Franciscanos na luta por moradias no Jardim Peri Alto (SP)

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A Comunidade Nossa Senhora Aparecida, da Paróquia Santa Cruz, atendida pela Província Franciscana da Imaculada Conceição

Presente no Bairro do Jardim Peri, extremo da Zona Norte da Capital, São Paulo, desde 2013, quando chegou com um projeto para crianças e adolescentes ligado ao Serviço Franciscano de Solidariedade (SEFRAS), a Província intensificou ainda mais sua atuação no local ao assumir, em janeiro de 2022, o cuidado pastoral da Paróquia Santa Cruz. As duas presenças evangelizadoras, desde então, tem somado forças para a desafiante missão no local que, entre muitas carências, sofre também com o drama da moradia. A Paróquia, por exemplo, é composta por sete comunidades, sendo cinco delas situadas no Morro do Jardim Peri Alto. De acordo com o pároco, Frei Carlos Lúcio Nunes Corrêa, uma delas, cuja padroeira é Nossa Senhora Aparecida, está situada no “Futuro Melhor”, área de ocupação que fica ao lado do chamado “Córrego do Bispo”. “Uma preocupação constante das famílias neste lugar é a luta por moradia, uma vez que ali eles não têm saneamento básico e moram em situação precária. Muitos ainda não têm emprego fixo e sobrevivem da reciclagem de materiais. Um dos objetivos de nosso trabalho paroquial enquanto franciscanos é a assistência a essa comunidade de irmãos, tendo presente todas as dificuldades que eles vivem”, contextualiza Frei Carlos.

A Comunidade Futuro Melhor e outra, conhecida como “Sapo”, localizadas no entorno do Córrego do Bispo, estão na área destinada à implantação do projeto da PPP para a Casa Verde/Cachoeirinha, o que gerou ameaças de remoção a mais de 6 mil famílias estabelecidas no local há pelo menos 30 anos. O termo PPPs se refere às parcerias público-privada e são apresentadas por vários governos como única possibilidade de solução para a construção de moradias populares nas cidades. No entanto, segundo os moradores da localidade, os valores pretendidos pelas futuras moradias estariam fora do alcance deles, o que os levaria a perder a casa onde moram e sem garantia de nova moradia.

Frei Marx, coordenador do serviço de Justiça, Paz e Integridade da Criação da Província da Imaculada Conceição e do SEFRAS

Segundo a paroquiana Macilene Almeida Leite, a Futuro Melhor é uma das maiores ou a maior ocupação do Distrito Cachoeirinha. Estima-se que reúna cerca de 8 mil famílias. “É uma luta muito grande, e que não vem de hoje, por moradia. As pessoas estão aqui porque não têm para onde ir e precisam encontrar algum lugar. Os frades viram todas estas necessidades e estão nos ajudando, inclusive com ações emergenciais”, explica Macilene.

Uma destas ações, inclusive, nasceu como iniciativa ligada ao Serviço de Justiça Paz e Integridade da Criação (JPIC), dimensão importante do carisma franciscano. “Não é possível proclamar o Reino de Deus onde as pessoas não têm onde reclinar a cabeça. “, diz Frei Marx dos Reis, Animador Provincial do JPIC e Vigário Paroquial da Paróquia Santa Cruz. “Quando chegamos na Paróquia, foi aberto um diálogo com a comunidade”, observou, acrescentando que tomou conhecimento do processo de remoção de mais de duas mil famílias do território para a construção de um conjunto habitacional para pessoas com renda superior a 5 mil reais por mês, o que não atenderia nem 2% das famílias.

Ele conta que participou de uma articulação com as lideranças para fazer visitas às casas e mobilizar os representantes da Associação para propor o projeto “Casa Comum e Direito de Moradia no Jardim Peri Alto”. Segundo o frade, o contato com as realidades de extrema pobreza o levou a perceber a gravidade da situação. “Vi coisas que nunca imaginaria ver. O grau de sofrimento humano no Peri não é normal. Esgoto passando no meio da sala, com crianças comendo ao mesmo tempo, só para mostrar um cenário. Era uma demanda muito grande ali. Nesta perspectiva, surgiu a proposta de ampliar a relação dos frades, paroquianos e da sociedade organizada na busca de regulamentação da área e de conquistas de melhorias para o espaço”, explicou Frei Marx.

