Paz e Bem!
Celebrando a memória do Primeiro Mártir da Igreja, a primeira pessoa que derramou seu sangue testemunhando a fé em Jesus Cristo, Santo Estevão; foi realizada na Capela do Convento, na tarde de ontem (26/12) uma Santa Missa que contou com participação de uma comitiva francesa de amigos e familiares do Padre Gabriel Felix Roger Maire, um sacerdote francês que foi brutalmente assassinado no dia 23 de dezembro de 1989, em Vila Velha.
A Missa foi presidida pelo Frei Pedro de Oliveira Rodrigues, que é nascido em Cariacica e conviveu com Padre Gabriel, além de apoiar as iniciativas defendidas pelo irmão de ministério. Concelebraram mais três padres vindos da França, especialmente para participarem das celebrações dos 30 anos de Martírio do “Profeta Gabriel”, como carinhosamente também é chamado. E foi essa expressão usada pelo Frei Pedro quando iniciou a Celebração. “Recordando os 30 anos de Martírio do Padre Gabriel, nos reunimos aqui na Penha para dizer que calaram a voz de um profeta, o Profeta Gabriel, mas jamais vão calar tudo o que ele defendeu. Ele lutou por vida digna para todos! Lutou por um mundo mais humano, fraterno, solidário. Lutou pelo direito à saúde, educação, moradia… Mártir da justiça, doou a própria vida em prol da justiça de Deus. O sangue de Gabriel é sinal de semente de vida”, afirmou.
No tempo das primeiras comunidades cristãs, o primeiro mártir, o jovem Estevão, morreu apedrejado pelas lideranças judaicas. foi caluniado e acusado de subverter as leis de Moisés. Mas o jovem, inspirado pelo Espírito Santo, relembrou toda a história da salvação, mostrando que não havia blasfemado nem contra Deus nem contra a Lei. Mesmo assim recebeu a coroa dos justos e ganhou a glória dos altares. Nos nossos tempos, Gabriel. Martirizado por defender os menos favorecidos, por defender a causa do Evangelho e do acesso aos direitos fundamentais.
De acordo com amigos do Padre Gabriel, no dia do assassinato, horas antes, enquanto celebrava um casamento, homens em um carro perguntaram a populares se o sacerdote que estava celebrando era o Padre Gabriel. Pouco tempo depois, quando passava na região do “Areal de Vale Encantado”, segundo peritos do Unicamp, o padre teve o veículo interceptado. Lá, recebeu uma coronhada na cabeça, seguida de um disparo de arma de fogo que acertou o peito. Padre Gabriel não morreu imediatamente, ficou desfalecido. No bairro Cobi de Cima, na região próxima à Rodovia Carlos Lindenberg, os assassinos abandonaram o veículo com o padre dentro. Um casal testemunhou o momento em que o carro foi deixado pelos criminosos e a porta do motorista se abriu, acendendo a luz interna. O casal reconheceu o padre que ainda estava vivo agonizando.
Na homilia da Missa, Frei Pedro cobrou ações do poder público para evitar que outros “Gabriel” sejam vítimas e mártires da violência, opressão e ineficiência das políticas públicas. Afirmou também a necessidade de termos nos nossos dias pessoas que lutam em defesa da vida digna para todos.
Ouça a homilia na íntegra abaixo
A intenção dos 30 anos de saudades do Padre foi citada também na Oração de Coleta, nas Preces Comunitárias, na Oração Eucarística e ao final, quando os fiéis realizaram homenagens, cantaram e rezaram pela alma do Padre Gabriel.
Canção em homenagem ao Padre Gabriel Maire
O ASSASSINATO
Na noite de 23 de dezembro de 1989, um crime chocou o Espírito Santo. O assassinato brutal do Padre Francês, Gabriel Felix Roger Maire, um líder das lutas contra as desigualdades sociais, cuja preocupação principal era buscar a reintegração dos excluídos, em especial, dos que viviam em situação de extrema pobreza. A polícia agiu rápido prendendo os autores, pressionada pela opinião pública, pela Igreja, parentes do padre e testemunhas que relatavam espontaneamente uma execução, incluindo uma relação de suspeitos com empresários de Vila Velha.
O motivo, segundo informações, era uma área de terra conhecida como Barbados, em Cariacica, uma das mais valorizadas da região, hoje o Bairro Padre Gabriel em homenagem à vítima. Esta área era ocupada por desabrigados que tinham no religioso, um destemido advogado defensor, pleiteando junto ao poder público municipal a doação legal dos lotes para as famílias assentadas.
A polícia não conseguiu em tempo fechar as investigações, concluir o inquérito e encaminhar à Justiça uma fantasiosa versão de latrocínio praticado pelos réus confessos sob os efeitos de bebidas alcoólicas e drogas. Nenhum dos suspeitos como mandantes do crime, nem mesmo as testemunhas e os parentes do padre foram ouvidos pela polícia. Nos autos do processo havia até indícios, provas materiais e testemunhais que contradiziam a conclusão de latrocínio. Mesmo assim, a Justiça acatou o relatório da investigação policial.
O crime prescreveu em 2017, a prescrição foi anunciada pelo desembargador Pedro Valls Feu Rosa. Ele chegou a pedir desculpas à Igreja Católica, à sociedade capixaba e à família do Padre Gabriel pela ineficiência do judiciário.
Com informações de A Gazeta