Frei Valdecir Schwambach
Começo esta mensagem de Advento com uma passagem do profeta Isaías: “O lobo será hóspede do cordeiro, a pantera se deitará ao lado do cabrito; o bezerro e o leãozinho pastarão juntos, e um menino os guiará; pastarão juntos o urso e a vaca, e suas crias ficarão deitadas lado a lado, e o leão comerá capim com o boi. O bebê brincará no buraco da cobra venenosa, a criancinha enfiará a mão no esconderijo da serpente” (Is 11,6-9). Bastante estranho para nós esta visão em que animais ferozes e mansos, incluindo ingênua criança convivem em plena harmonia.
O profeta existe para anunciar; cria sempre uma utopia. Como alguém já escreveu, a utopia não é aquilo que é impossível de acontecer, mas algo que está sempre por acontecer, é o ainda possível, o esperado.
Isaías anuncia, através destas imagens controversas, a possibilidade da reconciliação, de uma convivência mais harmônica entre toda a criação. A fera que mais dificilmente convive com o diferente, infelizmente, parece tratar-se do próprio ser humano. Ele, que diferente dos demais animais que seguem o instinto de defesa e sobrevivência, mata pela vingança, para explorar e roubar; isto é, o mesmo ser humano criado para cuidar da criação toda, é o único que tem o poder de destruir tudo o que está aos seus cuidados; pode cuidar da vida ou acabar com a vida.
Carregamos esta grande dualidade dentro de nós: podemos cuidar ou podemos matar; amar ou odiar; cuidar dos ferimentos ou ferir; derrubar ou ajudar a levantar; podemos buscar a paz ou viver em constante conflitos, a começar pelos conflitos pessoais, familiares, etc. Só o ser humano tem o poder de reparar as injustiças disseminadas no mundo que ele mesmo criou… pobreza, miséria, fome, mortes…
Advento é tempo do novo! É tempo de acreditar no sonho do profeta. Aquilo que é utópico não é irreal, é o desafio que a vida nos impõe para que progridamos nos nossos sentimentos humanos que se elevam para o espiritual. Cada um de nós tem um longo caminho a percorrer para amansar as dimensões “conflitivas” que por vezes geram mau estar e impedem que realmente o Natal aconteça como momento de confraternização e nascimento da criança terna, pura e acolhedora dentro de cada um de nós.