemos para a vida eterna”, acrescentou, dizendo que queremos encher nossos olhos de eternidade para não desanimarmos.
“Vemos tanta finitude, tanto limite e tanta desventura, tanta desgraça e se nós não tivermos nossos olhos fixos no Senhor, então nossa caminhada será marcada pelo desânimo, pela desesperança. Mas nós sabemos: Deus nos sustenta, Deus nos revigora, Deus nos santifica, por isso rezamos: É morrendo que se vive para a vida eterna”, complementou.
Frei Paulo, então, fez alguns questionamentos: Viemos celebrar Frei Galvão, mas o que viemos de fato fazer aqui? Exaltar as virtudes de um homem que passou por essas terras, nascido aqui no Vale da Fé, nascido aqui entre nós, nosso parente, bem próximo de nós, viemos exaltar as suas virtudes, viemos aqui tecer elogios aos seus milagres, aos seus portentos? Se for só isso, a nossa vinda aqui não será frutuosa. Nós podemos, sim, exaltar as virtudes de São Frei Galvão, mas sobretudo ouvindo os apelos que a Igreja faz quando nos apresenta os santos. Eles são nossos intercessores. Nós podemos louvá-los, bendizê-los, podemos, e é bom que façamos isso. Mas eles são colocados diante de nós, sobretudo, para serem nossos exemplos”, ensinou.
Segundo Frei Paulo, é bom que se tenha um santo bem “pertinho de nós!”, assim como suas virtudes para cultivá-las no dia a dia. Para ele, na tradição franciscana essa proximidade pode ser vista em São Benedito e Santo Antônio. Qual cozinha aqui não tem um São Benedito? É o santo das nossas cozinhas, tamanha intimidade. E com Santo Antônio, então? Com Santo Antônio a gente fala coisas que nem falamos para os parentes”, exemplificou.
Para Frei Paulo, essa intimidade muito grande enche de orgulho o povo do Vale do Paraíba. “É festa da santidade da família do Vale do Paraíba. Olha que presente bonito o céu nos deu! Um santo que andou por aqui, mostrando que é possível, e mais do que possível é necessário cultivar a santidade. É infeliz aquele que olha para o santo como se já tivesse nascido pronto. Não, o santo não nasce pronto. É no dia a dia, na nossa caminhada diária, nas nossas lutas diárias, nas nossas escolhas, do jeito que a gente escolhe viver, do jeito que a gente escolhe ser presença de Deus. É ali que a santidade vai se construindo, uma santidade possível e, mais do que isso, uma santidade necessária”, explicou o frade.
Segundo o celebrante, o mundo carece de gente santa, mas não com coisas estupendas, maravilhosas, extraordinárias. “Santo do dia a dia. Santo no jeito de olhar, de acolher, de dividir, no jeito de partilhar, no jeito de perdoar, no jeito de amar. Você já está pensando: como posso ser santo lá na minha casa? Como é que eu posso ser santo lá entre os meus vizinhos, lá no meu grupo de Whatsapp? Mas também evidentemente se nós esperarmos ser santos só nas coisas muito extraordinárias, então nós vamos jogar fora mais da metade do nosso tempo. Não podemos perder a oportunidade de santidade nas pequenas coisas”, frisou.
Frei Paulo falou de alguns sinais que chamam a atenção no cartaz da Festa de Frei Galvão, como a Eucaristia, que sustenta homens e mulheres que desejam ser santos. “A Eucaristia é sacramento da vida. Aquela Eucaristia que celebramos uma vez por semana e aquela Eucaristia do pão partilhado no dia a dia. A Missa termina, começa a missão. Isso santifica a gente”, disse.
Outros sinais são a vela; o símbolo dos eleitos, o Tau franciscano; e o sol. “O sol tem lições belíssimas. Quando tudo parece escuro, quando tudo parece difícil e a noite densa nos abate, nós sabemos que o sol foi se embora, que se deitou atrás da Mantiqueira, lá em Minas Gerais, mas amanhã ele voltará. O sol é sinal da nossa esperança, porque ele voltará. Portanto, meu irmão e minha irmã, se a vida, às vezes, apresentar sofrimento e tudo parecer escuridão, lembre-se: o sol foi dormir em Minas, atrás da Mantiqueira, mas amanhã ele voltará. Nos encherá de novo vigor, vai clarificar, vai dar luz nova, novo vigor aos nossos passos”, esperançou Frei Paulo.
“Vivemos tempos tenebrosos, vivemos tempos sombrios, tempos cinzentos, irreconhecíveis, vivemos tempos muito difíceis. As pessoas vão se revelando de uma forma que nós nunca imaginávamos! Quem veria tanta agressividade, tanta violência, tanto desdém, tanto desrespeito! Mas eu julgava aquela pessoa tão boa, rezava comigo o terço na semana. E agora só destila ódio, desprezo. O que será que está acontecendo? O sol brilhará. É um tempo de trevas, mas temos certeza que o sol brilhará. Morrendo ele vive e nos revive, nos revigora, nos reanima. Vai passar, a escuridão vai passar”, animou o frade.
Ao celebrar em Frei Galvão a santidade do primeiro santo nascido no Brasil, Frei Paulo pediu a ele “que encha nosso coração de fogo, de brasa, que ardamos em amor um para outro, que ardamos em caridade, em cuidado, em atenção, em reverência, em respeito. Brasileiros, brasis, brasa, vigor. É isso que viemos celebrar. É isso que nos trouxe até aqui. É isso que daqui queremos levar por intercessão de nosso parente, tão próximo de nós, Frei Galvão”.
Fonte: Equipe de Comunicação do Santuário Frei Galvão (via franciscanos.org.br)