Frei Marx teve a ajuda de Frei Evilásio Souza da Silva, Província Santíssimo Nome de Jesus (GO); e Frei Luiz Felipe Teixeira dos Santos e Frei Keven Daniel de Paula, da Província Santa Cruz (MG).

Dentre todas as casas visitadas, saltou aos olhos a história de uma família de mulheres: uma senhora com câncer (que faleceu em dezembro), uma filha que cuidava da casa (que hoje é empregada doméstica) e uma jovem (com problemas de saúde mental). “Essa família mora em uma casa de madeira, com o chão em areia batida, sem ventilação para secar as roupas (secando as roupas sobre a cama), sem armários e com telhados quebrados. “Num lugar de violência extrema, aquela mulher sonhou a vida inteira ter um teto para morar e aí morre naquela situação. Aquilo mexeu profundamente comigo. Cheguei a falar com a Rita (chefe da família) que voltaríamos para ajeitar o seu barraco, mas não deu tempo dela presenciar a iniciativa. Como ato concreto de solidariedade e também como símbolo da luta pelo resgate da dignidade através da moradia, organizamos esta mobilização para promover algumas melhorias na casa desta família”, acrescentou Frei Marx.  Segundo o frade Frei Marx, a missão evangelizadora também passa por gestos concretos de promoção da justiça.

A iniciativa contou ainda com o apoio financeiro do Fundo de Solidariedade recém-criado pela Província para incentivar projetos solidários ligados às fraternidades locais. De acordo com o Ministro Provincial, Frei Paulo Roberto Pereira, “este fundo deseja ser mais uma iniciativa prática que manifesta o compromisso de nossa missão evangelizadora enquanto irmãos menores com as lutas e dores do povo mais sofrido”, explica.

A LUTA INCANSÁVEL DE UMA LÍDER NO FUTURO MELHOR

“Pela promessa do governo, quando a gente veio para cá é que teríamos a nossa casinha. Mas o tempo foi passando, passando, e muitas vezes sofremos com processos de reintegração. Eles não têm uma solução para nós. Então, a gente foi permanecendo”, explica Eliana Takeko Kanashiro de Araújo, uma das lideranças da Comunidade Aparecida, onde está o Futuro Melhor. “Agora, a gente entrou com pedido de regularização do território para poder pelo menos dizer: agora podemos dormir sem pensar em problemas. A gente vai poder comprar uma janela porque não vai ter problema”, espera a mãe de quatro filhos, sendo o Yudy, adotado, morando no Peri Alto desde 1996.

Eliana conta que este ano a Associação entrou novamente com o pedido de urbanização da área para que o governo olhe para as famílias que moram no Futuro Melhor e no Sapo. “Quando a gente sofre essa questão da reintegração, todos são atingidos e todos se unem. Com a PPPs eles queriam colocar apartamento aqui, mas não ia ser para nós, porque não ia caber no nosso bolso”, explicou.

Eliana Takeko Kanashiro de Araújo, e seu neto Yudy

“A gente conseguiu evitar em várias reuniões, várias audiências que essa PPPs entrasse na área. Graças a Deus conseguimos. Mas são batalhas em meio a uma guerra. Temos um pouco de sossego, mas o medo continua.  Esse ano já houve reintegração. Mês passado tiraram 21 famílias da beira do rio. A gente brigou também para que entrassem no Auxílio-aluguel, que eles nem queriam oferecer. E as famílias foram para o Auxílio-aluguel. A gente ainda teme porque eles começam a fatiar a área. O que eles falam: ‘Barraco é área de risco’, por causa dos incêndios. Então, a gente está tentando eliminar o barraco, juntamente com a comunidade que abraçou a nossa causa. As pessoas que não têm condições, por exemplo a Rita, estão sendo ajudadas. Vamos tentar tornar a área sólida, para que eles vejam que não é um favelão, mas que a gente quer é, sim, uma moradia digna, que ninguém fique na rua. E vejam que aqui não é uma coisa bagunçada. O bairro em si é muito organizado. Anos atrás era um verdadeiro inferno, esquecido por todos e por tudo. Muitas mortes, muita discórdia e muitas brigas. Hoje não, está bem tranquilo. A vizinhança apoia a gente, todo mundo luta para ter um bairro legal”, conta Eliana, explicando em seguida como veio parar na área de ocupação: “Em 1996, meu marido sofreu um acidente. Eu estava grávida e com três crianças pequenas quando fui despejada. Morava lá no Mandaqui. O que eu ganhava dava para bancar a saúde do meu marido, condenado à cadeira de rodas. Foi quando fiquei sabendo deste lugar. Era um lugar com poucas famílias. Naquele tempo, a gente morava num barraco de lona. Era só um plástico, forrava o chão com pano e ali dormíamos. Então, passávamos muitas dificuldades, porque não tinha água, banheiro, luz. E meu marido tinha que tomar injeção todos os dias. Depois de oito meses no hospital, eu o trouxe para morar conosco. Disse na época: ‘Seja o que Deus quiser!’  A gente pagava medicamentos para ele, pedia comida porque realmente eu não podia alimentar três crianças, eu grávida e mais ele precisando de mim”, recordou, relatando o malabarismo que precisava realizar para sobreviver catando material reciclável no meio do lixo.

