Paz e Bem.
A manhã do último domingo (21) de inverno foi de muita ventania no Convento da Penha. Apesar do sol forte, os ventos atingiram uma velocidade surpreendente. A Missa das 9 horas foi presidida pelo Frei Gabriel Dellandrea e contou com a presença de milhares de fiéis, especialmente romeiro devotos do interior do Espírito Santo.
Na homilia, Frei Gabriel iniciou contextualizando a narrativa do Evangelho (Lucas 16,1-13), citando um exemplo pessoal da compra de um tênis, quando ele era adolescente. “Quando cheguei na escola com o meu tênis de marca, foi a primeira vez que eu usava um tênis de marca, essa pessoa líder daquele grupo que dividia os seres humanos entre quem tem tênis de marca e quem não tem, chegou e falou, nossa, você tem agora um tênis. Aí ele pegou, deixa eu ver o negócio, tirou o tênis do meu pé e olhou pela língua do tênis e viu que não tinha a etiqueta da marca. E ali veio a fala fatal, é falso, ‘é do Paraguai’. E aquilo me distanciou de uma vez do clube e do pessoal que tinha tênis de marca, porque agora eu não tinha só um tênis fuleiro, eu tinha um tênis falso. E assim, foi já uma frustração. Conto isso porque são as frustrações das nossas adolescências e todos nós temos’.
“E eu me lembro que eu fiquei com tanto desgosto daquele tênis, – continua Frei Gabriel -, que eu cheguei em casa, guardei no armário e eu nunca mais usei. Bom, o tênis de marca virou um símbolo da frustração, nunca mais usei, nem sei o que a minha mãe fez com aquilo. O fato é, irmãos e irmãs, quando nós colocamos o nosso coração naquilo que é passageiro, a frustração é evidente e vai se tornar em algum momento ou outro uma realidade. Não é assim com tantos outros recursos dos bens materiais? Um celular que hoje parece ser da última moda, amanhã já tem o 17, o 18, o 19 e o 20. Uma casa que parecia ser a dos sonhos, daqui a pouco tem problema no encanamento. Um carro que parecia ser perfeito, daqui a pouco já está com um problema de óleo na correia dentada. E assim nós vamos encontrando os limites dos recursos, dos bens materiais e daquilo que o dinheiro pode comprar. Não estamos aqui, e Jesus não demoniza o dinheiro em si, dizendo que ele é um problema. Ele só quer dizer para nós que nós não prendamos o nosso coração naquilo que é passageiro, naquilo que é ou recurso financeiro, bens materiais, aquilo que está ao nosso redor, que é material, não deve prender a atenção principal do nosso coração. Nós não somos feitos, irmãos e irmãs, só para acumular”, comentou o Guardião do Convento.
“Como vimos na primeira leitura ( Amós 8,4-7) em que o personagem bíblico fica se perguntando, quando é que vai passar esse tempo para a gente poder trabalhar, para a gente poder fazer mais dinheiro? Como se a vida fosse só fazer mais dinheiro. Tem uma tia do meu pai, que eu não vou dizer o nome, ela já faleceu, está lá no céu, mas ela chorava quando chegava o final do dia, que tinha que voltar para dentro de casa porque ela queria trabalhar mais para fazer mais. Nós não podemos ter esse espírito ganancioso, porque ao colocarmos o nosso coração nos bens materiais e no dinheiro, nós vamos nos frustrar, porque tais elementos são passageiros, e eles são instrumentos”, explicou.
“Não estou dizendo agora que nós não podemos administrar os recursos financeiros que também Deus nos concede para o bem-estar nosso e das nossas famílias. Não estou dizendo aqui que agora nós vamos viver ao vento. Entretanto, na busca pelo bem-estar, pelo cuidado de nós mesmos e das nossas pessoas que amamos, na generosidade que fazemos com tantos projetos, nós não devemos prender o nosso coração àquilo que é material. E às vezes, todos nós que aqui somos pessoas que buscamos os valores do reino de Deus, percebemos o quanto é difícil ser honesto, difícil ser justo, mas a honestidade e a justiça são valores que com certeza moldam o nosso coração e fazem com que nós, ao deitarmos em nossos travesseiros para dormir à noite, durmamos em paz, com a consciência tranquila. É assim, irmãos e irmãs, que devemos lidar com os bens e recursos financeiros. Eles não são o ponto final, o objetivo final de nossas vidas. Eles são um instrumento. Ora, se eles são um instrumento, então o que realmente é a verdadeira riqueza sob a qual devemos colocar e empenhar todas as nossas forças? O que é que vale a pena justamente dedicar o bem mais precioso que temos? O tempo. E nós ouvimos, na antífona tão belamente cantada da aclamação ao Evangelho, a verdade da verdadeira riqueza desse mundo”, disse o frade.
Por fim, Frei Gabriel afirmou que é preciso dedicar toda a vida e até recursos financeiros ao Senhor. “Jesus Cristo se tornou pobre para nos enriquecer. O Filho de Deus, que poderia ter toda a honra, toda a ponta, todo o status, se fez pobre e veio ao nosso encontro para nos enriquecer. Ele é a nossa verdadeira riqueza. Jesus é aquilo pelo qual devemos dedicar toda a nossa vida, todo o nosso esforço e até os nossos recursos financeiros. É a Ele a quem devemos dar honra e louvor, nas nossas famílias, no nosso trabalho, no nosso dia a dia. E certa vez uma frase me chamou a atenção e resume bem o que a liturgia de hoje nos propõe. Quem tem a certidão de nascimento mais amarelada vai lembrar que as frases de caminhão eram sabedorias, normalmente falando mal da sogra. Mas tudo bem, não é sobre sogra que aquela frase estava lá. Mas a frase era assim, Deus é joia, o resto é bijuteria. Nunca mais esqueci aquele pensamento que resume a intuição da liturgia de hoje. É muito interessante porque bijuteria até parece que reluz, até parece joia, mas não é. A joia é a que realmente tem o brilho e a beleza, o valor verdadeiro. Portanto, irmãos e irmãs, no porta-joia do nosso coração, não vamos colocar plástico, não vamos colocar bijuteria, não vamos ocupar ele com aquilo que não tem valor, que tem só casca e aparência, mas não tem essência, não tem história. Vamos colocar no porta-joia do nosso coração a verdadeira riqueza que é o seguimento a Jesus e a imitação, a modo como ele viveu. Nunca nos esqueçamos, Deus, através de Jesus, se fez pobre para trazer-nos a riqueza do seu amor”, finalizou.
por 