Paz e Bem!
Com apenas 20 anos, nascido em Vila Velha, Espírito Santo, o jovem Lucas Moreira Almeida, é o mais novo frei capixaba. Vocacionado desde os 3 anos de idade, ele sentiu no coração o desejo da vida sacerdotal, o sentimento de uma vida inteira dedicada ao Senhor e o sonho de um dia se tornar um missionário da Boa-Nova de Jesus. Mesmo sem ter no início de sua vida uma participação na Santa Igreja Católica, Lucas levou os pais para a presença de Deus, os ajudou na conversão e manifestou desde cedo o gosto pelos mistérios cristãos. Ele também é músico, cantor, compositor e agora também Frei Franciscano.
Filho de Joel Almeida e de Dulcinéia Moreira, Frei Lucas iniciou a vida franciscana aos 13 anos, quando começou a fazer os encontros vocacionais. Com 14 anos, ele concluiu o 9º ano do ensino fundamental. Aos 15 anos, em 2014, entrou para o Seminário Franciscano, na cidade de Ituporanga, Santa Catarina, lá ele fez o ensino médio e o período do Aspirantado, em seguida, foi para a cidade de Guaratinguetá, São Paulo, onde fez o Postulantado e finalizou a primeira etapa da vida franciscana, no Noviciado em Rodeio, Santa Catarina, onde realizou a primeira profissão franciscana. Após passar férias com a família em Vila Velha, Frei Lucas vai para a cidade de Campo Largo, Paraná, onde vai iniciar o primeiro ano da faculdade de filosofia. O objetivo do jovem é ser ordenado sacerdote e seguir os exemplos de São Francisco de Assis. Ele conversou com o repórter Cristian Oliveira, do site do Convento da Penha e contou um pouco sobre a sua vocação, seus estudos, sua vida e sobre a igreja.
Confira abaixo a entrevista e assista o vídeo completo.
CONVENTO DA PENHA: Como você descobriu, aos 3 anos, o desejo de se tornar um sacerdote?
FREI LUCAS MOREIRA: Tudo começou ainda quando criança… Meus pais foram católicos, venho de família católica, mas minha mãe, meu pai, por influência da minha avó materna começaram a ir com ela em uma igreja evangélica, e nessas idas, ouvindo a pregação do pastor, ouvindo as pregações, aquilo que as pessoas conversavam, senti-me no coração a pergunta: ‘qual é a igreja que eu fui batizado?’, perguntei aos meus pais e eles responderam que eu não havia sido batizado naquela igreja e mas batizado na Igreja Católica. E aí, desde então eu comecei a questionar porque estávamos indo naquela igreja e não na igreja onde eu havia sido batizado. Depois de algum tempo, meus pais mudaram-se para o bairro de Cobilândia, Vila Velha, e tocava-se o sino, nos domingos de manhã, para a Celebração da Missa, mais uma vez questionei eles sobre o sino, o som, a música que chamava o povo domingo de manhã, para a Missa, e eles responderam justamente que era o sino da igreja onde eu tinha sido batizado. Desde então, sempre quis que me levassem naquela igreja. A partir daquele momento, eles me levando para a Igreja, eu manifestei o desejo, com aproximadamente 3 anos eu manifestei o desejo que eu queria ser padre.
CONVENTO: A música sempre esteve presente na sua vida, inclusive você também é músico. De que forma a música te ajuda a estar dentro da fé cristã?
FREI LUCAS: Eu considero a música como a perfeição da arte. Naquilo que nós podemos expressar do belo, do transcendente, daquilo que é fora do nosso material, a música é aquilo que mais perfeitamente a gente consegue expressar, da nossa poesia, do nosso querer.
“A música me aproxima de Deus porque ela consegue me elevar, me deixar mais próximo de Deus pela arte, por aquilo que é uma construção humana, que consegue passar uma ideia, um objetivo.”
CONVENTO: Como foi o início da sua vida franciscana, com qual idade você decidiu seguir a vida franciscana?
FREI LUCAS: Nesta sede por ir à igreja sempre, nos domingos, naquela igreja lá em Cobilândia onde tocava o sino, eu questionei minha mãe e procurei ir mais vezes na igreja e queria um lugar onde tivessem mais missas e aí ela recordou daqui do Convento da Penha, lugar onde eu havia sido consagrado à Nossa Senhora logo nos meus primeiros dias de vida. Recordando o fato e das missas diárias, aí comecei a vir e a participar. Comecei a ajudar na música, na liturgia e nas missas no Convento. Depois de um tempo, participando das celebrações, ajudando nas missas, etc, o Convento passou a ter um peso muito grande na minha decisão. A vida dos frades me cativou, principalmente porque viviam juntos, viviam em mais de uma pessoa, não igual ao padre da minha paróquia que vivia sozinho, mas eram vários irmãos que compartilhavam e queriam algo em comum, uma vida simples, uma vida desapegada e a vida franciscana do Convento começou a chamar minha atenção. Por volta dos 12, 13 anos, comecei a fazer os encontros vocacionais, com o desejo do sacerdócio no coração e agora esse chamado, esse diferencial que foi a vida franciscana, e me fez optar pelo sim e me lançar para essa busca que continua. Essa vida simples, desapegada, convivência com o povo, atendimento no santuário, as missas, as confissões…
CONVENTO: Quais principais desafios você já vivenciou?
