Festa de São Francisco: não ser insensível ao que sofre

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Paz e Bem!

Com vivas, glórias, louvores e orações ao Seráfico Pai São Francisco de Assis, o domingo do Senhor foi mais que especial no alto da Penha Sagrada. Centenas de fiéis festejaram com muita alegria o dia do Santo padroeiro da Ecologia, fundador das Ordens Franciscanas, Pai dos Pobres e amante incondicional da natureza e dos animais. A Fraternidade Franciscana do Convento da Penha se reuniu aos pés do Santuário de devoção mariana (e também franciscana) para a Missa Solene em honra ao Santo de Assis. Mais que exemplo a ser seguido, o Pobrezinho de Assis representa o reerguimento da Igreja, símbolo de obediência à voz de Deus que prontamente atendeu o pedido do Senhor para ir e reconstruir a sua Igreja.

Por conta da pandemia, a festa de São Francisco precisou passar por algumas adaptações e restrições. O dia 4 de outubro ficou marcado na história por ser o primeiro domingo com uma Missa presencial no tempo da pandemia. A Fraternidade quis dividir com o povo a possibilidade de celebrar tão grande santo de forma física no Campinho, respeitando todos os protocolos sanitários e recomendações das autoridades de saúde. Além da presença dos devotos, outras milhares de pessoas que amam São Francisco (de várias partes do Brasil) acompanharam a festa pelas redes sociais e também louvaram a vida e os ensinamentos do Mestre Sábio da Verdade.

Celebração Eucarística

A Missa Festiva de São Francisco de Assis foi celebrada às 9h. Voluntários montaram durante a tarde de ontem, um altar adornado com uma imagem de Francisco bem destacada no palco do Campinho. O presidente da Celebração foi o Frei Pedro de Oliveira Rodrigues, com participação de todos os frades do Convento. No início, o animador falou da necessidade do cuidado e das regras para a celebração, como o distanciamento, uso obrigatório de máscara e álcool em gel.

Ao acolher o povo, Frei Pedro disse que “o encontro com o Senhor na festa de São Francisco é uma oportunidade de celebrar aquele que fez de Jesus Pobre e Crucificado, o sinal da sua missão e da sua caminhada”, em seguida, saudou os irmãos franciscanos das três ordens (Irmãs Clarissas, Irmãos da Ordem Franciscana Secular e os Frades Menores).

Na homilia, Frei Pedro de Oliveira começou explicando os textos bíblicos selecionados para o 27º Domingo do Tempo Comum. “Na primeira Leitura (Isaías 5,1-7), o profeta canta o cântico da vinha. ‘Vou cantar para meu amado o cântico da vinha do amigo meu’ e diz o profeta, que tipo de uva, que tipo de vinho essa vinha produzia. Essa vinha produzia o fruto que se esperava? Não! O Senhor esperava frutos de justiça e eis as injustiças, frutos de bondade e eis a iniquidade. As uvas boas esperadas, não vieram; as obras de bondade em favor do próximo, não vieram; as uvas azedas colhidas são as injustiças e iniquidades praticadas pelo povo. O Evangelho de hoje vai na mesma linha. Essa vinha se refere ao povo da Aliança, ao povo de Israel, se refere a todos nós, somos vinhas do Senhor. Só que nem sempre produzimos aquilo que ele espera e muitas vezes, quando você vai tentar corrigir, mostrar o outro que está errado, o que ele diz? ‘A vida é minha, eu faço o que eu quero!’ Depois aguente as consequências desta irresponsabilidade, porque a vida é dom. Nós não somos donos da nossa vida, é apenas uma doação que nos foi concedida, mas a nossa arrogância, nossa prepotência, nos leva a dizer: eu faço da minha vida o que eu quiser. Diz o dono da vinha ‘ele vai prestar contas disso'”, explicou Frei Pedro.

Ainda refletindo a Liturgia da Palavra, o frade comentou sobre abomináveis atos de violência praticados por pessoas (vinhateiros) naquele tempo e atualmente. “Ser violento é ser contra o reino, é ser contra a paz, contra a vida, isso tem de ficar claro. Ser violento é ser contra o projeto de Jesus, é ser contra o Evangelho. Em momento algum Jesus fala de vingança do dono da vinha. O relato bíblico não fala que o proprietário se vingou daqueles que foram cruéis, infiéis, truculentos com os que lhe foram enviados para exigir prestação de contas da missão. Violência não é uma característica de Deus. A atitude do dono da vinha será de destituir do poder os vinhateiros homicidas, entregando tal administração a outro povo. No pouco ou no muito devemos ser solidários, devemos ser fraternos”, afirmou.