Eliana cuidava dos filhos e arrumava tempo para a militância. O tempo todo em passeatas, caminhadas, plantão nos lugares públicos, manifestação e a volta para casa sem conseguir nada. “Sempre a promessa, e a gente se encontra até hoje aqui. Claro que hoje já está bem melhor”, diz. “Graças a Deus, consegui construir a casinha, mesmo que seja humilde, é uma casa que não chove dentro, que não tem perigo de incêndio, que não entra bicho, embora a gente continue sobrevivendo. Com muita fé e coragem a gente vai continuar na luta”, promete essa líder do Futuro Melhor.

Eliana e os filhos: Gessyka, Marcos Roberto e Yudy

“O meu filho mais novo está com 26 anos. Ele é aquele que nasceu aqui. O mais velho está com 35 e a filha com 33. Eles moram comigo ainda. Casaram e voltaram porque não deu certo. Tenho também um neto de 12 anos que eu adotei, o Yudy. Uma filha de 28 anos não mora comigo. Meu marido superou os problemas e começou a andar”, comemora em meio a tantas dificuldades. O que lhe deu forças foi a fé. “Fui a pé pagar uma promessa que fiz para que meu marido saísse da cadeira de rodas. A pé até Aparecida, com ele. A promessa é que ele não iria usar muleta e nem cadeira de roda. Eu não aceitava aquilo na época. E fui com a fé e a coragem. Os meninos pequenos e eu arrastando ele e ‘vamo que vamo’, juntamente com toda a comunidade daqui. Saímos daqui em 600 pessoas conseguimos chegar lá em 590, porque muitas passaram mal, mas conseguimos chegar em Aparecida. Ali larguei a muleta dele, roupas e tudo que prometi. Ficou um mês internado e graças a Deus hoje não precisa mais de apoio nenhum. Ele não anda perfeitamente, mas anda. Já se ‘vira’ sozinho. Graças a Deus eu tenho muita fé. E recentemente eu paguei a promessa do meu filho que havia sido condenado pelo médico a ficar sem uma perna. Tinha só ferros nela. Fui lá, paguei a promessa e graças a Deus ele está trabalhando”, contou.

Para ela, a fé é que ajuda a lutar. “A fé é a última que a gente deve perder. Se a gente não tiver fé não vai a lugar nenhum. Não se vive e não tem esperança. Eu sou muito devota de Nossa Senhora, a nossa Padroeira”, revela a líder da Futuro Melhor.

A JUNÇÃO ENTRE FÉ E VIDA

O paroquiano Salvador Pimenta, membro do setor regional da CEBs, Regional Brasilândia, fala da luta do povo no Peri Alto. “A comunidade luta com muita dificuldade já há muito tempo. É uma luta árdua. Já tivemos algumas pessoas, aliás temos pessoas que caminham conosco, mas é muito difícil ter esperança numa situação que a gente vive, num lugar onde as pessoas ainda têm dúvida do que poderá acontecer. Esperamos que seja da melhor maneira possível, e esse povo tão sofrido merece um lugar decente e digno de moradia justa para todos”, disse, lamentando que não pôde viajar  para Rondonópolis, no Interclesial das CEBs, um encontro que se realiza de 4 em 4 anos. “Participo há 30 anos das CEBs, que faz um trabalho muito bom, apesar das dificuldades que encontramos. Mas estamos caminhando”, enfatizou.

