Frei Valdecir Schwambach
Na oração que Jesus nos ensinou, todos rezamos, quem sabe, mais de uma vez ao dia, estas palavras na oração do Pai-Nosso: “seja feita a Vossa vontade, assim na terra como no céu”. Nossos lábios pronunciam tantas vezes aquilo que na vida temos grandes dificuldades de vivenciar. Não é fácil fazer em nossa vida o que é a vontade de Deus. Neste sentido, o que é a vontade de Deus em nossa vida? Como não cairmos de um lado, pensando que tudo que acontece conosco é da vontade de Deus e por outro, nada aceitar como sendo da vontade Daquele que nos criou e sustenta nosso existir?
Aquilo que é fruto da maldade humana penso ser contrário à vontade de Deus. Deus não compactua com o mal que vem muitas vezes elaborado pela criatividade humana. Os roubos, as injustiças, as fofocas que destroem relações, a inveja que move alguém a interferir nos sonhos e nos projetos de alguém, não é da vontade de Deus.
Somos, por outro lado, passíveis de sofrermos porque somos humanos, criaturas. Não somos isentos ao sofrimento. Nossa carne é frágil, suscetível a dores, enfermidades. Criamos expectativas, e muitas vezes, podemos nos decepcionar em relação ao que esperamos dos outros. Gostamos de esperar muitas vezes, o que os outros não tem condições de nos dar. Gostamos que os outros muitas vezes, sejam como produtos que chegam até nós como chega até nós uma encomenda: dentro das medidas, do peso e conforme solicitamos ao encomendar o produto. Ninguém é uma encomenda! Não espere isso de ninguém!
Que seja feita em nossa vida a vontade de Deus! Mais uma vez ressoa uma velha palavra quando repetimos essa frase do Pai-Nosso: abertura! O ser humano deve abrir-se sempre para a vida. Deus age através da vida, isto é, dos fatos, das pessoas, daquilo que acontece ou deixa de acontecer. Não viver no eterno medo do desconhecido; mas aí é que está justamente nosso ponto fraco: temos sempre medo do desconhecido. O amanhã é sempre desconhecido. Só temos certeza daquilo que vivemos. Contudo, não caminhamos para um caos, um vazio. Paulo, na Carta aos Romanos, nos assegura que “todas as coisas concorrem para o bem dos que amam a Deus” (Rm 8,28).
Ter abertura para o novo e humildade para saber sempre recomeçar: eis algo bem importante para nossa vida. Saber aprender com as experiências negativas e agradecer por aquilo que foi bom pode nos ajudar a não sermos exigente demais com a própria vida. A vida tem altas e baixas, afinamos e desafinamos com facilidade, nem por isso Deus nos deixou de lado. Importa fazermos o melhor que podemos, dando o máximo daquilo que somos e sabemos, com consciência que os erros, os acertos, as frustrações são componentes da vida, podem nos ajudar a amadurecer.
Fazer a vontade de Deus é estarmos tomando conta daquilo que devemos cuidar; trabalhando como Deus quer que trabalhemos, amando como Deus quer que amemos, rezando como Deus quer que rezemos, convivendo como Deus quer que convivamos, ou seja, viva como se Deus fosse passar hoje pela sua vida.