FREI LUCAS: Posso dizer de uma dificuldade e a partir dela surgiram outras, que é a diversidade de vocações na Igreja. Existe a vida apostólica, a vida contemplativa, a vida presbiteral, a vida de leigo, a vida religiosa… Dentre várias opções, qual aquela opção que eu deveria obedecer a voz de Deus, em qual carisma eu deveria entrar de cabeça, me lançar? Então, essa foi a principal dúvida, o principal questionamento e isso foi perpassando a nossa vocação.
“Além de ter certezas, a gente deve, acredito que isso ajuda a superar as dificuldades, a gente não consegue ter uma certeza absoluta, nem quando falamos de Deus, nem quando falamos da Igreja. O que está em jogo é fé e algo que pode ser provado, não supõe fé, supõe certeza. E como não temos certeza, temos fé. A partir de uma identificação, de um coração que pulsa, um impulso que te leva, a querer vir, a querer obedecer a voz de Deus, a gente se lança, então me lancei nessa vocação franciscana e reconheço o chamado de Deus por aquilo que Ele me atrai nessa vida, pelo coração que Ele me faz arder todos os dias. Deus vai sustentando a gente com a graça… “
CONVENTO: Quais as expectativas você espera viver pela frente?
FREI LUCAS: Quero, no meu coração, com a ajuda de todos, conseguir chegar no fim da minha vida e dizer que tudo valeu a pena. Eu quero com a graça de Deus, obedecendo as nossas regras, obedecendo as leis, que nos favorecem a vida franciscana, obedecendo as leis da Igreja que nos favorecem a vida cristã, chegar no fim da vida e dizer:
“Pai em Tuas mãos entrego-me, entrego-me de todo coração, assim como fui fazendo ao longo da minha vida. A fé deve sustentar isso até o final da nossa vida. Se a gente deixa esfriar, se a gente não cultiva dia-a-dia a nossa fé, a gente não consegue chegar ao final e dizer como Jesus…”
CONVENTO: Já pensou que sua vocação pudesse ser pai, por exemplo?
FREI LUCAS: No processo da vocação, principalmente na vida de seminário, na vida dentro do Convento, a gente vai reconhecendo também as nossas limitações e vai vendo, por exemplo, uma vida de família eu não conseguiria por conta disso, disso, daquilo, mesmo que haja afeições, uma identificação, por menor que seja, isso a gente coloca em dúvida, e a gente vai se conhecendo. ‘Não seria capaz de amar apenas uma pessoa, totalmente. Quem é religioso é chamado a amar todas as pessoas e não consegue conceber sua vocação dentro de uma casa, de uma família, é mais amplo, mais aberto. Isso é dom de Deus para cada um.
“Aqueles que conseguem ter uma vocação familiar, é graça de Deus e deve ser cultivado. Aqueles que não têm, que se identificam com outro jeito de vida, é graça de Deus. Porque diversidade são os ministérios e serviços, como diz São Paulo aos Coríntios, mas um é o Espírito. O que importa é estarmos em função de Deus na igreja…”
CONVENTO: Como descobrir o dom que Deus dá, a vocação?
FREI LUCAS: A gente só consegue um maduro discernimento vocacional, na oração e na meditação. A gente não vai conseguir no dia-a-dia, na correria da nossa vida, cheio de aplicativos no celular, a todo momento, 24h, discernir a nossa vocação, porque no mundo de hoje há uma grande dificuldade de olhar para si. É complicado fazermos um sadio discernimento com tanto “barulho ao nosso redor”, a gente precisa sim ter uma oração eficaz. Aquele que está na busca pela sua vocação, deve sempre estar em oração. Deve ser um homem, uma mulher de oração, uma oração sadia, que dá para escutar a voz de Deus…Quietar uma hora do seu dia, conseguir ouvir a voz de Deus, conseguir olhar para si. É preciso se desligar um pouco do mundo, é preciso ter um coração que busca a Deus não só aparentemente, mas que consegue se desligar, consegue abstrair da realidade e olhar apenas para Deus, por minutos que seja.
Assista abaixo a entrevista completa