Salvador Pimenta e Macilene Almeida Leite

“A igreja em saída é uma convocação para que nossa Igreja seja uma Igreja missionária, que ela esteja em todos os cantos e principalmente naqueles cantos onde mais necessitam. Exemplo, a nossa ocupação Futuro Melhor, mas também junto ao povo em situação de rua, junto ao povo indígena, então, estar sempre naqueles lugares onde mais necessitam”, ressalta a líder da comunidade Macilene Almeida Leite. “E essa Igreja em saída como o Papa Francisco diz é anunciar o Evangelho. E o que diz o Evangelho? Na Evangelii Gaudium, ele diz que é dar essa boa notícia, anunciar com alegria. E como a gente anuncia o Evangelho nesses espaços onde a gente sabe que o direito dessas pessoas, enquanto cidadãs, não é garantido? Então, a Igreja em saída, é acabar também um pouco com o clericalismo, é acabar também um pouco com o pensamento dos leigos que acham que evangelizar é só dentro das quatro paredes do templo. E não, evangelizar é estar onde as pessoas precisam. É fazer a junção entre fé e vida. E a gente, enquanto batizados, já somos convocados a ser missionários, já somos convocados a ser essa Igreja em saída”, reforçou.

Segundo ela, fazer essa junção hoje de fé e vida, dentro da nossa instituição Igreja, é muito difícil. “Eu penso que hoje a gente tem uma cabeça que é o Papa Francisco e que muitas vezes os nossos membros não o obedecem. O Papa Francisco fala muito dessa Igreja em saída, nos convoca a ser dessa Igreja em saída e, às vezes, os nossos membros estão paralisados e querem ficar dentro dos templos. Ser essa Igreja em saída é assumir o nosso batismo, é assumir a nossa missão, missão enquanto Igreja, enquanto batizado. Anunciar e dar essa boa notícia. Mas não é simplesmente dizer: ‘Olha, Jesus também é para você, mas também é lutar por moradia digna na Igreja em saída; também é lutar por saneamento básico; Igreja em saída é também lutar pelas causas sociais. Então, Igreja em saída é, de fato, assumir o Evangelho como alicerce da nossa vida e da nossa Igreja”, ensinou.

 A PERFEITA ALEGRIA DO PERI

Caminhando com São Francisco de Assis, o seu confrade Frei Leão pergunta a ele o que é a perfeita alegria. O Santo de Assis responde exemplificando que, com fome e muito frio, ao chegarem no convento são recebidos por um porteiro irritado e que os chama de vagabundos e os expulsa. Mas eles insistem devido ao frio e a fome, e acabam sendo jogados ao chão, levando pauladas. E Francisco dá a conclusão: “Se nós suportarmos todas estas coisas pacientemente e com alegria, pensando nos sofrimentos de Cristo bendito, as quais devemos suportar por seu amor: Ó irmão Leão, escreve que aí e nisso está a perfeita alegria, e ouve, pois, a conclusão, irmão Leão. Acima de todas as graças e de todos os dons do Espírito Santo, os quais Cristo concede aos amigos, está o de vencer-se a si mesmo, e, voluntariamente, pelo amor, suportar trabalhos, injúrias, opróbrios e desprezos”.

Angela Assis e as crianças do serviço Perfeita Alegria

Há nove anos, o projeto Perfeita Alegria do Sefras, é um bálsamo no cenário de sofrimento que vive o povo do Jardim Peri Alto, como descreveu Francisco de Assis. Angela Assis participou da escolha deste local para criar o projeto do Sefras. “No redimensionamento da Província, em 2013, os frades tinham como motivação do carisma ir para as regiões fraturadas, para as periferias. Eu fiquei andando nas periferias da cidade de São Paulo durante todo o ano. Fui para Oeste, Leste, Noroeste, Sul, no extremo lá da Guarapiranga, fazendo registros. A dificuldade maior era encontrar um prédio. Nas periferias não se tem prédios para alugar e o Sefras não tinha condições para comprar. Foi quando, em 2014, esse espaço aqui, que é próprio da Prefeitura, entrou em audiência pública. A organização social anterior – isso aqui existe há muito tempo – entregou o serviço. Foi aí que a Rosangela Helena Pezoti (coordenadora social do Sefras), olhando o edital, viu este projeto. Viemos no carrinho dela. Chegando no bairro, o carro quase não subia os morros. Ninguém queria estar aqui, nenhuma outra organização se interessou por esse lugar, mas no estando local do projeto, uma olhou para a outra, e falamos juntas: ‘É aqui!’ Nesse ano, participamos da audiência pública, e fomos os únicos a participar, portanto, fomos contemplados. Em abril de 2014, o Frei José Francisco de Cássia dos Santos (diretor-presidente do Sefras)  assinou todo o processo e nós começamos a fazer uma grande reforma porque o local estava bastante deteriorado”, recorda Angela.