Frei Pedro ainda fez duras críticas às políticas de favorecimento aos desmatamentos e incêndios no Pantanal e na Amazônia. ” A vinha nos foi entregue para cuidarmos e não para nos apossarmos dela. A natureza nos foi entregue para cuidarmos, para servir-nos e não para nos apossarmos dela, não para destruirmos, não para violá-la. A vida não é nossa, portanto, não somos proprietários dela, mas sim administradores, administradores da vida, cuidadores, promotores, defensores, pois tudo é do Pai. Nos cabe apenas cuidar daquilo que Ele nos confiou e este cuidar está a natureza, está o meio ambiente, está a família, está a sociedade, está a nossa própria vida. Quando nos comportamos como administradores, mas como senhores, donos, exploradores dos bens criados, acabamos por promover queimadas. A Amazônia grita, o Pantanal sofre, a natureza grita, grito de dor, de sofrimento pois está sendo violentada. O fogo está destruindo! Morte, destruição… Quem são os causadores disso? Aqueles que a exploram, que a destroem. Às vezes nos angustiamos, nos inquietamos quando vemos um animal sendo maltratado. Isso deve nos incomodar, mas nos incomodamos quando vemos um ser humano tendo tratamento pior, essa insensibilidade não podemos ter. Às vezes nos emocionamos quando vemos um animal ser maltratado, mas não nos emocionamos vendo uma onça morre queimada no Pantanal, um tamanduá, um tatu, uma cobra… Não nos emocionamos com isso. Onde está a nossa sensibilidade? Onde está nossa responsabilidade do cuidar?”, questionou.

Por fim, o frade capixaba explicou um pouco sobre a vida de São Francisco como patrono da Ecologia. “Ao celebrarmos São Francisco de Assis, aquele que fez da natureza a sua mãe, sua casa, devemos nos perguntar: como estamos cuidando desta Casa? Como estamos cuidando dos bens que nos foram confiados? E dos bens naturais? E como se não bastasse todo desrespeito à Mãe Natureza, que grita, que implora, ainda vamos ter que ver decretos sendo assinados contra os manguezais. Os manguezais podem ser explorados para bens imobiliários. Que negócio é esse? Esta é a vinha! Esta é a plantação! Esta é a propriedade a qual o Senhor nos confiou como cuidadores e como estamos cuidando? Como está sendo nosso papel no cultivo da vinha do Senhor? Quando lá na sua casa você separa o lixo, você está cuidando. Quando na sua casa você controla o consumo de água, você está cuidando. Quando você procura ser solidário, ser fraterno, você está cuidando do outro, está cuidando da grande e bela vinha da qual o Senhor lhe confiou. Cuidemos da vida! Sejamos promotores da vida, e não promotores da morte. Sejamos promotores da paz, como São Francisco, e não da violência, da truculência, da intolerância. Que o Senhor nos ajude a cultivarmos essa vinha chamada vida para que ela possa produzir e dar os frutos tão esperados que Ele aguarda. Todos nós somos responsáveis. Senhor, ajude-nos a sermos cuidadores da vinha que é a vida!”, finalizou.

Ladainha

Logo após a Profissão de Fé, os fiéis cantaram a Ladainha de São Francisco de Assis, um momento de exaltação ao Senhor pelo dom da santidade do Santo de Assis que chega até nós. A missão de Francisco, começada há mais de 800 anos, continua a fazer a diferença na vida da Igreja e na missão dos frades até hoje. O belíssimo canto foi do Frei Paulo César Ferreira com o cantor Vitor Danezio.

Confira a Ladainha abaixo.

Saudação de São Francisco à Virgem Maria

Antes da Bênção, Frei Paulo César convidou os fiéis para juntos cantarem a Saudação de São Francisco à Virgem Maria. Esta saudação tão singela expressa a grande veneração de São Francisco pela Virgem Mãe de Deus, cuja “Capelinha da Porciúncula” – Igrejinha de Nossa Senhora dos Anjos em Assis – foi o berço da Ordem dos Frades Menores e se conservou, através dos séculos, foco de piedade Franciscana.

Salve ó Senhora, Rainha Santa,
Mãe Santa de Deus, ó Maria, que sois Virgem feita Igreja,
escolhida pelo Santíssimo Pai celestial,
que vos consagrou por seu Santíssimo e
dileto Filho e o Espírito Santo Paráclito.
Em vós residiu e reside toda plenitude da graça e todo o bem.

