“É tempo de encerrar um ciclo e abrir outro”

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Moacir Beggo

Vila Velha (ES)Esta edição da Festa da Penha marca a despedida do guardião do Convento, Frei Valdecir Schwambach. Depois oito anos trabalhando pela evangelização em terras capixabas, ele vai assumir a missão de pároco da Paróquia São Francisco de Assis, na Vila Clementino, em São Paulo.

Nesse tempo, o povo conheceu um jovem frade que soube fazer do seu ministério um serviço. Hoje, ele deixa o Convento como um ‘veterano’ guardião, que soube guardar e zelar pelo legado franciscano deixado em terras capixabas por Frei Pedro Palácios.

Natural de Ituporanga (SC), Santa Catarina, onde nasceu no dia 29 de setembro de 1979, Frei Valdecir vestiu o hábito franciscano no Noviciado Franciscano São José, em Rodeio, no dia 10 de janeiro de 2000. Professou solenemente na Ordem dos Frades Menores no dia 2 de agosto de 2005, festa do Perdão de Assis, e foi ordenado presbítero no dia 12 de abril de 2008, em Petrolândia (SC). Frei Valdecir chegou recém-ordenado à Penha em 26 de abril de 2008. Dois anos depois, teve pela frente uma responsabilidade confiada pela Província da Imaculada: ser guardião do Convento. Aos poucos, o Espírito Santo foi sugerindo caminhos e iluminando propósitos, e não faltou luz na condução de sua missão, que é concluída com a certeza do dever cumprido nesta Festa da Penha!
Nesta entrevista, Frei Valdecir fala um pouco de sua experiência no Convento da Penha como guardião. Acompanhe!


 

Site Franciscanos – É visível o carinho do povo capixaba pelo guardião do Convento da Penha. Agora, você é chamado para outro serviço. Como é a sensação de “estar em saída” literalmente?
Frei Valdecir – Depois desses anos todos aqui vividos, estar em saída não é algo simples. Desinstala, arranca muitas raízes, exige morrer para muitas coisas. É tempo de encerrar um ciclo e abrir outro. A gente faz uma ideia vaga do que virá, mas quando efetivamente assumimos o que nos é proposto no novo serviço, percebemos ainda que é tudo diferente. Então, é tempo de expectativa. Não sei ao certo como será, mas proponho-me a recomeçar.

Site Franciscanos- O contato com o povo neste tipo de evangelização em santuários é muito intenso. Como foi esse contato com o povo capixaba e os romeiros de outros estados?
Frei Valdecir – Sempre fui muito bem acolhido pelo povo capixaba. Desde o primeiro dia que aqui cheguei, senti-me em casa. A amizade, a confiança, o conhecimento das capacidades de cada pessoa que se aproximou de mim foi algo construído aos poucos. O guardião do Convento carrega consigo uma responsabilidade muito grande: ele guarda, traduz e entrega para as pessoas o maior relicário do Estado do Espírito Santo, que é o Convento e a devoção à Nossa Senhora da Penha. Por essa responsabilidade atrelada à pessoa do guardião, ele facilmente conquista a confiança, a amizade e o carinho.

Site Franciscanos- Agora, você terá pela frente um serviço evangelizador em uma Paróquia numa grande metrópole como São Paulo. Muda tudo. Como você encara esse novo desafio?
Frei Valdecir – É algo novo. Desde que me ordenei sempre trabalhei neste santuário. O que posso dizer é que encaro o novo trabalho de coração aberto. Não sei exatamente o que encontrarei pela frente. Segue minha vontade em fazer um bom trabalho, caminhando com as pessoas, ajudando onde puder ajudar, aprendendo talvez mais do que ensinando. Como sempre, precisarei da ajuda dos confrades e da ajuda e compreensão das pessoas mais próximas para desempenhar o novo serviço.

Site Franciscanos – Para o povo é difícil entender que faz parte da regra de vida do Frade Menor não se fixar muito tempo em um mesmo lugar. Como explicar isso?
Frei Valdecir – Mudar é uma característica e poderia dizer um dos fundamentos da nossa vida. A itinerância não é algo estranho para nós, apesar de não ser algo fácil de ser vivido, pois criamos identificações e até mesmo apegos. Apesar de ser dolorido, é preciso entender que o nosso claustro é o mundo, como nos lembram os escritos de São Francisco. Ademais, quando somos transferidos não rompemos com o povo e o lugar que nos acolheu, apenas alargamos nossos braços para que entrem outras pessoas em nossa história.

Site Franciscanos – Quais suas expectativas para a Festa da Penha deste ano?
Frei Valdecir – Certamente nesse ano teremos mais uma edição da Festa de Nossa Senhora da Penha marcada pela beleza da fé expressa em cada romeiro que virá à Penha. Espero mais uma vez uma festa cheia de alegria, de encontro, participação, envolvimento das pessoas. Cada ano, durante a festa, que se dá dentro do período pascal, é oportunidade de semearmos e colhermos os frutos da vivência da fé, vividas tantas vezes no silêncio, em casa, no trabalho, nas comunidades. Festa da Penha é sempre a celebração da fé transbordante desse povo que, através de Maria, Mãe e Porta da Misericórdia, chega mais perto de Cristo Jesus, o rosto misericordioso de Deus.

Site Franciscanos – O que você leva de bom para a sua vida deste tempo no Espírito Santo e o que quer esquecer?
Frei Valdecir – Talvez essa seja a questão mais difícil de responder. Levo muitas coisas boas daqui. Aprendi muito esses anos que aqui vivi. Conheci muitas pessoas que são verdadeiras lições de vida. Estar à frente de um santuário, juntamente com uma fraternidade, é algo que nos desafia diariamente. Uma casa de muitos séculos carrega muita história e exigências por vezes bastante pesadas na sua manutenção e conservação. Conheci muitas pessoas interessadas em ajudar e isso facilitou o serviço. Levo de bom a acolhida, a fé, a alegria, que tantas vezes se expressa nos ritmos do Congo do povo capixaba, no sol brilhante, no clima alegre dessas cidades. O povo da cidade e do interior é povo que tem uma fé bonita, muitas vezes herança de família, mas viva, atuante e capaz de contagiar. Que coisa maravilhosa a devoção à Virgem da Penha! Experiência para não esquecer! Como em todos os Estados da Federação, existe a criminalidade, violência doméstica, problemas das drogas, etc. Contudo, isso não é capaz de manchar tantas coisas positivas que por aqui pude encontrar. Só tenho a agradecer.

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