Paz e Bem.
“Não tenhais medo! Eu vos anuncio uma grande alegria, que o será para todo o povo: hoje, na cidade de Davi, nasceu para vós um Salvador, que é o Cristo Senhor” (Lucas 2,10)
A alegria anunciada pelo anjo tomou conta dos corações dos fiéis e da fraternidade do Convento na tarde desta quarta-feira (24), na Solene Vigília do Natal do Senhor. A Celebração foi presidida pelo Frei Gabriel Dellandrea, Guardião e Reitor; concelebrada pelos demais frades e pelo Padre Alberto da Arquidiocese de Natal-RN.
Logo no início da celebração Frei Jorge Lázaro fez a proclamação do Anúncio do Natal. A manjedoura com um tecido revelou o rosto do Menino Jesus que foi apresentado a todos: brilhou o sol da nossa salvação!

Na reflexão sobre o Evangelho de Lucas 2,1-14, Frei Gabriel ressaltou a simplicidade do nascimento do Salvador. “Para completar este terno aconchego, Jesus é revelado e envolto em faixas de pano. Tal informação não é ingênua e sem sentido. Ela antecipa o que um dia acontecerá novamente: o seu corpo será envolto em faixas, mas desta vez, no frio do sepulcro. Em Belém Ele é aquecido, é acolhido; no sepulcro experimenta o frio. Porém, como não se deixa manchar pelo mal daqueles que o mataram, Ele aquece o frio da morte com a Ressurreição e acolhe a Igreja desesperançada, aquecendo-a com a vinda do Espírito em Pentecostes.”
Ele utilizou um exemplo pessoal para explicar como “Deus se revela” a todos através da Encarnação de Jesus. “Quando eu estou de férias, minha mãe prepara um pão caseiro. Depois de todo o processo feito ela o coloca sobre a mesa da cozinha e envolve esse pão num pano. E logo que ele esfria um pouco, eu tenho um prazer danado de puxar o pano e “revelar” esse pão saboroso que se torna um excelente lanche. Esse ato de fazer saltar aos olhos o pão por baixo do pano é uma revelação. Esta palavra significa: tirar o véu. E esse termo é muito utilizado também na história da Salvação: Deus se revela. Ele mesmo tira o véu de seu mistério e se apresenta para que o conheçamos. Deus não esconde o seu amor. Explodindo em generosidade, escancara o seu plano de salvação mostrando ao mundo o próprio Filho, seu bem mais precioso. Deus desafia os extremos, conforme afirma Santo Antônio sobre o Menino Jesus: ‘encontrareis [nele] a sabedoria que balbucia, o poder tornado fraco, a majestade abaixada, o imenso feito criança, o rico que se fez pobrezinho, o rei dos anjos que jaz num estábulo, o alimento dos anjos tornado quase feno para os animais, aquele que por nada pode ser contido, deitado numa estreita manjedoura'”, disse Frei Gabriel.
“Eis o surpreendente. Quando Deus revela o seu Filho, o expõe a nós. Porém, mesmo revelado diante da nossa fraqueza, ele não se enfraquece, mas nos fortalece. Nos envolve e nos transforma. A sua vida, antes de se misturar com a nossa maldade, nos torna novas criaturas propensas para o bem. Santo Antônio, mais uma vez, nos ajuda a refletir afirmando: ‘Nós que antes estávamos vazios, agora estamos cheios; nós que antes estávamos doentes, agora estamos sãos; nós que antes éramos malditos, agora somos benditos, porque, como diz o Cântico dos Cânticos: ‘Aquilo que provém de ti é o paraíso’. Aprofundando a cena do Natal, muitos nos assusta o fato de que o Salvador nasceu numa estrebaria. Mas há uma interpretação possível: algumas mulheres procuravam gerar seus filhos no curral dos animais, especialmente nas noites frias, para estarem num local quente por causa do choque térmico do nascimento. É como se nesses partos fosse invocado o calor da natureza para aquecer e acolher”, afirmou.
“Jesus nasce de noite – continua Frei Gabriel -, a noite representa a nossa vida: estamos ainda no escuro pois o céu é o pleno dia. Somos peregrinos nesta terra. Andamos como que à procura da luz para iluminar a escuridão da vida como ela é. Mas o que pode nos animar nessa noite da vida enquanto não chega a claridade do Dia Eterno? Assim como aos pastores, estejamos vigilantes na noite da vida à procura do Senhor”.

Frei Gabriel lançou mão dos ensinamentos de São Francisco para expressar que Deus se manifesta, se revela também na fração do pão. “Jesus se revela novamente, como afirma São Francisco, na Eucaristia, pois “diariamente ele desce do seio do Pai sobre o altar nas mãos do sacerdote (…) Ele se manifesta a nós no pão sagrado” (Ad., I, 18-19). Como os pastores, podemos adorá-lo. Na verdade somos mais privilegiados do que aqueles que guardavam as ovelhas em Belém: temos a oportunidade de receber Jesus em nosso próprio corpo. E isso não fazemos por pura formalidade, mas porque queremos que Ele toque a nossa carne e a transforme Nele. Por mais que tenhamos maldades e pecados, Ele não se corrompe com nossas fragilidades. Habitando em nós, fortalece a nossa humanidade. Recupera em nós o que há de Divino e nos lança para o amor! Em cada Eucaristia somos uma nova Belém e visualizamos nascer em nós o Salvador”.
“Sendo assim, como os pastores vigilantes da noite de Belém, irmãos e irmãs, agucemos o nosso ouvido, abramos o nosso olhar, para vermos e ouvirmos os mensageiros de Deus nos convidando ao encontro com o Senhor. Na noite que é esta vida, Deus envia sua luz para nos iluminar, até o dia em que raiar a manhã da Vida Eterna para cada um de nós. Deus revela constantemente o seu amor. E isso não é uma ideia: o seu plano de ternura é igual um bebê, que se pode ver, sentir, se deixar encantar pela candura, contemplar. Pois não há quem vislumbre o rosto de uma criança e não sinta um gostinho de inocência e uma boa centelha de esperança. Por isso Deus, o todo poderoso, revelou-se numa criança: para resgatar em nós o que há de melhor!”, completou.
Ao final, Frei Gabriel convidou as crianças para que pudessem ser portadoras da Luz do Menino Deus, irradiando aos demais fiéis a claridade que brota da manjedoura.






























