Paz e Bem!
Celebrando o Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor, milhares de fiéis subiram ao Convento da Penha ao longo de todo o dia, para a celebração que marca o início da Semana Santa. Dentro do nosso calendário é a “grande semana”, ponto alto do cristianismo. Os textos litúrgicos, sabiamente selecionados pela Igreja, dão a este Domingo dois títulos e também apresentam dois evangelhos. O primeiro, narrando a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, onde foi acolhido como Rei e Salvador e também com seu sofrimento, paixão e morte, em narração do segundo Evangelho.
A Missa das 9h, foi presidida pelo Guardião do Convento, Frei Djalmo Fuck. Uma multidão com ramos nas mãos, elevou aos céus, louvores ao Cristo que deu sua própria vida por nós, ensinamento que se aprende desde cedo na família.
“‘Bendito o rei, que vem em nome do Senhor’ (cf. Lc 19, 38): gritava em festa a multidão de Jerusalém, ao receber Jesus. Fizemos também nosso aquele entusiasmo ao longo da missa deste dia: levantando nos ramos exprimimos o nosso louvor e alegria e o desejo de receber Jesus que vem a nós. Na realidade, como entrou em Jerusalém, assim deseja entrar nas nossas cidades e nas nossas vidas e nossos corações. Como fez no Evangelho – montando um jumentinho –, Ele vem a nós humildemente, mas vem «em nome do Senhor»: com a força do seu amor divino, perdoa os nossos pecados e reconcilia-nos com o Pai e com nós mesmos”, foi com este pensamento que Frei Djalmo iniciou a Celebração Eucarística.
“Jesus fica contente com a manifestação popular de afeto da multidão e quando os fariseus o convidam a fazer calar as crianças e os outros que o aclamam, responde: ‘Se eles se calarem, as pedras gritarão’ (Lc 19, 40). Nada poderia deter o entusiasmo pela entrada de Jesus; que nada nos impeça de encontrar n’Ele a fonte da nossa alegria, a verdadeira alegria, que permanece e dá a paz; pois só Jesus nos salva das amarras do pecado, da morte, do medo e da tristeza”, comentou. Na sequência, completou: “Entretanto a liturgia de hoje ensina-nos que o Senhor não nos salvou com uma entrada triunfal (com soldados e armas) nem por meio de milagres prestigiosos, mágicos. O apóstolo Paulo, na segunda leitura, resume o caminho da redenção com dois verbos: ‘aniquilou-se’ e ‘humilhou-se’ a Si mesmo (Flp 2, 7.8). Estes dois verbos indicam-nos até que extremo chegou o amor de Deus por nós. Jesus aniquilou-se a si mesmo: renunciou à glória de Filho de Deus e tornou-se Filho do homem, solidarizando-se em tudo conosco – que somos pecadores – Ele que é sem pecado. E não só… Viveu entre nós numa ‘condição de servo’ (v. 7): não de rei, nem de príncipe, mas de servo. Para isso, humilhou-se e o abismo da sua humilhação, que a Semana Santa nos mostra, parece sem fundo”.
Ainda na reflexão, o Guardião do Convento lembrou que é preciso que o cristão se deixe amar por Cristo, para depois amar o próximo. “O primeiro gesto deste amor ‘até ao fim’ (Jo 13, 1) é o lava-pés. ‘O Senhor e o Mestre’ (Jo 13, 14) abaixa-se até aos pés dos discípulos, como somente os servos faziam. Mostrou-nos, com o exemplo, que temos necessidade de ser alcançados pelo seu amor, que se inclina sobre nós; não podemos prescindir dele, não podemos amar, sem antes nos deixarmos amar por Ele, sem experimentar a sua ternura surpreendente e sem aceitar que o verdadeiro amor consiste no serviço concreto. Mas isto é apenas o início. A humilhação que Jesus sofre, torna-se extrema na Paixão: é vendido por trinta moedas de prata e traído com um beijo por um discípulo que havia escolhido e havia chamado de amigo. Quase todos os outros fogem e abandonam-no; Pedro renega-o três vezes no pátio do Sinédrio. Humilhado na alma com zombarias, insultos e escarros, sofre no corpo violências atrozes: as cacetadas, a flagelação e a coroa de espinhos tornam irreconhecível o seu aspecto. Sofre também a vergonha e a injusta condenação das autoridades, religiosas e políticas: é feito pecado e reconhecido injusto”, disse.
Por fim, concluiu afirmando que Cristo, para ser solidário conosco, na cruz experimenta o abandono ao Pai. “Depois, Pilatos envia-o a Herodes, e este devolve-o ao governador romano: enquanto lhe é negada toda a justiça, Jesus sente na própria pele também a indiferença, porque ninguém quer assumir a responsabilidade do seu destino. A multidão, que pouco antes o aclamara, troca os louvores por um grito de condenação, preferindo que, em vez d’Ele, seja libertado um assassino. Chega assim à morte de cruz, a mais dolorosa e vergonhosa, reservada para os traidores, os escravos e os piores criminosos. Mas a solidão, a difamação e o sofrimento não são ainda o ponto culminante do seu despojamento. Para ser solidário conosco em tudo, na cruz experimenta também o misterioso abandono do Pai. No abandono, porém, reza e entrega-se: ‘Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito’ (Lc 23, 46). Pode parecer-nos muito distante o modo de agir de Deus, que se aniquilou por nós, quando vemos que já sentimos tanta dificuldade para nos esquecermos um pouco de nós mesmos. Ele vem salvar-nos, somos chamados a escolher o seu caminho: o caminho do serviço, da doação, do esquecimento de nós próprios, dos nossos egoísmos. Podemos encaminhar-nos por esta estrada, detendo-nos nestes dias a contemplar o crucificado: a cruz é ‘a cátedra de Deus’. Nesta semana santa, semana santa de Jesus e nossa, somos convidados a contemplar com frequência esta ‘cátedra de Deus’, para aprender o amor humilde, que salva e dá a vida, para renunciar ao egoísmo, à busca do poder e da fama. Com a sua humilhação, Jesus convida-nos a caminhar por esta estrada. Fixemos o olhar n’ele, peçamos a graça de compreender pelo menos algo da sua aniquilação por nós; e assim, em silêncio, contemplemos o mistério desta Semana Santa, finalizou”.