Salve, ó Palácio do Senhor!
Salve, ó Tabernáculo do Senhor!
Salve, ó Morada do Senhor!
Salve, ó Manto do Senhor!
Salve, ó Serva do Senhor!
Salve, ó Mãe do Senhor!

Salve vós todas santas virtudes derramadas,
pela graça e iluminação do Espírito Santo,
nos corações dos fiéis, transformando-os de infiéis
em servos fiéis de Deus!

Amém.

Cuidar é tarefa de todos

Encerrando a participação na Celebração Eucarística, Frei Paulo Roberto falou sobre a importância de cuidar para que a “nova normalidade”, a partir da sensibilidade, mude o jeito e a vida. “As novas práticas do nosso convívio e comportamento supõem mais sensibilidade e cuidado, a partir disso que vamos construir uma nova normalidade, não viver do mesmo jeito de antes da pandemia. Viver mais ternos, fraternos”, explicou.

Plantio de Árvores

Finalizando os festejos do Patrono da Ecologia, os frades realizaram o plantio de três árvores, sendo duas palmeiras imperiais no Campinho e um Jequitibá-Rosa.

Após a Bênção Final, os freis foram até o Campinho e plantaram as duas palmeiras. A primeira, plantada pelos franciscanos e a segunda pelos representantes do grupo “Fraternidade e Vida”, que realiza um trabalho de educação ambiental e preservação do meio ambiente, com atitudes simples mas transformadoras.  grupo é responsável pela campanha “O Lixo que Vira Pão”, realizada no Tempo da Criação com o apoio do Convento da Penha. Além deles, os representantes da Associação dos Amigos do Convento da Penha (AACP) também estiveram presentes para o plantio da segunda palmeira.

O momento foi histórico, não apenas pela longevidade das plantas que certamente alcançarão muitos anos de existência, mas demonstrou a preocupação da família franciscana no cuidado com a Casa Comum. Plantar árvores não é apenas uma maneira de contribuir com a criação, vai muito além. É uma resposta ao sonho de Deus, que ao criar o mundo e as belezas naturais, deu ao ser humano a tarefa do cuidado. Cuidar da criação perfeita do Pai é se atentar ao seu sonho e projeto para a humanidade.

“Quando Frei Pedro Palácios chegou a este lugar, por indicação divina, ele deveria construir a casa da Mãe de Deus no lugar onde houvessem duas palmeiras e ele escolheu este monte, esta montanha, essa pedra firme. A firmeza da pedra, o vigor que sustenta toda construção é o próprio Jesus Cristo. As palmeiras marcam o lugar escolhido por Deus. As palmeiras também são sinais da longevidade, da eternidade que almejamos e além disso as palmeiras no nosso país, sobretudo, são sinais da diversidade. Nosso bioma brasileiro contém uma diversidade infinita de palmeiras. É sinal da escolha de Deus, é sinal da longevidade que queremos para todos, vida plena para todos, é sinal da diversidade que devemos nos respeitar dentro das nossas diferenças”, foi o que disse o Guardião do Convento ao pedir que fossem plantadas as palmeiras no Campinho.

A outra espécie de árvore foi plantada na subida da Estrada da Penitência e contou com a participação do Governador do Espírito Santo, Renato Casagrande; dos Freis do Convento; do Prof. Luiz Fernando Schettino, do Departamento de Oceanografia e Ecologia – UFES; e de populares.

A responsável pelo plantio foi a Pietra Casagrande Schettino de apenas 8 anos. Ela ganhou uma muda de Jequitibá-Rosa, plantada em 2010, no ano em que nasceu (2012). Pietra ajudou a cuidar e aprendeu a amá-la, assim como a natureza. Agora, depois de oito anos, Pietra e seus pais Luiz Fernando Schettino e Maria Leila Casagrande, trouxeram a muda para seu habitat: a floresta do Convento da Penha, símbolo de fé, devoção e amor a Deus, à vida e à natureza, mas a menina continuará a amar esta e todas
árvores para sempre.

A atitude ficou marcada na história porque a árvore símbolo do Espírito Santo é o Jequitibá-Rosa e o símbolo maior capixaba é justamente o Convento da Penha. Ela atinge uma longevidade grande, podendo viver muitos anos, e segundo alguns estudos, pode ultrapassar a idade de 500 anos. Longevidade que também é uma característica do Convento. Há 450 anos se celebra a Festa da Penha.


Fotos: Marcos Antoniazi

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