“O importante é que nós, quando chegamos aqui, privilegiamos todas as crianças que estavam aqui matriculadas. E depois abrimos para novas vagas. Então, no dia 1º de julho de 2014, o Sefras entrou no Peri mesmo, abrindo as portas para receber todas as crianças”, destacou Angela.

Desde então, a presença no local possibilitou conhecer o território, as pessoas, as famílias. “O início não foi muito fácil porque a organização anterior estava aqui há mais de 20 anos. Então, agora era uma organização nova, pessoas novas, um jeito de trabalhar diferenciado, uma metodologia diferenciada. Enfim, até fazer vínculos levou tempo, sofremos um pouquinho, mas quando eles perceberam que o Sefras estava aqui para contribuir com essa realidade, para tentar transformar de alguma forma esta realidade, tudo mudou. Aqui, realmente, é um território de extrema vulnerabilidade, onde o Estado está presente apenas na educação (com uma escola). Não temos esporte, saúde, cultura, habitação, não temos nada aqui”, define Angela.

Segundo Angela, anteriormente o espaço foi transformado pela Prefeitura em moradia provisória para algumas pessoas que sofreram no incêndio na Av. 9 de Julho (Edifício Joelma). “Era um projeto provisório e, como tudo na Prefeitura, se tornou permanente. A cada crise econômica, mais pessoas iam chegando nesse território. Inclusive na parte que cabe à Associação Futuro Melhor e a Favela do Sapo. Então, esse é um espaço de ocupação onde pessoas não tinham condições de pagar aluguel e vieram para a periferia.  Aqui demorou muito para ter infraestrutura de asfalto, de transporte, e até hoje não se tem em todas as ruas água tratável, saneamento básico, principalmente a faixa do sem-terra aqui embaixo perto do rio. A partir daqui tudo são vielas”, detalha Angela.

O projeto, como lembra Angela, não atende apenas as famílias que têm crianças matriculadas. “A gente atende também o entorno, a gente atende o pessoal da Associação Futuro Melhor, aqui também é um espaço de escuta dessa população”, adiantou. Ela, contudo, lembra que o Sefras começou a ser acolhido pela Comunidade com a pandemia. “Até a pandemia, a gente estava tentando entrar no território. Quando a pandemia acontece, o Sefras faz uma atuação para todo o território. A gente chegou a entregar uma média de 3 mil cestas básicas ao mês. Então, começamos articular com todas as organizações, seja de Igreja, social, escolas, CRAS (Centro de Referência de Assistência Social) etc. A gente conseguiu deixar uma rede de solidariedade na ‘Emergência Peri’, inclusive com a Associação Futuro Melhor, muito forte e próxima”, avalia.

“O que era arrecadado lá na sede do Sefras, ou no centro, era disponibilizado aqui. Então, fizemos cadastros de 250 famílias que somente nós atendíamos. Passado um tempinho, a gente viu que as cestas básicas não estavam dando conta. Aí entramos com as marmitas, oferecendo 200 marmitas-dia. Isso tudo era o Sefras, tendo os frades à frente. Então, hoje, em qualquer lugar que você vá e fale Sefras, é feita a relação com a Rua 13. Para além disso, tem o reconhecimento do trabalho no serviço. Nós, e não é falta de modéstia, fazemos o trabalho com as crianças, um trabalho político, de cultura muito forte, que refletiu nos demais serviços que atendem crianças e adolescentes; Então, somos referência hoje.  Fomos nós que formamos, em 2015, o Fórum de Defesa dos Direitos Humanos da Criança e do Adolescente. Estamos envolvidos em todo o canto. Esse é o diferencial do Sefras”, comemora a gestora.

Para Angela, é muito importante a articulação dos frades na luta desse povo pela moradia, pela regularização fundiária. “Quando nós entramos nesta ação tão bonita, a construção da casa da família da Rita, por entender que nós fazemos parte deste território e o que se está fazendo lá, independente se é um franciscano ou se é um batista, nós estaríamos lá, porque a gente precisa contribuir com essa população. Faz parte do nosso trabalho dentro desse território. Isso deveria ser o Poder Público, mas se ele não faz, a gente faz. Tem outras pessoas que fazem. Tem. Mas a gente vai devagarinho…. Acolher, ouvir, já faz parte dessa ação”, concluiu Angela.


Moacir Beggo

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