Frei Valdecir Schwambach
Chegamos novamente no tempo do Advento. Algumas figuras, ou imagens, nos acompanharão durante este tempo em vista do Natal. O Profeta Isaías, João Batista e a Virgem Maria nos acompanharão neste tempo, conduzindo-nos até o Natal do Senhor. Cada um deles tem a sua característica e a sua forma de iluminar o tempo do Advento. Gostaria de me deter sobre um pequeno texto do profeta Isaías.
Logo no início do Advento, lemos um texto do Antigo Testamento: “O lobo e o cordeiro viverão juntos e o leopardo deitar-se-á ao lado do cabrito; o bezerro e o leão comerão juntos e até mesmo uma criança poderá tangê-los. A vaca e o urso pastarão lado a lado, enquanto suas crias descansam juntas; o leão comerá palha como o boi; a criança de peito vai brincar em cima do buraco da cobra venenosa; e o menino desmamado não temerá pôr a mão na toca da serpente” (Is 11,7-8).
Eis um texto profético. Praticamente um poema, porque fala de realidades mais profundas do que as ditas na materialidade de suas palavras. São palavras que nos convidam a descer a uma realidade mais profunda e ao mesmo tempo mais elevada, remetendo-nos à utopia de uma humanidade reconciliada. Na imagem dos animais inimigos, a mensagem de um mundo novo possível, onde os diferentes, sem perder as características de cada qual, no esforço cotidiano para a manutenção da vida, conseguem conviver harmonicamente.
O lobo não deixa de ser lobo, nem o cordeiro perde sua identidade de cordeiro. Contudo, a tendência para gerar o dano, o mal, a morte em cada um, são abaixadas para que na diferença, seja possível o convívio, a integração e a vida possam fluir. A vida é o bem maior, que a todos identifica e a todos coloca sob uma mesma condição: dependentes do grande Outro, a quem nós chamamos Deus, e um Deus que se fez humano para dizer que esta vida vale a pena!
Trata-se de uma cena paradisíaca. Faz-nos lembrar do paraíso relatado no livro do Gênesis. Uma criação reconciliada consigo mesmo, onde Deus e a humanidade como que coabitavam num mesmo jardim, sem haver expulsão ou um ter de se esconder do outro por medo ou vergonha. Imagens que tratam dos nossos desejos mais profundos: viver reconciliados com todas as coisas.
O ser humano é um ser “a caminho”. Assim já o disse Guimarães Rosa: “… o mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas – mas que elas vão sempre mudando. Afinam ou desafinam, verdade maior. É o que a vida me ensinou. Isso que me alegra de montão”.
Enquanto humano for algoz do humano, o sonho do profeta ainda não se reconciliou. Teremos muita estrada para percorrer. Não podemos, no entanto, desanimar nem deixar de fazer a tarefa de nos humanizar e divinizar com o passar do tempo. Lendo a vida e o tempo que passa, o poeta assim falou: “As coisas mudam no devagar depressa dos tempos”. Tempo de esperança, sempre! Bom Advento a todos!