No fachada da Basílica de São Pedro, no Vaticano, a foto da primeira santa nascida no Brasil. Sua canonização acontece no momento em que Francisco, o papa das periferias, convoca o mundo a olhar para uma das regiões mais esquecidas do Brasil, arrasada pelo “fogo da ganância que destrói”, como disse o pontífice na abertura do sínodo.
A Amazônia é do Brasil, é de Dulce dos pobres e de todos aqueles que fazem parte dessa casa comum. Dulce entende de casa. Ela ajudou a construir uma que também se tornou casa de todos, em Salvador. Papa Francisco, por sua vez, também ajuda a construir e reconstruir casas. É o que ele quer fazer com a Amazônia.
Não à toa, Dulce dos pobres é declarada santa no momento em que parte do Brasil se reúne em Roma pela causa dos necessitados da Amazônia. A Igreja em saída que não se detém na segurança de suas fortificações, mas vai ao encontro de quem ainda não se sente parte dessa casa.
O postulador da causa de canonização da santa baiana atribui a escolha da data a “um movimento da providência divina”. Mas para nós, que acompanhamos essa reunião de bispos esses dias, sabemos o quanto essa celebração é dotada de uma força que vai além do aspecto divino: santifiquemos quem não se esquece dos pobres.
As postuladora da causa de canonização, em encontro com jornalistas nesta sexta-feira (11), se emocionou ao falar que irmã Dulce jamais imaginou receber a honra dos altares. E sua foto estará lá, no alto do templo que representa o centro da fé católica, para quem quiser ver. Os holofotes não são para Dulce, mas para seus pobres.
“A canonização da irmã Dulce como primeira santa brasileira nos mostra a universalidade da causa que ela defendia e manda um recado de que o amor precisa ser multiplicado. […] Em todo lugar, não só na Bahia, é preciso lembrar que o poder não está no dinheiro, o poder está no amor”.
Dulce é tão simples, que faltam palavras para descrevê-la. A quantidade de pessoas que foram tocadas por ela é imensa. Todos os dias, nos surpreendemos com os testemunhos que chegam. Paulo Coelho, Roberto Carlos: todos foram tocados por esse cristianismo que dá a vida.
No sínodo que caminha para a conclusão de sua primeira semana, cristãos que se mobilizam contra os estereótipos. “Selvagens, preguiçosos, oportunistas” nunca foram palavras do vocabulário de Jesus. Que o sínodo nos ensine que a Igreja é de todos. Dulce era dos pobres, era de todos, era da Igreja.
Por Mirticeli Medeiros, publicado em domtotal.com